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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 7 - 30 de Maio de 2007

REJANE DE SANTA HELENA
rejane@aon.at
Viena, Áustria

Medo

Por que temos medo? Como ele se instala e influencia nossas vidas? Como combatê-lo?

O medo é um sentimento de grande inquietação quando estamos diante de um perigo real, um perigo imaginário ou uma ameaça. É portanto um sintoma proveniente da insegurança em face de certas situações da vida.

É natural que alguém que não saiba nadar tenha medo de se afogar; é o medo natural decorrente do instinto de sobrevivência. Outros medos são o medo de perder o emprego, de perder um ente querido, de fracassar, e a insegurança do terrorismo internacional, das catástrofes da natureza (tsunamis, tornados, avalanches de neve, etc.), das doenças e epidemias que varam o mundo (gripe asiática, ébole), dos acidentes de avião, de carro, etc.

Fatores sociológicos e econômicos

Nossa sociedade promete muito ao indivíduo, mas na realidade não lhe oferece nada mais que ilusões. A sociedade tecnológica compele o indivíduo a querer ter cada vez mais, a adquirir bens materiais, esquecendo-se dos bens verdadeiros - os bens morais e éticos.

A sociedade competitiva e eticamente egoísta onde vivemos e as conseqüências desastrosas desta maneira de viver geram insegurança emocional que induz no indivíduo o medo. Este medo manifesta-se de diversas formas devido a pressões psicológicas, fatores sociológicos e impositivos econômicos da sociedade atual.

Por exemplo, um comercial de televisão promete o sucesso imediato e o amor àqueles que adquirem o carro do ano, ou que fumam o cigarro da marca X, ou bebem a cerveja da marca Y, no bar famoso e entre gente bonita, que sorriem e alegram o ambiente e o visual. O espectador, homens, mulheres e crianças do mundo, e não do sonho televisivo, está em sua casa, nem tão bela, nem tão confortável, numa situação diferente do ideal televisivo. O espectador, então, compara e deseja. E sai em busca do sonho...

O mundo oferece e pede que se entre na competição para adquirir o carro do ano e o sucesso, a mulher ou o homem jovem e atraente, a casa agradável, a família perfeita!

O indivíduo reage a esta expectativa de obter, de adquirir, de forma contraditória. Por um lado, quer competir, por outro lado tem medo de fracassar. Assim, "vivem as festas furiosas, as extravagâncias de conduta, os desperdícios de moeda e o exibicionismo", esperando vencer o medo íntimo e seus desafios internos e externos. Outros descambam para a delinqüência e para as drogas. Procuram rapidamente obter o que a sociedade oferece, gerando uma onda de violência urbana e de vícios.

Deste modo, uns vivem a loucura da delinqüência, dos vícios, das drogas, do materialismo exagerado e suas variadas manifestações, enquanto outros vivem isolados, buscando proteger-se e proteger sua família, emparedando-se no lar ou em clubes fechados, onde se sentem protegidos e seguros.

Exagero? Certamente não. Basta observar.

Nesta sociedade alucinada pelo ter e não pelo ser, o medo instala-se nos "temperamentos frágeis, nas constituições emocionais de pouca resistência, de começo no indivíduo, depois na sociedade"1. Por isso, segundo a mentora espiritual Joanna de Ângelis, "esta é uma sociedade amedrontada". "O excesso de tecnologia gerou ausência de solidariedade humana, que provoca uma avalanche de receios."

É no Espírito que estão as causas do medo.

Embutidos nos fatores sociológicos e econômicos, vamos descobrir os fatores psicológicos oriundos do ser espiritual, pois é no cerne do ser – o Espírito – que se encontram as causas do medo.

O medo procede de experiências passadas, de reencarnações malsucedidas ou fracassadas. Assim, o medo pode advir da culpa não liberada, em face de o crime haver permanecido oculto ou não justiçado, mas permanecendo na consciência do ser para posterior reparação. O medo pode ser ainda decorrente de grande impacto negativo no âmago do ser, como planos maquiavélicos, traições infames com disfarçado sorriso, que geram a atual consciência de culpa e os problemas de relacionamento.

O medo de enfrentar os seus problemas e resolvê-los impele as pessoas a conectarem-se com outras mentes desencarnadas que lhes inspiram e sugerem a fuga através das drogas, da bebida, do cigarro, do comportamento exagerado.

O medo de não fazer parte da sociedade dos "ganhadores" impele a chamar a atenção, através do comportamento e roupas exóticas e espalhafatosas.

O medo e a frustração de não ter levam ao crime.

O medo de não ser amado leva a buscar amor. Como não conhece o amor verdadeiro, busca-o na troca constante de parceiros, e até na prostituição.

O medo gera desorganização emocional e psíquica, gerando doenças por somatização destes fatores.

E então, como combater o medo? Como evitá-lo?

Novamente, vem-nos esclarecer a mentora espiritual Joanna de Ângelis quando diz que o antídoto para o medo são as informações trazidas pelo Espiritismo: a certeza da reencarnação, a certeza de que estamos realizando experiências, praticando para aprender melhor e de que a vida terrena não é mais do que um longo dia perante a eternidade real da vida do Espírito.

O combate ao medo faz-se através da fé aliada "a terapia oferecida pelo trabalho fraternal, o culto doméstico do Evangelho, o pensamento de otimismo e o recolhimento na oração, juntamente com o uso da água magnetizada e do passe."

Com a certeza da imortalidade, construímos a nossa fé sólida e firme. A fé na vida eterna, a certeza de que somos filhos de Deus, pois Ele nos ofereceu a dádiva da vida, traz-nos a confiança de que "O Senhor é meu pastor, nada me faltará", pois o bom pai nada deixa faltar aos seus filhos!

Através do trabalho solidário e fraternal, aprendemos a entender as dores e angústias dos nossos companheiros, a ter compaixão, e finalmente a amar verdadeiramente.

O culto do Evangelho no lar educa nosso Espírito nas verdades divinas e ensina-nos a agir e tomar atitudes moralmente éticas e cristãs. É o Evangelho de Jesus que nos traz lições de otimismo vivo, o fator psicológico capaz de renovar nossos padrões de comportamento, impedindo que o medo, a depressão e angústia se instalem.

É a entronização do otimismo, oriundo da confiança de que, se hoje uma porta se fecha, amanhã outra se abrirá. Assim, se hoje perdemos o emprego, ou o amigo não nos reconhece mais, amanhã outras oportunidades surgirão, outros amigos estarão presentes. E o dínamo gerador deste otimismo é a fé. A fé clara, raciocinada, porque baseada na certeza da vida espiritual e no amor que tudo dignifica.

A freqüência ao Centro Espirita esclarece nossa mente e a mente daqueles Espíritos que nos acompanham. Educamo-nos e educamos outros, que por afinidade conectam-se a nós.

A água fluidificada e o passe são os bálsamos espirituais que auxiliam a cura e fortalecem o nosso Espírito, quando embrenhado na luta para se conhecer, para se autodescobrir.

Assim quando o medo tentar tomar conta de ti, pensa que estás encarnado na Terra para triunfar. O triunfo, no entanto, não está nos aplausos ou nas luzes da ribalta, nem nos sucessos mundanos, que cegam o coração e a mente. O triunfo é sobre ti mesmo, e para consegui-lo é preciso lutar. Portanto, ora e pede orientação do Amigo Maior, que é Jesus; deixa os receios e expulsa o medo, para que possas agir com dignidade. E, se a situação for tão aflitiva que não vês saída, confia e segue em frente com alegria, pois a vida eterna está à tua frente, e jamais estará só aquele que contribui para a construção do reino de amor e paz.

1 Divaldo Pereira Franco e Joanna de Ângelis (Espírito): O Homem Integral.
2
Divaldo Franco e Joanna de Ângelis: Florações Evangélicas.

N.R.: A Autora é engenheira elétrica e nuclear, com mestrado em Engenharia Nuclear, e reside em Viena, Áustria, desde 1989, quando iniciou seu trabalho na Agência Internacional de Energia Atômica. No meio espírita, é vice-presidente da Sociedade para Estudos Espiritas Allan Kardec, de Viena, instituição em que atua desde a sua fundação.


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita