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Crítica Literária

Ano 1 - N° 43 - 17 de Fevereiro de 2008

JOSÉ PASSINI
passinijose@yahoo.com.br
Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)
 

Análise da obra
"Mereça ser feliz"

Obra em análise: Mereça ser feliz: superando as ilusões do orgulho
Autora espiritual: Ermance Dufaux
Autor encarnado: Wanderley S. de Oliveira 

Sumário:
Atribuída pelo médium Wanderley S. de Oliveira ao Espírito de Ermance Dufaux, a obra afirma que  para gozar do direito natural de ser feliz não basta simplesmente cumprir com algumas receitas de conduta, como se fossem fórmulas prontas para êxito imediato. Merecimento é um estado afetivo a ser conquistado, um sentimento sem o qual permanecemos reféns da tirania da culpa e do medo.  

Este livro, como muitos outros que estão surgindo diariamente por via mediúnica, contém ensinamentos edificantes, citações de Jesus, de Kardec, de conhecidos Benfeitores Espirituais. Entretanto, de permeio, traz mensagens desalentadoras, num ataque generalizado contra os espíritas, sob a capa de alertamento. Atentando-se para os temas abordados e o estilo dos escritores, facilmente pode-se concluir que se trata de um plano para desacreditar o Espiritismo, desanimar trabalhadores, desvalorizando-lhes o trabalho no Bem. Às vezes sutilmente, às vezes diretamente, procuram desmerecer até o próprio estudo da Doutrina.

A julgar-se pela ótica deste livro, e de outros da mesma orientação, o Espiritismo não está conseguindo ser escola de aperfeiçoamento para ninguém, o que é absolutamente falso! Para estudo, transcrevemos alguns trechos, em itálico, colocando entre parênteses o número da página do livro. Conservamos fielmente a grafia original, inclusive algumas falhas gramaticais. 

Assim, o aprendiz começa a sua faina espiritual, doando-se nas atividades de amor ao próximo e na afanosa busca de conhecimento. O tempo passa e a melhora é evidente. Contudo, o próprio trabalhador observa, em determinado momento, que se encontra diante de si mesmo com o grave compromisso de transformação e crescimento, tendo uma longa jornada a encetar. Nesse ínterim, experimenta a sensação de que o progresso efetivado não é compensador e passa a debater-se com a questão da felicidade, do equilíbrio e da superação de velhos vícios. (29)

Não conheço um único caso de alguém que, tendo se colocado em atividades de amor ao próximo e se dedicado a estudos, não tenha crescido espiritualmente. Qual seria a intenção desse Espírito ao fazer essa afirmativa? 

Comum observar, igualmente, o pessimismo em que se encontram muitas lideranças valorosas, entregues ao desânimo depois de ricos investimentos na lavoura doutrinária em anos de trabalho e devoção, desacreditando de tudo e de todos, projetando no movimento espírita o derrotismo que tomou conta do seu campo mental.

Essa questão sutil da vivência espírita tem passado despercebida de muitos, e não é por outra razão que bons tarefeiros têm abandonado a sementeira ou tomado (sic) em diversos insucessos  do comportamento... (30)

Outra afirmativa destituída de base. Podem acreditar nela aqueles que não militam no meio espírita. Novamente, a Autora toma casos isolados como regra geral. Os espíritas não são seres perfeitos, mas tomar as atitudes de alguns poucos como verdade geral é torcer os fatos, faltando à verdade. 

Os excessos nesse tema são reais; a intransigência, a normatização têm servido para assustar e atemorizar muitos corações. Frases impiedosas e humilhantes têm sido estatuídas a pretexto de esculpir um modelo de conduta ou padrão para a vida espírita, calcadas em velhos chavões religiosistas no estilo “espírita faz isso, espírita faz aquilo”, subtraindo a possibilidade da conscientização, do amadurecimento, da interiorização dos conteúdos pelas vias sagradas do coração. (31)

A ser verdade o afirmado acima, os centros espíritas estariam se esvaziando progressivamente. Entretanto, o que ocorre é exatamente o contrário. Vê-se um aumento assustador na freqüência às casas espíritas. Esse Espírito, se estivesse bem informado, se quisesse realmente ajudar, por certo chamaria a atenção para a necessidade urgente da preparação de evangelizadores de infância, de juventude e de expositores para o público em geral.  

E o mais lamentável é que muitos corações passam a acreditar que esse mecanismo de sofrimento é o resultado de reflexos do seu passado reencarnatório, quando, em verdade, a pessoa está no labirinto de si mesma sem conseguir encontrar as saídas pelas quais já poderia ter passado, caso guardasse melhor habilidade de conviver bem consigo própria. (32)

O Espiritismo realmente nos ensina que estamos na colheita de nossas semeaduras do passado, próximo ou remoto, mostrando que a melhor solução para as dificuldades presentes é o trabalho no Bem e o esforço na construção da paz íntima. A Autora desconhece que os ensinamentos espíritas apontam exatamente no sentido contrário desse cultivo da dor para a remissão de pecados? Ela tenta passar a imagem de que a depressão campeia no meio espírita. Por que, ao invés dessa mensagem desalentadora, não fala do valor da prece? 

Adentramos o centro espírita. Era intensa a movimentação em ambos os planos. Em uma saleta mais resguardada, vimos o irmão Santos, presidente daquela agremiação, em sentida prece a Jesus pelas tarefas da noite. Após isso, expediu normas à pequena equipe de atendentes para os serviços do diálogo fraterno que logo se iniciaria. Nosso irmão Santos apresentava um halo reluzente que denotava paz e equilíbrio interior.

Logo após, ao ouvir o relato de bela jovem desequilibrada, o presidente do centro, se encanta com ela, e, sentindo forte inclinação para um desvio comportamental, faz o seguinte apelo: “Jesus, por que o Senhor faz isso comigo? Como posso resistir a semelhante tentação? Perdoe-me, mas tenho minhas necessidades!... Estou confuso e fraco. Não consigo resistir!” (43) 

Essa, a fragilidade do presidente de uma agremiação espírita, pai de três filhos, cuja esposa era trabalhadora da instituição. Como pode um trabalhador, cuja luz espiritual que apenas diminuíra, desequilibrar-se simplesmente por ouvir o relato da vida amorosa de uma criatura? E o que dizer dessa prece a Jesus, cobrando do Mestre a tentação que lhe teria destinado? A Autora, ao transcrever a história desse presidente de centro quer, mais uma vez, demonstrar a fragilidade daqueles que apenas “trabalham no Bem e estudam”. Qual a orientação seria dada a Santos, para que não fraquejasse? 

Ele havia se envolvido incontrolavelmente com a bela jovem. Permitiu-se sonhos de ventura e paixão, enquanto ouvia a dor alheia, e num impulso infantil, mas demonstrando uma fachada de tranqüilidade, atravessou todas as dependências da instituição em passo apressado e foi até a sala de passes, carregando enorme desespero e lascívia. Apenas queria fruir o prazer de vê-la outra vez.

Terminada a tarefa, seguimos o dedicado servidor até a sua residência. Esquivou-se dos cumprimentos de cordialidade, deixando seus familiares atônitos e trancou-se em seu escritório particular, recusando conversa e convivência.” (44)

Sempre o alvo dos relatos equivocados são espíritas, principalmente os dirigentes... Imaginemos, se um dedicado dirigente espírita é tão frágil, está tão sujeito a falhas tão grosseiras, de que lhe vale o esforço no Bem? Quem julgasse o Espiritismo pela ótica desse Espírito não acreditaria mais em nada. Parece que Ermance vai propor uma postura nova diante dos ensinamentos dos Espíritos, no que tange à aplicação do Evangelho na vida. 

Mauro, nosso companheiro é um reincidente contumaz  Sua invigilância vem agravando-se a bom tempo. Como ninguém lhe supervisiona os atos, considerando-se que ele é o “supervisor” de todos na condição de dirigente, fica à mercê de suas limitações. Não tendo com quem possa lhe ouvir ou não querendo abrir-se para diálogo sincero com quem vote confiança, enfraquece-se em lamentável crise de sigilo mantendo a fachada de bom espírita, porém, solitário e cansado em suas lutas. (44) 

É uma proposta utópica, absurda, essa de os trabalhadores de um grupo exporem suas limitações, seus problemas íntimos, aos demais companheiros de trabalho, ainda mais no tocante à vida sexual. Se ainda não aprendemos a dialogar abertamente nem nos grupos mediúnicos, se ainda não conseguimos nos libertar dos melindres, como, então, propor passos tão arrojados? Afinal, quem orientaria o grupo? Quem seria o psicoterapeuta? Por que não aplicar o que se aprende da Doutrina, ou seja, a busca do aconselhamento com Espíritos Amigos, durante o sono físico? Um espírita que tenha a lucidez de analisar seus atos, sentindo a própria fragilidade, é alguém que busca aperfeiçoar-se. Nesse caso, não seria mais fácil solicitar socorro aos amigos espirituais, confessar-se a eles, rogando-lhes amparo, do que abrir sua vida íntima aos companheiros de trabalho? Será que esse Espírito não mediu as proporções da utopia que propõe? Ou, intencionalmente, mediu-as? 

Esse sutil ufanismo ronda as esferas doutrinárias quando se crê, com a melhor das intenções, que a Revelação Espírita é a “única” estrada de acesso para a libertação do homem junto aos cativeiros das expiações terrenas (56)

Afirmativa profundamente leviana! Parece que esse Espírito tem visitado outras esferas doutrinárias, que não as espíritas, pois que “O Evangelho segundo o Espiritismo” tem o cap. XV intitulado: “Fora da caridade não há salvação”, e não “Fora do Espiritismo...”  

Pregam felicidade e apontam rumos, aliviando o outro com a tese de que em Espiritismo não se cobra valores financeiros pelos bens espirituais, incentivando a procura e a adesão como se angariasse um fiel para salvação, despreocupando em confortar as chagas e ser o mensageiro da doutrina em si próprio, para aquele que sofre e necessita de arrimo.

Essa “ética de reclusão” enseja uma quase “alienação” dos centros espíritas junto aos problemas sociais, porque destaca-se como vantajoso e correto que a sociedade busque o centro e não o inverso. (56 / 57)

Será que esse Espírito tem certeza do que está dizendo? Até mesmo pessoas de outras religiões reconhecem a caridade como principal característica do Espiritismo! Hoje, além do socorro material propiciado através do alimento e do vestuário – quando não até de moradia –, está se generalizando, e com excelentes resultados, o “Atendimento Fraterno” que, através da conversa evangelizante leva-se aquele que busca o socorro à prática da reflexão, do auto-conhecimento, à luz da prece, com o auxílio do passe e, em certos casos, o encaminhamento à desobsessão? Observe-se a falácia do conselho para que o centro espírita busque a sociedade. Será que é sugestão para que os espíritas batam de porta em porta oferecendo o Espiritismo, como outras religiões o fazem? 

Forma-se assim uma linguagem, um discurso estereotipado com sugestões derivadas dessa atitude ufanista como a de solicitar ao novo freqüentador que deixe a sua religião para poder freqüentar a casa espírita, ou ainda que abdique de novenas e hábitos de adoração por não condizerem com o “estereótipo espírita”, ou mesmo na formulação de teses sobre carmas e mediunidade a desenvolver como se fossem “senhas de aceitação e batismo” do novo aprendiz nas atividades doutrinárias. (56 / 7) 

O trecho transcrito acima chega a ser revoltante! O discurso destrutivo desse Espírito vai, quase que imperceptivelmente, crescendo em intensidade, à medida em que vai envolvendo o leitor menos atento. São verdadeiramente estarrecedoras essas afirmativas. Onde esse Espírito viu essas práticas? Chega às raias do atrevimento dizer que no Espiritismo sugere-se que alguém deva deixar sua religião para freqüentar um centro espírita, como se fosse exigida uma profissão de fé. Está se tornando comum, em obras mediúnicas surgidas ultimamente, a tentativa de minimizar ou de anular o valor da vivência espírita. Aos trabalhadores, essas mensagens não afetam, mas atingem aqueles que se aproximam do Espiritismo. Esses, o alvo principal de semelhantes pronunciamentos. 

Grande decepção será pernoitar nesse ufanismo doutrinário e acordar nas paragens extrafísicas decepcionados com a dura realidade de nossa condição espiritual, quando então será constatado que incontáveis almas vitoriosas e felizes jamais ouviram falar em Espiritismo, porque serviram única e exclusivamente à religião cósmica da caridade: muito amaram. (57)

Sócrates, Francisco de Assis, Gandhi, Madre Tereza de Calcutá, Albert Schweitzer, além de todos aqueles grandes Espíritos que se comunicaram com Kardec – logo, antes do advento do Espiritismo – , não eram espiritistas, e são freqüentemente citados como modelos em palestras e na literatura espírita. Será que, diante disso, ainda haveria necessidade de esse Espírito fazer essa advertência aos espíritas? Se endereçasse suas palavras a pessoas de outras religiões – algumas que pregam a exclusividade da salvação –, até seria compreensível. O que pretende, afinal, esse Espírito? 

E essa madureza vem se operando, ato contínuo, enquanto ficamos nas “janelas de nossas agremiações” esperando que o mundo se converta ao Espiritismo, assemelhando-se à figura lendária Rapunzel, deixando crescer longas tranças de prepotência, enunciando frases do tipo: “o Espiritismo explica tudo, tem resposta para tudo há mais de um século!” (58)

 Há várias maneiras de se combater o Espiritismo. Uma é esta: combatê-lo através de uma obra mediúnica, contendo afirmativas assim tão levianas, infiltradas na nobre literatura Espírita. Muitos espíritas dirão que isso não merece nem comentário. Só os fazemos porque obras danosas como esta têm endereço certo: as mãos daqueles que estão se iniciando no Espiritismo. Além do mais, há a necessidade imperiosa de se denunciar essa e outras obras semelhantes como não-espíritas. 

O personalismo – marca moral pertinente à maioria esmagadora dos discípulos espíritas – é uma lente que procura dilatar nossos valores e uma nuvem que busca ofuscar nossas imperfeições, tornando-se entrave à opinião sincera em razão de insuflar o melindre e a mágoa. (66)

De novo, o ataque aos espíritas! Se o personalismo é marca moral pertinente à maioria esmagadora dos discípulos espíritas, o Espiritismo não conseguiu despertar, até agora, quase ninguém para o aprendizado das nobres lições do Evangelho. De nada teriam valido as lições de Kardec e as que vieram através dos grandes médiuns.

Esse livro, sim, é uma nuvem que busca ofuscar a luz que o Espiritismo lança sobre a vida das criaturas, o que incomoda grandemente as Trevas. É fácil de se constatar que os inimigos da Doutrina se cansaram de atacá-la de fora para dentro. Agora querem implodi-la, usando a mediunidade, em obras de caráter destruidor como essa. 

Ainda acerca das opiniões alheias, acostumemo-nos a elas lembrando que o próprio Jesus não as dispensou quando perguntou em exemplar atitude íntima aos discípulos:”Quem dizem os homens que eu sou?” (67)

Esse Espírito deveria estudar o Novo Testamento antes de apresentar Jesus como pessoa simplória, interessada em comentários a seu respeito. Quem lê essa passagem em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, transcrita no cap. IV, entende que Jesus queria deixar o ensinamento sobre a reencarnação, e não saber da opinião dos outros, mesmo porque ele não precisaria perguntar nada, pois lia o pensamento das pessoas, conforme se depreende do diálogo com a Samaritana (Jo, cap. 4). 

"Então eu gostaria de começar esse assunto dizendo, com a franqueza, de sempre e com muita piedade, que os espíritas estão muito orgulhosos da humildade que imaginam possuir! Sim, é isso mesmo, e vocês são testemunhas das lutas e problemas que nossos irmãos queridos carregam para cá por causa disso.” (166)

Depois de vários capítulos contendo bons alertamentos, as palavras acima, atribuídas a Maria Modesto Cravo, chamam a atenção pela acusação generalizada aos espíritas, até parecendo contaminadas pelos discursos do “Dr. Inácio Ferreira”, que não se cansa de falar mal de médiuns e de espíritas, através de ditos chistosos e de uma pretensa franqueza, vazados  numa linguagem pouco condizente com a dignidade da mensagem espírita. 

“Para ser franca e brincar um pouco com coisa séria, o movimento espírita está parecendo uma passarela onde o orgulho desfila com várias fantasias. Fantasias de grandeza e propriedade da verdade são os adornos que mais se vê!!!”

Logo após meu retorno para a vida dos espíritos, fui convocada por Eurípedes a coordenar as ações para (sic) um novo pavilhão junto a essa casa de amor, destinado a socorrer os líderes religiosos Cristãos da humanidade, especialmente os dirigentes espíritas. Por três décadas consecutivas venho aprendendo nessa tarefa sobre os perniciosos reflexos do orgulho. O pavilhão sob as ordens de minha equipe tem crescido em tamanho e necessidades a cada dia.” (167)

Novamente o ataque aos espíritas. Até parece o “Dr. Inácio”! Nunca Maria Modesto Cravo faria tal afirmação a respeito dos espíritas. Entre os espíritas pode haver algumas expressões isoladas de orgulho e vaidade, mas essa generalização é descabida.  É de se perguntar como pode alguém combater o orgulho de outrem fazendo afirmações de poder e de mando como as acima? Compare-se a humildade de Clarêncio, Aniceto, Alexandre, Calderaro, Gúbio, Áulus, que nunca declararam estar no exercício de chefia alguma. 

“Em todos os campos dos seguidores de Jesus encontramos fracassos e quedas. Nossos amigos de ideal espírita, por exemplo, costumam falar do orgulho como quem conhece e domina o tema, dando notas de sua presença até mesmo na prepotência em falar do assunto. Poucos demonstram consciência do orgulho do qual são portadores, poucos sabem realmente onde e como sua vaidade se manifesta. Basta dizer humoradamente que existem muitos corações orgulhosos da reforma íntima que já fizeram. Tão orgulhosos que se sentem melhores e mais adiantados que a maioria das pessoas, dando ensejo ao surgimento das férteis imaginações de que são missionários prontos para salvar a humanidade, quando, em verdade, expressiva maioria deles não estão conseguindo salvar nem a si mesmos.” (168)

Pobre Maria Modesto Cravo que, como o eminente Dr. Inácio Ferreira, está agora sendo caricaturada por esses Espíritos, cuja leviandade os leva a formular afirmativas tão absurdas como as que se lêem acima. Esse livro não mereceria sequer comentário, não fosse para ajudar alguns espíritas novatos, ainda incapazes de avaliar tamanha mistificação. 

“Essa modéstia imaginada pelos espíritas precisa  ser esclarecida em favor da felicidade deles próprios. Eles estão com orgulho da humildade que supõem possuir, meus amigos! Isso é grave!...”

“Uma modéstia imaginada e não sentida, uma quase fragmentação que beira os quadros mais conhecidos da “psicose pacífica, aceitável.”

 “Como assevera Inácio Ferreira: “os espíritas estão passando por uma loucura controlada, uma psicose intermitente...” Mas temos que perguntar: quantos conseguirão manter esse controle e até quando?”

“Ainda usando as claras observações de Inácio, ele nos diz que “o pior louco é aquele que finge que não é louco, porque não assume, não quer enxergar.” (170)

Se alguém, que não conhece o Espiritismo, ler essas barbaridades veiculadas por esse ou esses Espíritos, vai imaginar que os centros espíritas estão lotados de pessoas orgulhosas, tolas, que se enganam a si próprias, nada fazendo pelo seu aprimoramento espiritual, que é a marca primeira da Doutrina. Parafraseando o “Dr. Inácio”, pode-se dizer que o pior médium é aquele que não avalia aquilo que publica, pois muito do que se lê nessa obra é um verdadeiro atentado ao Espiritismo, através de um atentado ao bom senso. 

“Vemos quantos companheiros estão empenhados em largar cigarro, bebidas, carne e certos ambientes como se reforma íntima fosse restrita a movimentos primários de contenção. O trabalho no terreno dos sentimentos é o fiel da balança nos trâmites da evolução.” (170)

Novamente, a argúcia do mistificador se revela, quando coloca num mesmo plano o uso da carne com os hábitos viciosos de beber e de fumar. Ao dizer que a reforma íntima não se restringe a “movimentos primários de contenção”, ele minimiza o esforço da criatura que se empenha em deixar algum hábito vicioso. A respeito do hábito de fumar, não se poderia esperar outra posição do “Dr. Inácio”, pois ele faz questão de fazer tremenda propaganda desse vício em várias obras de sua autoria. 

“Bom, chega de falar mal dos espíritas!”

“Se um dia conseguirem um médium corajoso o bastante para relatar minha fala, digam que fiz isto como um “teste ao orgulho”. Quem ler minha fala até esse ponto, sem ter um enfarto de revolta, é candidato a ser humilde no futuro.” (171) 

Este Espírito, que se intitula Maria Modesto Cravo, se não é o mesmo que se apresenta como Dr. Inácio Ferreira, pelo menos são do mesmo grupo, pois o falar é igual: a relativização do vício de fumar (agora acrescida do de beber), o ataque aos espíritas, a irreverência, o humorismo fora de contexto e o hábito de alardear coragem. É lamentável que a mediunidade e a imprensa espírita sejam usadas para isso... 

“A melhor campanha para a instauração de um novo tempo na Seara passa pela melhoria das condições do centro espírita, que é a célula operadora do objetivo do Espiritismo. Lá sim se concretizam não só o conhecimento e o trabalho, mas a absorção das verdades no campo individual em colóquios íntimos e permanentes, que reproduzem os momentos de Jesus com seu colégio apostólico. (175) 

O período acima consta do apêndice, no final do livro. É intitulado “Programa de Bezerra de Menezes”, mas no fim da página há a declaração da autoria: “autores diversos”, o que leva o leitor a não saber qual o trecho atribuído a esse abnegado Espírito.

Note-se o uso de frases de efeito: O que quer o autor dizer com absorção das verdades no campo individual em colóquios íntimos e permanentes? Nota-se, mais uma vez, o esforço desse Espírito no sentido de confundir, atacar o trabalho desenvolvido nos centros, minimizando o seu valor e sugerindo sua substituição por ações que ficam nas palavras, sem uma explicação clara e objetiva.

Será que Jesus promovia esses colóquios íntimos e permanentes, como sugerido acima, ou vivenciava as verdades que pregava, através do serviço ao Pai, na pessoa do próximo?  

“Por isso, temos que promover as Casas, de posto de socorro e alívio a núcleo de renovação social e humana, através do incentivo ao desenvolvimento de valores éticos e nobres capazes de gerar a transformação.”

“Para isso só há um caminho: a educação.” (175) 

A que casas espíritas esse Espírito se refere?

E o que têm feito as casa espíritas orientadas segundo os ditames da Doutrina? Não são núcleos de educação humana, através da divulgação dos valores éticos do Evangelho de Jesus?  

“O núcleo espiritista deve sair do patamar de templo de crenças e assumir sua feição de escola capacitadora de virtudes e formação do homem de bem, independentemente de fazer ou não com que seus transeuntes se tornem espíritas e assumam designação religiosa formal.” (175) 

Se um núcleo é “um templo de crenças”, não é um centro espírita. Se não é uma “escola capacitadora de virtudes e formação do homem de bem”, também não o é. E se está “tentando fazer com que alguém se torne espírita e assuma designação religiosa formal”, nega completamente a sua condição de casa espírita.

Portanto, onde esse Espírito se baseou para fazer mais essas declarações falaciosas? É possível que alguém, sendo espírita, aceite um despautério dessa envergadura? 

“Elaboremos um programa educacional centrado em valores humanos para dirigentes, trabalhadores, médiuns, pais, mães, jovens, velhos, e o apliquemos consentaneamente com as bases da Doutrina.” (175) 

E não é isso que o Espiritismo tem feito? Aliás, tem feito mais, pois proporciona educação também  à criança, através de aulas de evangelização, o que não consta das recomendações “pedagógicas” desse Espírito. Aqui nos lembramos dos Espíritos apontados por Kardec como pseudo-sábios (O Livro dos Espíritos, item 104). 

Esclarecemos que não pretendemos ter esgotado o assunto. Uma análise exaustiva de todos os pontos controversos dessa obra postularia a edição de um outro livro. Compreendendo que a preservação dos princípios  doutrinários do Espiritismo é dever de todo aquele que se beneficia dos seus esclarecimentos, é que entregamos aos espíritas este trabalho inicial, relembrando a judiciosa recomendação do Espírito Erasto, contida no item 230 de “O Livro dos Médiuns”: Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.

 

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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita