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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 47 - 16 de Março de 2008

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniamva@yahoo.com.br 
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A educação do olhar como fator
de mudança qualitativa

O velho Sócrates afirmou os perigos da ignorância e, por isso, preconizou o autoconhecimento como uma das principais metas da vida humana. Desse modo, não é inoportuno ao indivíduo considerar-se como um projeto inacabado, pois é o contínuo vir-a-ser que move a dinâmica do fazer-se, segundo os critérios da humanização, necessariamente dependente de um processo justificante do postulado da pluralidade das existências.

Diferente dos animais, que estão na natureza como seres dados e fechados, o ser humano carrega a possibilidade para o novo e, frente a isso, sua natural inclinação à atualização e auto-superação, à medida que “o espírito humano conduz progressivamente à descoberta de si próprio e cria, pelo conhecimento do mundo exterior e interior, formas melhores de existência humana” (1) em ressonância à determinante evolutiva, que dá ao indivíduo a condição peculiar de caminheiro.

Ora, como ser em processo e em relação, somente a pessoa é um ser educável, aperfeiçoável pelo conhecimento e pela prática, jungidas, entre outros atributos, a um que é fundamental: a lucidez, responsável pelo “olhar de conhecer”, na expressão do poeta Fernando Pessoa (*). E, neste ponto, me refiro à lucidez simplesmente motivada pelas ciladas da irracionalidade que mistura, num todo indistinto, a superstição e o preconceito, obstáculos à passagem da luz, pedras no caminho da razão. 

Não é em vão, pois, o argumento de Herculano Pires, ao explicar que “a luta entre o Bem e o Mal é simplesmente o processo dialético da evolução. O Mal é a ignorância, o atraso, a superstição. O Bem é conhecimento, o progresso, a adequação da mente à realidade.” (2)

Se o homem primitivo tinha seu campo de visão restrito, pela sua própria condição biopsicossocial e espiritual, o homem contemporâneo, pelo contrário, que tem a seu dispor o largo uso consciente da vontade e da razão, tem o olhar literal ou deformado pelo apego ao preconceito e pelo aprisionamento a superstições facilmente enfrentadas pelo uso da lucidez, à medida que esta última instala a condição para a captura, no aparente, do que é verdadeiro e relevante, em acordo com a natural capacidade humana de conhecer sem distrair a razão.

Contudo, a lucidez é exigente de uma tarefa: para que ela seja alcançada é preciso entender que solicita, por si mesma, um estilo de olhar (um modo de visão disciplinado), ou seja, se ao homem é possibilitado a tarefa de ver, deve, para ver educadamente, submeter-se a uma “pedagogia do olhar”, na expressão de Sergio Paulo Rouanet, pois, se, com efeito, todos os objetos podem ser vistos, no propósito da educação do olhar faz-se necessário o aprendizado-exercício de olhar corretamente o que se quer ver.

Disso resulta uma questão: por que uma educação do olhar se insinua como fator importante para uma mudança pessoal qualitativa?

Tanto a superstição quanto o preconceito são cegueiras inculcadas e preservadas pelos estatutos socais, dando força à opressão e à exploração, servindo de obstáculos ao combate das injustiças, pois se consorciam com modelos e práticas educacionais repressivos que orientam o homem para não ver ou, pior, ver deformado, distorcido.

Com isso, na emergência da “sociedade-mundo”, segundo Edgar Morin, se carecemos de instâncias mundiais que agudamente assumam os problemas sociopolíticos, sem ignorar os ambientais, que afetam o destino planetário, na ambiência pessoal, refletida no coletivo, é preciso uma abertura para o cuidado atento com a existência (e co-existência) qualitativa, que é solícita a um ser humano que disciplina a visão e, em conseqüência, desconfia da percepção imediata e tende a rejeitar os males e enganos que saltam das opiniões e da aparência, uma vez que esta última se inclina a ocultar, ou no mínimo manipular, as raízes do preconceito e as desrazões das superstições.

Não há dúvida: um ser humano que possui o olhar educado pode mais facilmente perceber nas fronteiras entre ser e parecer, o lugar na qual habita uma das fontes principais da opressão humana (e do fanatismo, por conseqüência), que, nutrida pela visão incompetente, embasa a formação de uma falsa consciência, teimosamente fechada para a vida de relação, desajustada para a reflexão e a indulgência, que são essenciais para a evitação das teias da ilusão e do sectarismo.

Ora, a disciplina do olhar, aplicada pelo uso da razão, no propósito de “uma vida examinada”, no dizer socrático, é favorável à batalha de Sarastro contra a Rainha da Noite, pois no passado, como no agora, “os raios de sol expulsam a escuridão” (in Flauta Mágica).  

Bibliografia:

JAEGER, W. Paidéia: a formação do homem grego. Tradução de Artur M. Parreira. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 3.

PIRES, J. Herculano. Curso Dinâmico de Espiritismo – O Grande Desconhecido. São Paulo: Paidéia, 2000, pp. 120-1.

(*) Eis o trecho do poema de Fernando Pessoa referido no texto: “Com o olhar, a razão/Deus me deu para ver/Para além da visão –/Olhar de conhecer”.
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita