LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Casamento
e divórcio
“Não perturbeis o que
Deus harmonizou”.
Tudo o que procede de
Deus é imutável no
mundo. Tudo o que
procede do homem está
sujeito a mudanças.
Todas as Leis Divinas
permanecerão sem
modificações, porque são
eternas, enquanto as
leis dos homens não o
são, pois se
transformam, alteram-se,
à medida que o ser
humano evolui. Assim, em
cada lugar e, em
diferentes épocas, essas
leis sofreram, sofrem e
sofrerão modificações,
atendendo às novas
necessidades. Os
ensinamentos de Jesus
nos trazem esses dois
esclarecimentos, mas
também nos dão a certeza
de que, um dia, quando
essas duas leis
caminharem juntas, os
homens serão felizes.
Entretanto, não podemos
prescindir dessas leis,
porque são elas que
regulam o bem-viver; são
elas que estabelecem os
direitos e os deveres de
cada um de nós em
relação aos demais; são
elas que permitem a
convivência social, se
não fraterna, pelo menos
respeitosa; são elas que
regulam os interesses
familiais; e são elas,
por fim, que tiram o
homem do estado de
selvageria para a
civilidade. A lei civil
é útil, necessária, mas
variável, enquanto a de
Deus é eterna e
imutável.
Isso acontece, também,
em relação à união dos
seres, pois os homens
interpretam as palavras
de Jesus, segundo seus
interesses e não segundo
a Lei de Deus. Jesus nos
ensinou que o sentimento
mais elevado que o ser
humano possui é o amor
e, em cada experiência
evolutiva que temos mais
e mais se desenvolvem os
valores morais que as
conquistas espirituais
proporcionam nesse
processo.
Assim, é com o
sentimento que une dois
seres: lentamente, ele
vai-se afastando dos
interesses da matéria,
que envolvem paixões de
todas as espécies, onde
apenas os sentidos o
movem, para um
sentimento verdadeiro
que não une apenas
corpos, mas também
almas. Nenhuma lei
civil, nem os
compromissos que ela
determina podem suprir a
lei de Amor, que deve
presidir uma união, seja
ela qual for. Nenhuma
lei humana obrigará as
pessoas a se amarem,
seja entre cônjuges,
entre filhos e pais,
seja entre aqueles que
convivem em um grupo
mais amplo.
Dessa forma, a afirmação
de Jesus de “não separar
o que Deus uniu” só terá
sentido real se
juntarmos a ela a idéia
de que aquilo que se
uniu à força, isto é,
que não procurou a
satisfação do coração
através do amor
verdadeiro, mas somente
a do orgulho, da
vaidade, da ganância, da
posse, do ciúme, da
carência afetiva, para
se livrar da família,
enfim de todos os
interesses pessoais, de
valores ilusórios, por
si mesmo se separará.
É muito importante que
tenhamos a coragem de
nos perguntar e
responder, com total
honestidade de
propósitos, quais são os
valores que motivam
nossas escolhas
afetivas, porque quando
o móvel dessas escolhas
é outro que não o amor,
não há como sustentar
essa situação.
Estabelecemos, dessa
forma, necessidades
emocionais, sem
consciência e sem
responsabilidade pelas
perdas futuras, que
trarão, mais adiante,
frustrações, desilusões
quando não situações
desesperadoras que podem
levar, até mesmo, a
atitudes criminosas.
Assim, os compromissos
conjugais ou domésticos
que não atenderem os
desígnios superiores, ou
seja, a união pelo amor,
serão corrigidos e
restaurados pelos
princípios que
equilibram a lei divina
no seu devido tempo.
Há mais de mil anos
essas palavras do
Cristo, como tantas
outras, foram
erroneamente
interpretadas ou
interpretadas de maneira
a atender apenas a
interesses econômicos,
políticos, financeiros
ou de poder, e tudo isso
ainda está gravado em
nós, como se não
pudéssemos, sob hipótese
de estar cometendo um
crime perante Deus e a
sociedade, dissolver uma
união infeliz que traz
sofrimento para todos os
envolvidos. Assim é com
o divórcio que separa
legalmente o que já
estava separado de fato.
A idéia de que aquilo
que Deus uniu não se
separa é porque somente
o amor verdadeiro, o
afeto real de alma para
alma, sobrevive à
destruição do corpo, e
esses seres se procuram
e se encontram no mundo
dos Espíritos,
fortalecendo esses
laços.
Isso também acontece no
que diz respeito às
amizades. Se, de um
lado, temos as amizades
interesseiras que buscam
uma aproximação para
usufruir as vantagens
que isso possa
proporcionar em que não
há afinidades,
espontaneidade, cujo
sentimento é superficial
e sem qualquer vínculo
afetivo, do outro lado,
temos as amizades
verdadeiras, que se
fortalecem com as vidas
sucessivas, e que, a
cada oportunidade que se
apresenta, procuram
reunir-se, novamente, no
corpo físico, a fim de
trabalharem juntas e se
fortalecerem no amor,
alegrando-se umas com as
outras pelo crescimento
que cada uma dessas
almas conquistou.
Uma visão bastante
interessante e que deve
ser alvo de nossa
reflexão é a que
Emmanuel traz em Caminho, Verdade e Vida. O Instrutor Espiritual, referindo-se
às palavras de Jesus:
...“Portanto, o que
Deus juntou não o separe
o homem”, alerta-nos
para o fato de que a
palavra divina não se
refere apenas aos casos
do coração, mas vai
além. Corresponde,
também, ao “não
perturbeis o que Deus
harmonizou”.
Assim, por mais duro que
seja o dever a cumprir,
ele constitui sempre a
vontade do Criador e,
para isso contamos com a
nossa consciência,
sentinela vigilante de
Deus, que permanece apta
a discernir o que
constitui obrigação
moral e o que
representa, apenas, fuga
disfarçada desse
compromisso.
“O Pai criou seres e
reuniu-os. Criou
igualmente situações e
coisas, ajustando-as
para o bem comum. Assim,
quem desarmoniza as
obras divinas deve
preparar-se para a
recomposição”. (2)
Na Terra, hoje, existem
milhões de criaturas em
serviço restaurador por
haverem perturbado, com
o mal, o que Ele
estabelecera para o bem.
“Às vezes, é possível
perturbar-lhe as obras
com sorrisos, mas
seremos,
invariavelmente,
forçados a repará-las
com suor e lágrimas”.
(2)
Bibliografia:
(1) Kardec, Allan. O
Evangelho segundo o
Espiritismo. Lake,
Capítulos 22 e 17, item
7.
(2)
Emmanuel (Espírito). Caminho Verdade e Vida, [psicografado por] Francisco Cândido
Xavier. FEB Editora, 17
ed., Rio de Janeiro: RJ,
Lição 164.
(3)
Joanna de Ângelis
(Espírito). Jesus e o
Evangelho à Luz da
Psicologia Profunda,
[psicografado por]
Divaldo Pereira Franco.
1 ed., LEAL Ed., p. 163.