WEB

BUSCA NO SITE

Página Inicial
Capa desta edição
Edições Anteriores
Quem somos
Estudos Espíritas
Biblioteca Virtual
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English Livres Spirites en Français  
Jornal O Imortal
Vocabulário Espírita
Biografias
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English Livres Spirites en Français Spiritisma Libroj en Esperanto 
Mensagens de Voz
Filmes Espiritualistas
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English    
Efemérides
Esperanto sem mestre
Links
Fale Conosco
Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 51 - 13 de Abril de 2008

DAVILSON SILVA
davsilva.sp@gmail.com
São Paulo, SP (Brasil)

Aos rebeldes, o látego
e o freio da espora

Resposta a uma leitora
 
 

De quando em vez, tenho recebido carinhosas manifestações de leitores sobre os textos assinados por mim, o que me deixa muito feliz e grato, aumentando a responsabilidade de repassar cada vez mais e melhor os conhecimentos da Doutrina Espírita, doutrina de Jesus por excelência.  

Bem. Nosso texto é do tipo “resposta ao leitor”, como se nota, fugindo ao estilo lacônico, característico desse propósito. O gancho, ou motivo, deste artigo, veio de uma leitora, chamada Bruna Buzzo, sem ela ter dito de onde procedia, cuja sua correspondência é datada de janeiro deste ano. A nossa legente pareceu-me sobremodo aflita, segundo ela, por causa de “uma frase, apenas uma” que consta de um tema de O Evangelho segundo o Espiritismo. Em seguida, o motivo de sua preocupação, expressado nas argutas e interessantes indagações, aliás, bem escritas, através do e-mail a mim redigido:  

"Como é que Allan Kardec, considerado pelos espíritas 'o bom senso encarnado'  publicou a mensagem: Obediência e resignação?! Nela, há uma frase (apenas uma!) que contradiz a do próprio texto e as do capítulo nono (para não dizer as frases de todas as mensagens de capítulos do livro) cujo tema principal é: 'Bem-aventurados os que são brandos e pacíficos'. Essa mensagem consta do item 8, de O Evangelho segundo o Espiritismo. Gostaria que me prestasse uma minuciosa explicação no que Lázaro adverte:  

Ai do espírito preguiçoso, ai daquele que cerra o seu entendimento! Ai dele! Porquanto nós, que somos os guias da Humanidade em marcha, lhe aplicaremos o látego e lhe submeteremos à vontade rebelde, por meio da dupla ação do freio e da espora. (Federação Espírita Brasileira, tradução de Guillon Ribeiro.) 

Infeliz do Espírito preguiçoso, daquele que fecha o seu entendimento! Infeliz, porque nós, que somos os guias da humanidade em marcha, o chicotearemos, e forçaremos a sua vontade rebelde, com o duplo esforço do freio e da espora. (Lake — Livraria Allan Kardec Editora, tradução de Herculano Pires.) 

Ai do espírito preguiçoso, daquele que fecha seu entendimento! Infeliz! porque nós que somos os guias da humanidade em marcha, o atingiremos com o chicote, e forçaremos sua vontade rebelde no duplo esforço do freio e da espora. (Instituto de Difusão Espírita, tradução de Salvador Gentile.)  

Aplicar o látego?!, submeter a vontade rebelde por meio da dupla ação ou duplo esforço do freio e da espora?! Que estranho!! Que 'guia da humanidade” é esse Lázaro?! Será que aqui não se aplica o 'mais vale rejeitar nove verdades do que aceitar uma mentira' , ou, incoerência?..."

Tudo bem. Conforme os modestos conhecimentos doutrinários que creio possuir, primeiro, digo com segurança: as frases traduzidas pelos ilustres e competentes nomes não encerram “contradição” nem “incoerência”. As traduções não “contradizem a do próprio texto e as do capítulo nono  nem “as frases de todas as mensagens de capítulos do livro”, segundo palavras suas, sequer põem em risco a justa afirmativa do célebre astrônomo Camille Flammarion, creditada a mestre Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo.  

O látego, dupla ação do freio e da espora 

Constitui-se, sem dúvida, uma drástica figura que, suscitada pela imaginação, dá ao pensamento intensa veemência. O emprego do “látego”, ou “chicote”, “forçado pela dupla ação, ou duplo esforço, do freio e da espora” significa aquilo que o rebelde e arrogante tomará por “castigo”, ou seja, o chicote e a espora da Lei de Causa e Efeito que freia impulsos grosseiros e vícios dominadores, ou, ainda, aquilo que pode esperar quem faz o bem, e pensa em retorno, mostrando-se indiferente às coisas espirituais, sem dar a mínima à sua reforma moral, conservando-se orgulhoso e egoísta. 

Em outras palavras, essa idéia alude àquilo que os insensíveis ao “bem ao próximo como a si mesmo” devem esperar, às angústias e decepções às quais estão sujeitos os hipócritas, os aproveitadores da credulidade do povo que visam obter lucros, vantagens, poder, incluindo-se criminosos de toda a sorte e todos os que andam errados e preferem seguir no erro.  

Quem foi Lázaro, nada estranho 

 “Que guia da Humanidade é esse Lázaro?” É ele mesmo! Aquele que viveu numa aldeola da Betânia, “amigo de Mestre Jesus”, ao qual os evangelistas se referiram. (1) Lázaro, quando encarnado, era judeu. Levando-se em conta a cultura e a religiosidade dos antigos habitantes do reino de Judá, não há nada de estranho naquelas austeras palavras. Ele existiu numa época em que persistia a concepção de “castigos divinos”, muito embora Jesus tentasse inculcar o pensamento de que Deus não se teme, mas, sobretudo, se ama, e na presença do próximo. 

Note nessa citada mensagem que Lázaro, cujo nome procede da uma forma grega da abreviação hebraica lãzãr — Eleazar (“Deus ajuda”), até desencarnado, não se livrara de antigas idéias. Para a grande maioria das Almas deste mundo é natural. Muitos não se libertam tão facilmente das convenções terrenas após o desligamento do corpo perecível. 

Entretanto, Lázaro, por possuir virtudes comprovadas pelo Mestre, mereceu tomar parte dessa diversificante comitiva sob a chancela do Espírito da Verdade. Como um dos “guias da Humanidade”, preocupado com a nossa obstinação e negligência, ele, tal qual um verdadeiro pai extremamente zeloso, fez uso de uma linguagem drástica com o propósito de despertar-nos dessa infeliz indiferença pelo nosso próprio progresso moral, preservando-nos de maiores e mais sofrimentos. (2)     

Vale salientar de novo quanto a: “Nós, os guias da Humanidade em marcha, lhe aplicaremos o látego, ou chicote, e lhe submeteremos, ou forçaremos, à vontade rebelde”. Conforme (repito) o meu modesto modo de ver, há um outro sentido implícito e, veja, genérico! Nesse trecho, entendo também por nós, os guias da humanidade em marcha, os Espíritos obsessores, os inimigos do passado... Não são eles parte importante do nosso adiantamento? (E como são!) Hoje, entendemos serem os nossos “melhores orientadores”...  

Quer queiram aceitar esse fato, quer não queiram, são os nossos inimigos que, por nos causar sofrimento, compelem-nos a ter humildade, paciência e a reconhecer o valor do perdão sincero, o ponto máximo e sublimado da caridade ao próximo por amor a Deus. Portanto, aquele segmento não quer dizer que o próprio Lázaro sairia por aí dando chicotadas a torto e a direito, a subjugar a vontade rebelde por meio da dupla ação do freio e da espora qual se estivesse amansando um cavalo xucro. Para bom entendedor, um pingo é letra... 

Eis o porquê de Kardec ter publicado a mencionada mensagem de Lázaro, em abril de 1864, na excelente obra, O Evangelho segundo o Espiritismo, Kardec que, para nós, jamais deixará de ser “o bom senso encarnado”. Ninguém, nenhuma doutrina, nenhum sacerdote com ou sem paramentos soube ou sabe explicar, e justificar!, o que a clareza meridiana do Espiritismo explica e justifica. Doravante, prezada leitora, não se apegue de tal maneira a pequenos trechos de linguagem figurada, procure mais se ater à sua essência, estude, faça um curso de Doutrina e, por favor, não sofra tanto.  

Notas:

(1) Para quem quiser ler um resumo biográfico de Lázaro, irmão de Marta e Maria, “ressuscitado” por Jesus, é só acessar o site da Federação Espírita do Paraná, http://www.feparana.com.br, indicação do meu fraterno amigo, o Prof. Edvaldo Kulcheski, de Curitiba, PR, orador e estudioso da Doutrina Espírita além de idôneo pesquisador dos fenômenos mediúnicos.

(2) Essa mensagem foi ditada em 1863, Paris, França. Muitas mensagens de O Evangelho segundo o Espiritismo e das outras obras da Codificação Kardequiana, incluindo-se a Revista Espírita, são dotadas de termos e conceitos tropológicos. É compreensível. Grande parte das dissertações são de autoria de Espíritos católicos quando encarnados.
 

O autor é jornalista, membro-fundador da UDEsp (União dos Delegados de Polícia Espíritas do Estado de São Paulo) e presidente-fundador da Fraternidade Espírita Aurora da Paz (Feap), site www.feap.udesp.org.br, São Paulo, Capital. 


Voltar à página anterior


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita