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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 48 - 23 de Março de 2008

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniamva@yahoo.com.br 
Londrina, Paraná (Brasil)
 

Ouça o chamado do coração

Não podemos desconsiderar o seguinte fato: o desconhecido não é somente o mundo exterior, mas principalmente o que está implicado com o mundo interior. Contudo, o conhecimento sobre si mesmo se define também pelo tipo de diálogo mantido com o mundo exterior, obediente ao processo de interações sociais...  

Logo, é preciso realçar o fato de que a razão deve ser profundamente tolerante às dimensões emocionais, sociais e espirituais, uma vez que a humanidade está sempre sujeita a “novos nascimentos”, pois em contínuo aprendizado e, por isso, o futuro é necessariamente aberto. 

Ainda, todos nós, de alguma maneira, fazemos perguntas relacionadas a aspectos particulares de nossas existências e também produzimos respostas igualmente particulares, extraídas de nossas experiências, pois, na condição de “projetos inacabados”, somos suscetíveis a vários tipos de análise. Basta lembrar que etimologicamente o termo “análise” significa mexer, afrouxar, estar disponível para a auto-atualização.  

No entanto, há certas questões que nos alcançam de maneira mais geral, ou nos angustiam, e que merecem uma atenção redobrada: qual é a vocação de sua vida, o seu “chamado”? E não me refiro aqui somente à sua fonte de sustento. (*) 

Certamente iremos encontrar uma coragem maior para viver caso levemos a sério a responsabilidade para cada um ser quem é – o que pressupõe contribuir (e servir) em sintonia com o próprio manancial de aptidões. 

Insisto nisso porque há duas tarefas que reclamam nossos esforços:  

a) viver a própria vida, o que evidencia o compromisso com a individuação, na expressão utilizada por Jung, ou seja, as tentativas postas em ação para tornar-se um ser diferenciado [dimensão individual]; e  

b) cooperar com a construção de um mundo mais humano, mais solidário, mais ajustado aos princípios do amor e da justiça social [dimensão social].  

Desse modo, caso aceitemos o postulado de que retornamos preparados para a existência neste Planeta, pois dispomos de um prévio programa, simplesmente confiaríamos no fato de que nossas necessidades nos fariam encontrar os meios necessários para o prosseguimento de nosso aprendizado. Com isso, seríamos mais rigorosos com o próprio chamado, ou no mínimo o trataríamos com mais afeto e respeito.  

Então, o que devemos fazer quando tal pergunta se coloca? Dar atenção à vocação, emaranhada na natural necessidade de servir, solicita, em primeiro lugar, ouvir o coração. Baltasar Gracián, o filósofo espanhol, disse uma vez: “Nunca se deve contradizer o coração, pois ele costuma prognosticar o mais importante: é um oráculo pessoal”. (1) 

Nesse encalço, a própria aspiração de um mundo melhor ata-se necessariamente à importância do cultivo do talento que cada um poderá desenvolver e, em conseqüência, ofertar em benefício da coletividade.  

Para isso, qualquer menção à automatização, ou à comparação (imitação), é condenada, pois, em realidade, o que está em jogo é a insistência no desenvolvimento das habilidades pessoais, genuinamente aptas a orientar o existir-fazer com criatividade, perseverança e alegria. 

Ouso ir mais longe. E para me sensibilizar com o significado da vocação, valho-me da ponderação sensata de Emmanuel: 

“Trabalha para o bem geral, mesmo assim, porque o Senhor concedeu a cada cooperador o material conveniente e justo”. (2) 

Material conveniente e justo? Sim, se aceitamos o fato de que trazemos conosco as sementes instrumentais do que “podemos ser-fazer”, na dimensão ligada às aptidões, o que causaria sofrimento? A recusa (ou deformação) ao desenvolvimento e aplicação das próprias aptidões... E essa recusa recrudesce uma pergunta que li uma vez (*) e que considero pertinente para todos nós: 

Se você estivesse sozinho, a mil milhas de distância de qualquer outra pessoa, e estivesse  morrendo, o que seria preciso sentir para você morrer com a sensação de ter honrado suas tarefas? 

Creio que seria preciso que sentíssemos uma coisa: que vivemos nossa vida em sintonia com o chamado do coração...  

Reitero, portanto. O referente existencial que combina talento e responsabilidade pode funcionar e ajudar o caminheiro a realizar, com ânimo e esperança, a sua condição de Espírito em mais uma “experiência corporal”... 

Bibliografia:

(1) GRACIÁN, Baltasar. A arte da prudência: aforismos selecionados. Tradução de Davina M. de Araújo. RJ: Sextante, 2006, p. 67.

(2) EMMANUEL/XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso. 28 ed. RJ: FEB, 2006, p. 29.

(*) Quando me refiro à fonte de sustento, embora entenda o talento também vinculado à condição do exercício do trabalho (profissão), creio que o conceito poderia ser ampliado para além da sua finalidade material, auxiliando na conquista individual de outros aspectos da dimensão emocional, social e espiritual, inter-relacionados.  

(**) A pergunta, corretamente transcrita, se encontra em Fire in the Belly, de Sam Keen, Toronto: Bantam, 1991, p. 158.
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita