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Estudando a série André Luiz
Ano 1 - N° 50 - 6 de Abril de 2008

MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)  

Obreiros da Vida Eterna
André Luiz
(6
a Parte)

Damos continuidade ao estudo da obra Obreiros da Vida Eterna, de André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1946 pela editora da Federação Espírita Brasileira, a qual integra a série iniciada com o livro Nosso Lar.  

Questões preliminares

A. Que erros de Domênico vieram à tona graças à clarividência da enfermeira Luciana?

R.: Primeiramente Luciana descreveu uma cena ocorrida em certa noite fria, em que Domênico penetrava um lar honesto, cego por sentimento menos respeitoso para com alguém que lhe ouvira palavras de sedução e malícia. O padre estava sem a batina escura e a mulher cedia a suas promessas. Em seguida, Luciana viu uma mulher chegando ao presbitério em noite tempestuosa. A pobrezinha chorava e rogava auxílio. Ela confiara excessivamente nas promessas do padre e cedera aos seus caprichos de homem vulgar. A princípio acreditou que não adviriam desagradáveis conseqüências. Mas, agora, anunciava-se um filhinho. Quem a socorreria? quem lhe restauraria a paz familiar? Não seria melhor a legalização dos laços existentes? Domênico escutara as rogativas sem nenhum abalo moral. Com a frieza dos homens de fraseologia brilhante, invocou o dever sacerdotal como justificativa da impossibilidade e, por fim, propôs-lhe a conciliação do problema com um casamento apressado entre a vítima e o último dos seus servos. A infeliz soluçava convulsivamente e naquela noite, suicidou-se, ingerindo grande dose de formicida. Na seqüência, Luciana viu uma cena em que o pai de Domênico, também desencarnado, o contemplava com desespero e enternecimento simultâneos. Ele reclamava certa escritura que o filho não apresentara. O velho não fora pai apenas de um sacerdote e de outros filhos que honravam o seu nome. Tivera aventuras diferentes e possuía alguns filhos, nascidos a distância do lar, e não desejava partir sem legitimá-los devidamente. Pretendia, além disso, garantir-lhes futuro próspero. No fim do último adeus, o pai lhe reiterara a súplica de amparo constante a certa mulher, cercada de filhinhos que esperavam dele o sustento necessário. Era esse o pedido expresso, que Domênico prometera cumprir, mas não cumpriu, sepultando o testamento recebido do genitor em móvel pesado, com intenções francamente hostis aos propósitos do velho. Surgiu, em seguida, a cena de um velho sacerdote, que deixou a vida física endereçando a Domênico intensas vibrações de ódio. O motivo era trivial: Domênico roubara-lhe, com artifícios e suborno, a paróquia de que o velho padre era titular, conseguindo, mediante gratificação a companheiros altamente colocados, a remoção do adversário para longínqua paróquia de montanha, onde o ancião morreu, intoxicado pela cólera e por reiterados desejos de vingança. Ato contínuo, apareceu na tela mental a figura de determinada mulher, vítima também do poder fascinante e dominador do ex-padre. Certa manhã, ela, já envelhecida e quase cega, bateu à casa do padre, conduzida por anêmico menino de nove a dez anos, a suplicar-lhe auxílio. Ante a frieza da recepção, a infortunada, em palavras sentidas, invocou o passado de leviandades e perguntou-lhe se ele esquecera o filho que lhe colocara nos braços. Chorava, gesticulava, implorava. Lutara heroicamente por manter o filho, à custa de trabalho honesto, mas adoecera, sem qualquer proteção, e ali estava quase cega, implorando socorro... Se pudesse, pouparia ao filho ainda criança a humilhação de conhecer o pai desalmado, mas o menino, vitimado por uma tuberculose, estava à beira da morte. Domênico, insensível, chamou um servidor que, conduzindo cães bravos, obrigou os pobres pedintes a fugir, espavoridos. (Obreiros da Vida Eterna, cap. 7, pp. 93 a 103.)

B. Que efeito teve sobre o ex-padre a recordação de lances de sua última existência?

R.: O efeito foi devastador, tanto que, quando Luciana começou a descrever nova cena, o desventurado Domênico, num grito terrível, desfez-se em lágrimas e exclamou, alucinado de sofrimento moral: – Basta! Basta!... Soluços atrozes lhe rebentaram do peito opresso. Zenóbia comentou: – Domênico melhora, graças ao Nosso Divino Médico. Para o Espírito culpado e sofredor, as lágrimas são também uma chuva benéfica que refrigera o coração. Começou então a doutrinação, feita pelo padre Hipólito, enquanto Zenóbia convocava mentalmente aquela que fora na Terra a mãe do infeliz sacerdote. Hipólito perguntou-lhe inicialmente se ele desejava efetivamente a redenção. Ele não respondeu, mas indagou se existia mesmo a Justiça Divina, anotando as faltas das pessoas. Hipólito lhe respondeu dizendo que trazemos na própria consciência o arquivo indelével dos nossos erros, da mesma maneira que os justos são portadores das notas íntimas que os glorificam diante do Pai Altíssimo. E advertiu: – Cerra, para sempre, meu amigo, a porta do "ego inferior"! Cala a vaidade, o orgulho, a impenitência! Não maldigas. A Igreja que nos reunia, no círculo carnal, é santa em seus fundamentos. Nós é que fomos maus servos, desviando-lhe os princípios básicos para a satisfação de instintos dominadores. (Obra citada, cap. 7, pp. 104 a 111.)

C. A prece proferida por Domênico fez-lhe bem?

R.: Sim. A prece fez-lhe profundo bem. Mais calmo, ele abraçou-se à mãe e perguntou-lhe por Zenóbia, ignorando por completo que a diretora da Casa Transitória estava ali, a seu lado, acompanhando-lhe os mínimos gestos. (Obra citada, cap. 7, pp. 112 a 115.)

D. No lamaçal em que vasta legião de sofredores se encontrava, todos choravam e pediam ajuda?

R.: Não. Ali, embora muitas vozes suplicassem socorro, outras vociferavam blasfêmias, ironias e condenações, recusando até o mesmo a ajuda oferecida pelo grupo socorrista. (Obra citada, cap. 8, pp. 116 a 118.) 

Texto para leitura

37. O passado de Domênico vem à tona - Luciana aproximou-se do infeliz e, depois de fitar-lhe a fronte demoradamente, começou: – Padre Domênico, vossa mente revela o passado distante e esse pretérito fala muito alto diante de Deus e dos irmãos em humanidade! Duvidais da Providência Divina, alegais que o vosso ministério não foi devidamente remunerado com a salvação e imprecais contra o Pai de Misericórdia Infinita... Vossa dor permanece repleta de blasfêmia e desespero, proclamais que as Forças Celestes vos abandonaram ao tenebroso fundo do abismo!... O padre retrucou, mas Luciana insistiu no seu desvio de conduta cristã. Como ele reclamasse das promessas da Igreja, que lhe prometera o Céu, referindo-se à confissão feita, no leito de morte, ao Monsenhor Pardíni, que o havia absolvido dos pecados, Luciana lembrou-o de que seu colega de sacerdócio poderia induzi-lo ao bom ânimo e à coragem necessária ao serviço de reparação futura, mas não conseguiria subtrair-lhe à consciência os negros resíduos mentais dos atos praticados. E ela começou – diante de Domênico calado, sob a vigorosa influenciação magnética de Zenóbia, que o mantinha nos braços – a relatar episódios que estavam vivos na mente do ex-padre. Primeiro descreveu uma cena ocorrida em certa noite fria, em que Domênico penetrava um lar honesto, cego por sentimento menos respeitoso para com alguém que lhe ouvira palavras de sedução e malícia. O padre estava sem a batina escura e a mulher cedia a suas promessas. Um homem, porém, espreitava a ambos. Era o esposo ofendido, que, em dolorosa crise passional, tomado de dor selvagem, arquiteta sua vingança. Num grande empório ele adquire um litro de vinho antigo, por alto preço; depois adiciona ao frasco poderoso veneno, e aguarda o retorno de Domênico ao presbitério, acariciando a idéia de vingança. Noite alta, o padre retorna a casa. O esposo traído, que o aguardava, oferece-lhe o precioso vinho. Minutos depois, ante os gemidos furiosos do sacerdote, o assassino ria-se pronunciando feias palavras de maldição. Chegara ao fim a existência na Terra de padre Domênico, que nem pôde articular sua confissão ao Monsenhor Pardíni, que lhe concedeu, porém, "plena absolvição" de todos os pecados da existência humana, considerando que a um sacerdote reto não se fazia necessária a confissão, no alento derradeiro. (Cap. 7, pp. 93 a 97)

38. Luciana relata o caso da suicida enganada - Luciana continuou a relatar algumas cenas do passado do ex-padre, que, acordando no plano espiritual, parecia estar envolvido em imensa noite. Ele grita, como um cego no primeiro instante de cegueira, mas ninguém o ouve. Fala do crime de que fora vítima, roga providências contra o matador, porém os ouvidos humanos permanecem noutras dimensões. Tenta então fugir, todavia invencíveis grilhões o ligam ao cadáver. Mesmo depois do sepultamento, Domênico continua ligado às vísceras decompostas... Começam então infinitos padecimentos. Sente o tormento da fome, da sede e da dor. É difícil precisar quanto tempo isso durou. Certa mulher já desencarnada visita-lhe o sepulcro, estende-lhe braços horrendos e, sob impressão de pavor, Domênico consegue desatar o laço que ainda o prendia ao corpo disforme, fugindo a praguejar. Aquela mulher fora também vítima de seu poder fascinador. Luciana a vê chegando ao presbitério em noite tempestuosa. A pobrezinha chora e roga-lhe auxílio. Pronuncia palavras de comover corações de pedra, mostrando indefinível desalento. Ela confiara excessivamente em suas promessas, cedendo aos seus caprichos de homem vulgar. A princípio acreditou que não adviriam desagradáveis conseqüências. Mas, agora, anunciava-se um filhinho. Quem a socorreria? quem lhe restauraria a paz familiar? Não seria melhor a legalização dos laços existentes? Domênico escutara as rogativas sem nenhum abalo moral. Com a frieza dos homens de fraseologia brilhante, invocou o dever sacerdotal como justificativa da impossibilidade e, por fim, propôs-lhe a conciliação do problema com um casamento apressado entre a vítima e o último dos seus servos. A infeliz soluça convulsivamente e abandona o local, precipitada, ganhando a via pública, sob a chuva torrencial. Naquela noite, suicida-se, ingerindo grande dose de formicida. No dia imediato, um pai aflito acorre à Igreja para relatar ao padre a triste ocorrência, o qual, disfarçando com dificuldade a emoção, repete textos evangélicos para consolar o amigo confiante, providenciando depois o auxílio de um clínico amigo, que atesta ter sido a morte causada por uma ruptura de vasos do coração. Na verdade, Domênico temia que a família soubesse do motivo real da morte, o que lhe poderia trazer sérios aborrecimentos. (Cap. 7, pp. 98 a 100)

39. Traição, crimes e promessa não cumprida - Luciana via agora uma cena em que o pai de Domênico, também desencarnado, o contempla com desespero e enternecimento simultâneos. Ele reclama certa escritura que o filho não apresentara. A clarividente vê então a noite derradeira em que o moribundo entrega ao filho Domênico grande testamento com suas últimas vontades. O velho não fora pai apenas de um sacerdote e de outros filhos que honravam o seu nome. Tivera aventuras diferentes e possuía alguns filhos, nascidos a distância do lar, e não desejava partir sem legitimá-los devidamente. Pretendia, além disso, garantir-lhes futuro próspero. No fim do último adeus, o pai lhe reitera a súplica de amparo constante a certa mulher, cercada de filhinhos que esperavam dele o sustento necessário. Era esse o pedido expresso, que Domênico prometera cumprir, mas não cumpriu, sepultando o testamento em móvel pesado, com intenções francamente hostis aos propósitos do pai desencarnado. É por isso que aquela entidade o seguia sempre de perto, reclamando, reclamando... Surge, na seqüência, a cena de um velho sacerdote, que deixou a vida física endereçando a Domênico intensas vibrações de ódio. O motivo era trivial: Domênico roubara-lhe, com artifícios e suborno, a paróquia de que o velho padre era titular, conseguindo, mediante gratificação a companheiros altamente colocados, a remoção do adversário para longínqua paróquia de montanha, onde o ancião morreu, intoxicado pela cólera e por reiterados desejos de vingança. Aparece, em seguida, na tela mental a figura de determinada mulher, vítima também do poder fascinante e dominador do ex-padre. Certa manhã, ela, já envelhecida e quase cega, bate à casa do padre, conduzida por anêmico menino de nove a dez anos, a suplicar-lhe auxílio. Ante a frieza da recepção, a infortunada, em palavras sentidas, invoca o passado de leviandades e pergunta se ele esquecera o filho que lhe colocara nos braços. Chora, gesticula, implora. Lutara heroicamente por manter o filho, às custas de trabalho honesto, mas adoecera, sem qualquer proteção, e ali estava quase cega, implorando socorro... Se pudesse, pouparia ao filho ainda criança a humilhação de conhecer o pai desalmado, mas o menino, vitimado por uma tuberculose, estava à beira da morte. Domênico, insensível, chama um servidor que, conduzindo cães bravos, obriga os pobres pedintes a fugir, espavoridos. Em pouco tempo, o menino morre, sem recursos, e a mãe desencarna em pavilhão de indigentes, nutrindo em sua alma o sinistro desejo de vingar-se do desalmado que os abandonara. (Cap. 7, pp. 100 a 103)

40. Domênico recolhe-se no seio materno - Luciana começara a descrever nova cena, quando o desventurado Domênico, num grito terrível, desfez-se em lágrimas e exclamou, alucinado de sofrimento moral: – Basta! Basta!... Soluços atrozes lhe rebentaram do peito opresso. Zenóbia comentou: – Domênico melhora, graças ao Nosso Divino Médico. Para o Espírito culpado e sofredor, as lágrimas são também uma chuva benéfica que refrigera o coração. Começou então a doutrinação, feita pelo padre Hipólito, enquanto Zenóbia convocava mentalmente aquela que fora na Terra a mãe do infeliz sacerdote. Hipólito perguntou-lhe inicialmente se ele desejava efetivamente a redenção. Ele não respondeu, mas indagou se existia mesmo a Justiça Divina, anotando as faltas das pessoas. Hipólito lhe respondeu dizendo que trazemos na própria consciência o arquivo indelével dos nossos erros, da mesma maneira que os justos são portadores das notas íntimas que os glorificam diante do Pai Altíssimo. E advertiu: – Cerra, para sempre, meu amigo, a porta do "ego inferior"! Cala a vaidade, o orgulho, a impenitência! Não maldigas. A Igreja que nos reunia, no círculo carnal, é santa em seus fundamentos. Nós é que fomos maus servos, desviando-lhe os princípios básicos para a satisfação de instintos dominadores. Hipólito lembrou-lhe depois que antigos superiores da Igreja, em grande número, expiavam nas regiões tenebrosas, porquanto honraram, no mundo, não a Deus, mas a si mesmos. Muitos deles aguardavam dias melhores, no fundo de viscosos pântanos; outros imploravam socorro, ansiosos de paz e renovação. – Por que não nos redimirmos também?, perguntou. E convidou Domênico a levantar-se dos próprios erros, para ser útil aos companheiros de outro tempo, reconduzindo-os ao porto de salvação. Mencionou então o exemplo de Jesus, que percorreu a Via Dolorosa, como vulgar malfeitor, sem rebelar-se. Foi então que uma entidade simpática e muito radiante aproximou-se do filho e, ajoelhando-se junto dele, rogou a proteção dos Céus. Fosse pela renovação profunda daquela hora que lhe modificara o padrão vibratório, fosse porque as forças invisíveis de ordem superior manipulavam as energias dos presentes em benefício do infeliz, Domênico, que era cego perante o grupo ali presente, conseguiu enxergar a recém-chegada e, em gritos comoventes, falou: – Mamãe! mamãe!, abrindo os braços ansiosos e procurando o seio amigo. (Cap. 7, pp. 104 a 106)

41. Jesus é o Divino Médico - "Mãe, minha mãe!", gritava o ex-padre Domênico, colando sua cabeça ao tórax inclinado para frente, a fim de melhor fazer-se sentir. "Ajuda-me! Perdoa-me! perdoa-me!" E acrescentou ter sido descoberto pela justiça divina, dizendo-se um réprobo sem perdão, um celerado infernal. Depois, perguntou-lhe se ela era capaz de suportá-lo, quando todos o detestavam. Ernestina aconchegou-o mais perto do coração e falou comovida que o amava com toda a alma e sentia profundas saudades de sua presença carinhosa. Pediu-lhe meditasse um instante sobre a grandeza divina, para certificar-se de que ninguém permanece ao abandono. "O pensamento de gratidão a Deus, dentro das sombras do sofrimento, é como raio brilhante de aurora, preludiando a vitória plena do Sol sobre as trevas densas da noite", disse-lhe a genitora. Depois, lembrou que todos nós também tivemos pedras e espinhos na longa estrada da redenção e que ele jamais se esquecesse de que Jesus é o Divino Médico, recomendando-lhe expressamente aceitar a necessidade de medicação e dirigir-se a Ele na súplica sincera de quem deseja a cura real para a vida eterna. Em seguida, dissertou sobre a importância do trabalho e do esforço no processo de iluminação das almas. Disse-lhe então que nossas existências são dias abençoados de trabalho, em que, ao sol do dever nobilitante e às chuvas da experiência construtiva, desabrocham a crescem nossas faculdades divinas para a Eternidade. Se é verdade que os erros deliberados turvam-nos a consciência, o Senhor jamais nega recursos de retificação aos que lhe rogam socorro, no propósito fiel de reconquistar a harmonia divina. E enfatizou que após a travessia do túmulo, continuamos trabalhando e edificando, iluminando e redimindo... (Cap. 7, pp. 107 e 108)

42. Mãe e filho oram, numa cena comovente - A palavra incisiva e branda da mãe transformava a mente de Domênico, pouco a pouco. E ela prosseguiu advertindo-o amorosamente, para que a recordação dos tempos idos não lhe constituísse obstáculo insuperável à realização de sua transformação moral. "Todos aqueles a quem feriste não desapareceram para sempre. Prosseguem tão vivos, quanto nós" – disse-lhe Ernestina. Assim, ele poderia buscar seus credores, atendendo, no próprio benefício, a exigência do resgate necessário. O êxito pedia, entretanto, um coração ardente na fé viva e um cérebro desassombrado, pronto a compreender o bem e a praticá-lo. Sem a esperança arrojada e sem espírito de serviço, dificilmente ele poderia saldar o débito pesado que prendia seu ser a esferas grosseiras e inferiores. Domênico estava fundamente modificado e, comovido, rogou à sua mãe que não o abandonasse. Ela prometeu estar sempre com ele, mas pediu-lhe que ele também jamais abandonasse a Jesus. Depois, passados longos instantes de silêncio, Domênico começou a dizer das saudades de suas preces em criança, quando a mãe lhe ensinava a ver o Criador do Universo em todas as dádivas da Natureza. Mais tarde, no torvelinho do mundo, ele se perverteria ao contacto dos homens ambiciosos e maus. Ao invés da piedade, passaria a cultivar a indiferença; em lugar do amor fraterno, legítimo e ativo, colocaria o ódio inexorável aos semelhantes... Exibia então a máscara, fugindo às verdades de Deus e fantasiando-se de humanas ilusões. E, em meio a essas reminiscências, rogou à mãe o ajudasse a esquecer o homem cruel que fora. Foi então que Ernestina, bastante emocionada, auxiliou o filho a prosternar-se, amparando-o, porém, com imensa ternura e, em seguida, copiando os gestos das mãezinhas cuidadosas e desveladas, uniu-lhe as mãos em súplica e, chorando para dentro de si mesma, disse-lhe: - "Repete, filho, as minhas palavras". Dito isso, numa cena comovedora, que André Luiz afirma jamais esquecerá, Ernestina orou pausadamente, acompanhando-a Domênico, sentença por sentença: - Senhor Jesus! (Senhor Jesus!) - Eis-me aqui (Eis-me aqui)... (Cap. 7, pp. 109 a 111)

43. Domênico lembra seu amor por Zenóbia - O ex-sacerdote repetiu a oração, frase por frase, qual menino dócil e interessado em aprender a lição. A prece fez-lhe profundo bem. Mais calmo, ele abraçou-se a Ernestina e perguntou-lhe por Zenóbia, ignorando por completo que a diretora da Casa Transitória estava ali, a seu lado, acompanhando-lhe os mínimos gestos. "Zenóbia tê-lo-ia abandonado para sempre?" – indagou Domênico. A mãe disse que não, porque certamente a citada amiga o acompanhava de esfera superior, implorando a Jesus lhe abençoasse os propósitos de redenção. Domênico comentou, então, que se ele e Zenóbia se tivessem unido pelos laços do matrimônio, outro teria sido o seu destino. Ela, porém, desposara outro homem, quando era maior a sua confiança no futuro, compelindo-o ao celibato sacerdotal, de tão deploráveis conseqüências. Zenóbia – lembrou Domênico – era a lente milagrosa através da qual ele sabia ver o mundo noutro prisma. Em sua companhia, ele teria adquirido o dom de ver as oportunidades divinas que lhe cercavam o coração. E confessou que, ao perdê-la, acreditou que a Religião lhe ofereceria refúgio inexpugnável contra as tentações. Foi tudo, porém, um terrível engano! Ernestina afagou-lhe a cabeça, maternalmente, mas exclamou: – "Cala-te, meu filho! Não te presumas o único sacrificado. Se houvesses aceitado a Vontade Divina, o presente ser-nos-ia menos doloroso. Não te estribes em fatos humanos, naturais e necessários, para justificar os desvarios que te precipitaram nas sombras fatais! Zenóbia foi sempre verdadeiro anjo entre nós". E indagou-lhe, com firmeza: "Quem teria sido a maior vítima? O homem jovem e forte, que se recolheu livremente à organização religiosa a facultar-lhe mil processos diferentes na prática do bem, ou a pobre menina forçada pelas circunstâncias da luta terrestre a desposar um viúvo, rodeado de filhinhos aos quais deveria dedicar-se na categoria de mãe?" (Cap. 7, pp. 112 e 113)

44. Domênico parte para a Crosta - Ernestina lembrou-lhe que Zenóbia fora constrangida por situações angustiosas a aceitar um caminho de abnegação contrário aos sonhos da juventude; mas ele, entregue às próprias criações individualistas, não fora fiel aos princípios esposados. Ela perseverou no sacrifício e na fé viva até ao fim, mas ele errou para satisfazer-se a si mesmo, incapaz de acalmar as paixões inferiores que lhe ardiam no peito. Poder-se-ia comparar a abnegação de uma com a insensatez de outro? Domênico concordou com as observações de sua mãe, que, encerrando a conversa, lhe disse, brandamente: – "Compete-nos, agora, avançar para alcançá-la". Nesse instante, embora discretamente, Zenóbia começou a chorar, contemplando o rosto de Domênico, sobre quem estava debruçada. O ex-padre sentiu que gotas quentes do pranto lhe caíam na face e, sem entender o fenômeno, perguntou à mãe quem estaria chorando sobre ele. A benfeitora carinhosa, que a tudo via perfeitamente, respondeu emocionada: – "Os anjos choram de júbilo nas regiões celestes, quando um coração sofredor se levanta do abismo..." O filho dava a impressão de grande alívio. Compreendendo a oportunidade feliz, Ernestina convidou-o a ir com ela para o resgate indispensável, e ambos se retiraram, em direção à Crosta. Irmã Zenóbia mantinha-se transfigurada e ditosa. Enxugando as lágrimas, estendeu ao grupo a destra, em sinal de gratidão e contentamento, antes de regressar para reunir-se aos companheiros que ficaram na retaguarda, próximos do abismo. (Cap. 7, pp. 113 a 115)

45. No vale de treva e sofrimento - A sombra tornava-se de novo muito densa e não se conseguia divisar o recôncavo. Frases comovedoras subiam até o grupo. Dolorosos ais, blasfêmias, imprecações... Parecia que vastíssimo agrupamento de infelizes se rebolcava no solo. Os impropérios infundiam receio; contudo, os gemidos ecoavam angustiosamente na alma dos benfeitores que por ali passavam. Zenóbia aproveitou o ensejo para esclarecer que aqueles padecimentos não se verificavam à revelia da Proteção Divina. Incansáveis trabalhadores da verdade e do bem visitavam seguidamente aqueles sítios, convocando os prisioneiros da rebeldia à necessária renovação espiritual; eles, entretanto, retraíam-se, revoltados e endurecidos no mal. Lamentavam-se, suplicavam e provocavam compaixão. Contudo, raramente alguns deles ouviam o apelo dos benfeitores. Quando retirados compulsoriamente do vale tenebroso, acusavam os protetores de violentadores e ingratos, fugindo-lhes ao contacto e influenciação. A negação deles não era, porém, motivo para qualquer negação de parte dos benfeitores espirituais. Era preciso trabalhar em benefício de todos os necessitados. Dito isso, Zenóbia ordenou e dez cooperadores acenderam focos de intensa luz. Contemplou-se então monstruoso quadro vivo: vasta legião de sofredores cobria o fundo, um pouco abaixo dos pés dos companheiros de André Luiz. A rampa que os separava dos Espíritos sofredores não era íngreme, mas compacto e enorme o lamaçal. Em face da claridade brusca, muitas vozes suplicaram socorro. Outras, contudo, vociferavam blasfêmias, ironias e condenações. Zenóbia recomendou que os socorristas se congregassem num único grupo, para infundir respeito e temor nas entidades perigosas que se misturavam ali aos infelizes. Em seguida, pediu ao padre Hipólito dirigisse apelo geral, em nome do Senhor, às vítimas do infortúnio, para que considerassem a necessidade da transformação íntima. Hipólito abriu pequeno manual evangélico, que carregava consigo, e leu a parábola do homem rico que se vestia de púrpura, em regalada existência, enquanto o mendigo chaguento lhe batia, debalde, à porta da sensibilidade. Após ler, alta e pausadamente, o texto evangélico, destacou a sentença "Lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida", e dispunha-se ao comentário, quando certos gritos blasfematórios chegaram até o grupo, ameaçadores e sarcásticos: – Fora! Fora! Abaixo as mentiras do altar! – Ataquemos de vez o padre! – Estamos bem, somos felizes! Não pedimos auxílio algum, não precisamos de arengas! – Temos aqui o nosso céu! Vão para os infernos!... (Cap. 8, pp. 116 a 118) (Continua no próximo número.)
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita