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Espiritismo para crianças - Célia Xavier Camargo
Ano 1 - N° 39 - 20 de Janeiro de 2008

 

Encontro com a realidade
 

Marcos era um menino que, não obstante ter tudo, não dava o menor valor às coisas que possuía. 

Nunca estava contente com os brinquedos que ganhava, reclamava sempre das roupas que sua mãe comprava com tanto carinho.  

Mas o pior mesmo é quando chegava a hora das refeições. Marcos nunca estava satisfeito, a comida sempre ruim e sem gosto. 

Sua mãezinha aconselhava-o, preocupada com seu bem-estar: 

— Coma um pouco, meu filho. Você precisa se alimentar! 

— Não quero! Não gosto de nada! Esta comida está uma droga. Quero chocolate e biscoitos.  

— Mas meu filho — insistia a mãe com carinho e tolerância — você nem experimentou! A carne assada está uma delícia. Além do mais, os alimentos são necessários para nosso organismo. Você acabará ficando fraco... 

O garoto fazia uma careta de desagrado e respondia mal-educado: 

— Não. Não quero. Não gosto de carne assada. Ainda se fosse uma torta de frango... 

A mãe suspirava, desanimada. 

No dia seguinte, porém, à hora do almoço, a mãezinha afirmava contente: 

— Hoje fiz o que você queria, meu filho. Veja o que temos para o almoço. Uma linda e apetitosa torta de frango! 

O menino fazia uma careta e reclamava, mal-humorado:  

— Torta de frango?!... Logo hoje que estou com vontade de comer uma macarronada? 

E assim acontecia sempre: no café da manhã, no almoço, no jantar. Nada estava bom.

Ele não se alimentava a não ser de bobagens, e a cada dia se enfraquecia mais, embora sua mãe o aconselhasse, preocupada: 

— Marcos, meu filho, temos que saber agradecer a Deus o que nos concede. Existem muitas crianças que dariam tudo para ter o que você tem e não dá valor. 

Marcos tinha um colega na escola que vivia sempre muito calado. Era um menino humilde, bom e delicado, e Marcos gostava dele. 

Certo dia, Marcos reclamou da insistência de sua mãe para que ele se alimentasse e perguntou se a dele, João, também era assim. 

— Não — respondeu João com simplicidade. 

— Como? Sua mãe não insiste para que você coma? 

— Não. Minha mãe me deixa à vontade. 

Marcos ficou todo entusiasmado: 

— Ah! Como gostaria de morar na sua casa! Estou cansado da vida que levo. Eu não poderia passar uns dois dias com vocês? Olhe, este final de semana estarei livre; meus pais vão viajar e ficarei com os empregados. Não será difícil convencer mamãe a deixar-me ficar em sua casa. Por favor, eu gostaria muito! 

Com a insistência de Marcos, Joãozinho concordou, relutante. 

Não tinham muito tempo, pois já era sexta-feira. Concedida permissão para passar o final de semana com o amigo, Marcos arrumou algumas coisas numa pequena mochila e foram para a casa de Joãozinho.  

Andaram... andaram... andaram muito. Essa foi a primeira decepção de Marcos, pois a casa ficava muito longe, num bairro distante do centro da cidade.  

Ao chegarem, o menino estranhou a simplicidade da moradia. Era uma pequena construção de madeira, pintada de creme e cercada por um jardinzinho.  

João apresentou o amigo à sua mãe, explicando que Marcos iria ser hóspede da casa por dois dias. Amável, a senhora falou-lhe com um sorriso amigo: 

— Seja bem-vindo, meu filho! 

Alegando que estava cansado, Marcos pediu para repousar um pouco, indagando onde era o quarto que iria ocupar.

— Aqui mesmo! — apontou Joãozinho — Dormiremos meu irmão, você e eu no mesmo quarto. Você e meu irmão ocuparão as camas, eu durmo no chão.

Marcos nada disse, mas não gostou de repartir o quarto com outras pessoas. Sempre tivera o seu próprio quarto. 

A refeição foi frugal, consistindo em chá com pão. Estranhando, Marcos perguntou: — Só isso? 

— Só. Essa é a nossa janta. — respondeu a dona da casa com delicadeza — Desde que meu marido morreu, nossa situação ficou muito difícil e luto para sustentar a casa. Aceita um pouco de chá? 

— Não gosto de chá, obrigado. 

— Sinto muito. Não temos outra coisa para lhe oferecer. Quando tenho dinheiro compro leite, mas hoje não deu. 

Marcos foi dormir com o estômago vazio. Na manhã seguinte, o café foi mais magro ainda. Não havia pão, só chá.  

Era sábado e não teriam aula. A mãe de Joãozinho acordou-os cedo. Precisavam ajudá-la nos cuidados com a horta. 

A contragosto, Marcos trabalhou a manhã inteira. Na hora do almoço estava esfomeado. Para comer, havia alguns ovos, cenouras e couves, colhidos na horta, e arroz.

 Com a fome que estava, Marcos até aceitou a comida simples com prazer. Após o almoço ajudaram nas tarefas domésticas, depois foram brincar. 

Àquela altura, Marcos já estava com fome novamente. Lembrava-se da comidinha gostosa e farta de sua mãe, dos doces saborosos, dos biscoitos... e sentiu uma profunda saudade. Agora tudo aquilo lhe parecia tão importante!

A mãe de Joãozinho tinha feito pão e o cheiro de pão assado era muito convidativo. Comeu pão e tomou chá, como se fosse a melhor refeição do mundo. 

Após o final de semana, quando voltou para casa, estava bem diferente. Ao encontrar sua mãe Marcos falou-lhe comovido: 

— Estava com muita saudade, mamãe. 

— Como foi o passeio? — perguntou ela, sentindo que algo acontecera. 

— Sabe, mamãe, aprendi muita coisa. Aprendi até a gostar de chá, cenouras e couves! Joãozinho é um menino muito pobre e eles quase não têm o que comer. Ele não tem roupas, nem brinquedos e seus sapatos estão furados. Agora entendo porque a senhora disse que temos que agradecer a Deus tudo o que temos. 

A mãe abraçou o filho, emocionada. 

— Que bom, meu filho, que você agora pensa assim.  

— Compreendo agora que a vida pode ser muito difícil e acho que tive um encontro com a realidade. Quero pedir que a senhora vá comigo até a casa do Joãozinho. Tem tanta coisa que não preciso e que faz falta a eles! 

A mãe fitou com os olhos rasos de lágrimas aquele garoto de oito anos e que agora lhe parecia um homenzinho, falando tão sério e compenetrado. 

Abraçou-o com imenso carinho, agradecendo a Deus a proveitosa lição que seu filho tivera.    

                                                           Tia Célia


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita