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Entrevista
Ano 1 - N° 45 - 2 de Março de 2008
MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br

Londrina, Paraná (Brasil)

Entrevista: Luiz Gonzaga Pinheiro: 

"A Doutrina Espírita necessita de ajuste na área científica"

O confrade cearense, baseando-se nas próprias palavras do
Codificador do Espiritismo, explica por que é inadiável
a atualização científica da Doutrina Espírita

Luiz Gonzaga Pinheiro (foto) é natural de Fortaleza (CE), onde exerce a profissão de professor de Ciências e de Matemática, na rede pública do Estado. Engenheiro pela Universidade Federal do Ceará e licenciado em Ciências pela Universidade Federal do Ceará, tem mais de uma dezena de livros publicados, entre os quais os conhecidos Terapia das Obsessões, Mediunidade - Tire suas Dúvidas, Desobsessão - A Terapia dos Imortais, Diário de um Doutrinador, Doutrinação: A arte do Convencimento, Mediunidade - Temas Indispensáveis para Espíritas, Mediunidade - Aprendizado Fundamental sobre Desobsessão e O

Perispírito e suas Modelações.  


Nesta entrevista o confrade explica por que, segundo seu ponto de vista, a Doutrina Espírita necessita de atualização.

O Consolador De onde lhe veio a idéia da campanha pró-atualização da Doutrina Espírita?

Luiz Gonzaga Pinheiro A idéia não é nova. É do próprio codificador do Espiritismo, Allan Kardec, que em “Obras Póstumas” deixou bem clara a opinião de que a Doutrina deveria ser atualizada a determinados períodos de tempo, através de congressos, sempre se posicionando ao lado da ciência, sob pena de suicidar-se. Como a ciência caminha atualmente a uma velocidade alarmante, daqui a vinte anos corremos o risco de contarmos apenas com a parte filosófica-moral do Espiritismo, pois atualmente boa parte do conhecimento científico lá exposto está errada.  

O Consolador Você considera a Doutrina codificada por Kardec ultrapassada?

Luiz Gonzaga Pinheiro De maneira alguma. A Doutrina em sua essência é inatacável. A parte científica é que necessita de reparos, através de notas de rodapé, esclarecimentos e aprofundamentos em outra obra ou de outra maneira que uma comissão multidisciplinar julgar mais conveniente.

O Consolador Há confrades que já manifestaram o ponto de vista de que o livro "A Gênese" estaria superado, enquanto diversos confrades ligados à Física, especialmente à mecânica quântica, entendem o contrário, ou seja, que essa obra está além – não aquém – da própria Ciência. Que você pensa a respeito?

Luiz Gonzaga Pinheiro Acho temeroso afirmar que a Gênese está além da ciência. Quando vejo lá escrito que o planeta Marte não tem luas e que as crianças das escolas primárias sabem que ele tem duas, Fobos e Deimos; a defesa da abiogênese, teoria enterrada por Pasteur e já entendida como errada á época de Kardec; a afirmativa de que Saturno tem apenas um anel sólido, quando hoje sabemos sem sombra de dúvidas que são muitos, e não sólidos; que a lua tem duas naturezas distintas e que por isso se assemelha a um “João-teimoso”, quando a NASA já provou o contrário, penso que a Doutrina perde muitos admiradores por erros tão primários.

O Consolador Anos atrás alguns confrades escreveram artigos propondo a substituição do vocábulo "fluido" por outro mais de acordo com o conhecimento científico atual. Um dos motivos é que fluido tem sentido bem diferente do que tinha à época de Kardec. Outros confrades, porém, diretamente ligados à área da Física, pensam que tal substituição é indevida, dado o dinamismo próprio da Ciência, que muitas vezes adota no presente posições que eram verdadeiras heresias no passado. Qual sua posição a esse respeito?

Luiz Gonzaga Pinheiro Penso que fluido é um bom termo e passa a idéia correta de algo que “escorre” sem obrigatoriamente ser líquido, podendo ser impalpável, intangível.  Não é aspecto tão pequeno que me preocupa, mas apresentar para novos adeptos erros científicos, prestando um desserviço à aprendizagem humana.          

O Consolador Você pode especificar expressamente os pontos em que a Doutrina Espírita necessita de uma atualização, bem como os argumentos que justificam tal medida?

Luiz Gonzaga Pinheiro A Doutrina Espírita necessita de ajuste na área científica. A sua moral é a moral do Cristo, portanto, corretíssima. Como Kardec enfatizou que a Doutrina é ciência, filosofia e religião, não podemos deixar o lado científico capenga.  Citar detalhes levaria muito espaço e é assunto do livro “Apelos do Tempo” que escrevi e ora se encontra na editora EME, em análise. Nesse livro comento mais de cem questões de “O Livro dos Espíritos” que necessitam de ajustes, sobretudo científicos.  

O Consolador – Você pode mencionar alguns pontos de seu livro, como fechamento desta entrevista?

Luiz Gonzaga Pinheiro – Sim. Na última parte do livro Obras Póstumas, Constituição do Espiritismo – Exposição de motivos, Kardec mostra as razões pelas quais a Doutrina Espírita deveria ser continuamente atualizada. Eis, sinteticamente, alguns pontos do seu pensamento:

A. Para se assegurar da unidade no futuro, uma condição é indispensável, é que todas as partes do conjunto da Doutrina sejam determinadas com precisão e clareza, sem nada deixar de vago; para isso fizemos de modo que os nossos escritos não possam dar lugar a nenhuma interpretação contraditória, e trataremos que isso seja sempre assim.            

B. O caráter da Doutrina deve ser essencialmente progressivo. Ela não deve ficar imobilizada sob pena de suicidar-se. Se uma nova lei é descoberta, deve a ela ligar-se; não deve fechar a porta a nenhum progresso, assimilando todas as idéias justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, não será jamais ultrapassada, e aí está uma das principais garantias de sua perpetuidade.

C. O programa da Doutrina não será, pois, invariável senão sobre os princípios passados ao estado de verdades constatadas; para os outros, não os admitirá, como sempre fez, senão a título de hipóteses, até a sua confirmação. Se lhe for demonstrado que está em erro sobre um ponto, modificar-se-á nesse ponto.                      

D. A verdade absoluta é eterna, e por isso mesmo, invariável. No estado de imperfeição de nossos conhecimentos, o que nos parece falso hoje, pode ser reconhecido como verdadeiro amanhã, em conseqüência da descoberta de novas leis. É contra essa eventualidade que a Doutrina não deve jamais se encontrar desguarnecida. O princípio progressivo, que ela inscreveu em seu código, será a salvaguarda de sua perpetuidade, e sua unidade será mantida precisamente porque ela não repousa sobre o princípio da imobilidade. Esta, em lugar de ser uma força, se torna uma causa de fraqueza e de ruína para quem não segue o movimento geral; rompe a unidade porque aqueles que querem ir adiante se separam daqueles que se obstinam em permanecer atrasados.                       

E. Em lugar de um chefe único será criada uma comissão central composta por doze membros, sendo dentre outras atribuições, o estudo dos princípios novos, suscetíveis de entrar no corpo da Doutrina e a convocação dos congressos e das assembléias gerais.       

F. O congresso procederá a cada 25 anos a uma revisão da constituição orgânica do Espiritismo com a finalidade de apreciar as novas necessidades e não levar perturbações com modificações muito freqüentes.      

O livro que escrevi analisa questões, faz comentários e sugere uma forma atualizada, segundo o panorama científico atual. Como ilustração, eis abaixo três perguntas nele existentes:  

Pergunta 34: As moléculas têm uma forma determinada? - Sem dúvida, as moléculas têm uma forma determinada, mas que não é para vós apreciável.

Atualmente, a Química, através da geometria molecular, já consegue determinar a forma das moléculas. Através de técnicas especiais poderosos microscópios já fotografam várias moléculas, notadamente, de proteínas. As moléculas diatômicas, ou seja, aquelas que possuem somente dois átomos são sempre lineares. Observando-se uma molécula do dióxido de carbono (CO2), notamos que a distribuição espacial dos seus pares eletrônicos é O = C = O, o que implica dizer que sua geometria molecular é linear. Da mesma maneira, determinou-se a geometria molecular angular, com a distribuição dos pares eletrônicos obedecendo aos limites de um triângulo eqüilátero, em forma de tetraedro, dentre outras. Lembramos aqui o ocorrido com o cientista Kalkulé, que exausto em sua luta para descobrir como os átomos de carbono e de hidrogênio se arrumavam no espaço formando a molécula do benzeno, sonhou com duas cobras, uma devorando a outra, formando uma espécie de balão fechado (hexágono) e ao acordar notou que aquela forma se adaptava de maneira admirável à estrutura que buscava. Teve em sonho a visão da forma geométrica que procurava, antecipando-se aos certeiros estudos possibilitados hoje pela ação dos computadores. 

Sugestão: Sem dúvida, as moléculas têm uma forma determinada, mas para vós ainda não apreciável.

Pergunta 56: A constituição física dos diferentes globos é a mesma?- Não, eles não se assemelham de modo algum.

Chamamos a atenção para o comentário de Kardec feito à resposta da pergunta 55 onde ele finaliza da seguinte maneira: “... com exclusão de tantos milhares de mundos semelhantes”. A palavra semelhante significa, parecido, ou seja, mundos que se identificam em um ou múltiplos aspectos. Quanto a este tema, vejamos como se reporta Joanna de Ângelis, com base em estudos do astrônomo Sir James Jeans, em seu livro No Limiar do Infinito, psicografado por Divaldo Franco: “cálculos pessimistas, examinando o Sol, estrela de quinta grandeza a sustentar 9 (Já não temos 9 planetas, pois Plutão é hoje considerado um grande asteróide) planetas conhecidos por enquanto, e que os mantêm com a sua energia, fazem crer que neste universo de sóis mais poderosos, se lhes fossem dados 2 planetas apenas para cada um, teríamos 200 bilhões em movimentação em nossa galáxia. Atribuindo-se por probabilidade a hipótese de somente 1% deles ter as mesmas condições e idades correspondentes à Terra, teríamos dois bilhões de planetas com as mesmas condições que caracterizam o nosso berço de origem.   

Dando-se a possibilidade remotíssima de que apenas 1% deles tivesse condições de vida semelhante à nossa e defrontaríamos, aproximadamente, com cerca de 20 milhões de planetas iguais ao nosso com vida inteligente”.

Por que astrônomos da Terra têm tanto interesse em Marte? Porque ele é semelhante a Terra em muitas características: há calotas de gelo polares, nuvens brancas flutuando, tempestades de areia e até um dia de 24 horas.  

Podemos ler em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III, Há Muitas Moradas na Casa de Meu Pai: Nos mundos que chegaram a um grau superior, a forma do corpo é, como em toda parte, a forma humana, mais embelezada, aperfeiçoada e, sobretudo, purificada. Não bastaria esse importantíssimo detalhe, a forma humana ser padrão em todos os mundos, para torná-los semelhantes em pelo menos um aspecto? Se a destinação da humanidade é a beleza e a bondade podemos igualmente dizer que os mundos se assemelham cada vez mais pelas virtudes, à proporção que se elevam na hierarquia espiritual. Logo, há algo em comum entre os mundos, pelo menos alguns, que os tornam semelhantes, fisicamente e espiritualmente, em um ou mais aspectos.

Sugestão: De alguma maneira, física ou espiritualmente, pode haver traços comuns na maioria deles, pois as leis de Deus são as mesmas para todo o universo. Mas existem aqueles que, fisicamente, em nada se assemelham.         

Pergunta 71: A inteligência é um atributo do princípio vital? - Não, pois as plantas vivem e não pensam; têm apenas vida orgânica. A inteligência e a matéria são independentes, pois um corpo pode viver sem inteligência; mas a inteligência não pode se manifestar senão por meio de órgãos materiais; é necessária a união com o Espírito para intelectualizar a matéria animalizada.

Comentário de Kardec: Podem distinguir-se assim: os seres inanimados, constituídos de matéria, sem vitalidade nem inteligência, que são os corpos brutos; os seres animados não pensantes, formados de matéria e dotados de vitalidade, mas desprovidos de inteligência; os seres animados pensantes, formados de matéria, dotados de vitalidade e tendo a mais, um princípio inteligente que lhes dá a faculdade de pensar. 

Nesse comentário Kardec afirma a existência de seres vivos que têm a mais que outros um princípio inteligente, admitindo assim que alguns não o possuem. Léon Denis, André Luiz, Gabriel Delanne e os próprios Espíritos que auxiliaram na codificação pensam de maneira diferente:

O homem é, pois, ao mesmo tempo, Espírito e matéria, alma e corpo; mas, talvez que Espírito e matéria não sejam mais do que simples palavras, exprimindo de maneira imperfeita as duas formas de vida eterna, a qual dormita na matéria bruta, acorda na matéria orgânica, adquire vitalidade, se expande e se eleva no Espírito” (Léon Denis – O Problema do Ser do Destino e da Dor). Poeticamente, esse raciocínio foi absorvido pelos espíritas da seguinte maneira: A alma dorme nos minerais, sonha nos vegetais, agita-se nos animais e acorda no homem.

 “Através de mil modelos inferiores, nos labirintos de uma escalada ininterrupta; através das mais bizarras formas; sob a pressão dos instintos e da sevícia de forças inverossímeis, a cega psique vai tendendo para a luz, para a consciência esclarecida, para a liberdade” (Gabriel Delanne – A Evolução Anímica).

“A imensa fornalha atômica estava habilitada a receber as sementes da vida e, sob o impulso dos gênios construtores, que operavam no orbe nascituro, vemos o seio da Terra recoberto de mares mornos, invadido por gigantesca massa viscosa a espraiar-se no colo da paisagem primitiva. Dessa geléia cósmica, verte o princípio inteligente, em suas primeiras manifestações” (André Luiz – Evolução em dois Mundos).

A alma pareceria, assim, ter sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação? – Não dissemos que tudo se encadeia na Natureza e tende à unidade? É nesses seres, que estais longe de conhecer totalmente, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e ensaia para a vida” ( Allan Kardec - O Livro dos Espíritos, pergunta 607).

“O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o livre arbítrio e a consciência, a noção dos seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização” (Allan Kardec – A Gênese).

Acreditamos que o princípio inteligente contribui na modelação do seu envoltório astral que dará origem ao futuro perispírito, e participa ativamente na resolução dos problemas atinentes à sua sobrevivência e reprodução. A base para tal afirmação é bem simples: efeitos inteligentes têm origem em causas inteligentes. Observando-se a atividade de um simples vírus, como ele invade uma célula, toma seus comandos e injeta seu material genético, passando a interferir no metabolismo da célula invadida, percebemos que ele demonstra uma inteligência invulgar. Ele toma a “fortaleza” (célula) de assalto, passa a comandar a síntese de novos ácidos nucléicos virais à custa da energia e dos componentes químicos da célula hospedeira (aproveita a fábrica para fabricar armas), culminando com a reprodução de novas cópias suas (clones) num processo de produção por montagem digno das mais modernas fábricas. Diante de tamanha precisão e planejamento há de se perguntar: que obra do acaso engendraria plano tão inteligente?

Alguém poderá dizer que estamos diante do automatismo da matéria, de reflexos ou movimentos instintivos. Mas por que isso não ocorre em uma pedra, já que ela é também matéria? O fato é que existe uma evolução e uma complexidade claras a partir de determinado ponto de organização da matéria, caminhando progressivamente até o homem.

Sugestão: Podem distinguir-se assim: os seres inanimados, constituídos de matéria, sem vitalidade nem inteligência, que são os corpos brutos; os seres animados, constituídos de matéria e com vitalidade, mas dotados de princípios inteligentes, sendo que entre estes há aqueles cuja inteligência apenas desabrocha, e outros cuja inteligência já se manifesta de maneira mais ostensiva.                    

Que fique bem claro que não considero Kardec superado, mal orientado ou ultrapassado. O mesmo vale para obra que não é sua, mas que, graças a ele veio a lume. Tudo quanto desejo é ver a Doutrina limpa, sem erros, atualizada cientificamente, sem motivos de zombarias nem ataques de seus detratores, devido  estar passando para seus adeptos erros que são facilmente corrigíveis.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita