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Entrevista
Ano 1 - N° 39 - 20 de Janeiro de 2008
FERNANDA BORGES
fernanda@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

Eliana Maria Thomé de Souza:

 

“Temos de levar a esperança aos desesperados, o conhecimento aos deserdados e a fé aos incautos” 

 

A jornalista Eliana Maria Thomé de Souza é espírita de berço. Falar sobre Espiritismo é para ela falar sobre um assunto que está na ponta da língua, descrito com precisão, sabedoria e muito amor. Experiente e trabalhadora, Eliana – que atualmente reside em São Paulo, capital – já exerceu diversas funções em centros espíritas de São Paulo e Santos. Atualmente, ela atua na área da mediunidade e também na orientação espiritual   àqueles   que  chegam  à  casa

espírita pela primeira vez.  

Para Eliana, que já viveu na França e trabalhou em diversas empresas de comunicação famosas – como as revistas Veja e IstoÉ e na Rádio France – as pessoas devem, além de ensinar, “vivenciar a doutrina codificada por Kardec”. Ela ressalta que o Mestre Jesus é o nosso maior exemplo, portanto “temos de levar a esperança aos desesperados, o conhecimento aos deserdados e a fé aos incautos”.

A seguir, a entrevista que gentilmente nos concedeu:

– Em que cidade você nasceu?

Na cidade de Mococa (SP), mas atualmente resido em São Paulo, capital.

– Que fato a levou a residir em São Paulo?

Nasci em 1955 e logo nos mudamos para Manaus (AM), pois papai, como militar do Exército, servia numa determinada localidade a cada cinco anos. Estávamos sempre nos mudando e os irmãos nasceram em locais diferentes por isso. Cheguei a São Paulo em 12 de dezembro de 1986 vindo diretamente de Paris, França, onde morei quatro anos para realizar o doutorado em cinema. Antes eu morava em Santos (SP) com a família e trabalhava na sucursal do jornal A Tribuna, de Santos, na cidade de Registro (SP), na qualidade de jornalista formada pela antiga Faculdade de Comunicação de Santos, hoje UniSantos.

– Que funções você já exerceu no movimento espírita?

Não sei se dá para levar em conta um trabalho realizado junto à equipe do Divaldo Pereira Franco, em São Paulo, onde, na qualidade de jornalista, devia conseguir espaço na imprensa da cidade para a doutrina. Evidentemente encontramos muita resistência dos grandes jornais da Capital, mesmo o Divaldo tendo enviado da Bahia textos especiais para essa imprensa. Em 2004 participei do IV Congresso Espírita Mundial, em Paris, cidade que me cala fundo ao coração e em cujo país tenho um irmão (André Luiz) casado com uma francesa (Martine), os quais me deram três belos sobrinhos (Johanna, Kévin e Nils). No Centro Espírita Casa do Caminho, situado na Rua Itapeva, 131, Bairro Bela Vista, que freqüento desde 1987, fui Secretária e Vice-presidente. Hoje sou dirigente de trabalhos, expositora e professora (estudo do livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec). Durante mais de dez anos exerci o cargo de 1ª Secretária da Casa, assim como ministrei os cursos de Educação Mediúnica, Aprendizes do Evangelho, Básico I e II, Preparatório e estudo do livro “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, de Léon Denis. Sou ainda ex-dirigente dos trabalhos de Pintura Mediúnica, Higienização, Passes, entre outras atividades, como o atendimento de Orientação Espiritual para aqueles que chegam à nossa Casa pela primeira vez. 

– Que função exerce no momento?

Visando à renovação da Diretoria da Casa – já estávamos há mais de uma década nessa atividade -, eu e um grupo de diretoras saímos da diretoria para a inclusão de novos nomes. Hoje dirijo o estudo do livro O Céu e o Inferno e os trabalhos práticos de Obsessão-Desobsessão, e, eventualmente, o de Orientação Espiritual, na falta do responsável direto. 

– Quando você teve contato com o Espiritismo?

Papai (Atahualpa Thomé de Souza) foi quem nos levou à doutrina. Mamãe (Ana Maria Barreto de Souza), fundamentalmente católica, acabaria também se envolvendo com o Espiritismo, tornando-se médium passista no Centro Espírita Casa do Caminho, de Santos. Jamais tive outra doutrina religiosa. Abraçar a doutrina e seus ensinamentos foi algo bem natural, quase como um reencontro eu diria. 

– Dos três aspectos do Espiritismo – científico, filosófico e religioso – qual é o que mais a atrai?

O Espiritismo está calcado neste tripé e devemos considerar que nenhum é maior do que o outro, senão complementares uns aos outros. Portanto, considero que a nossa visão espírita deve ser completa nos três campos formando um conjunto harmônico. Se pegarmos o aspecto religioso, invariavelmente caímos nos dois outros compostos uma vez que a fé espírita deve ser raciocinada e sancionada pelos fatos e fenômenos. Meio de se evitar a fé cega que nada explica e nada justifica, científica e racionalmente. 

– Que autores espíritas mais lhe agradam?

Minha formação de base, além de Allan Kardec e Léon Denis, cujas obras absorvo com prazer, é completada por Hermínio C. Miranda, Vinícius, Chico Xavier (Emmanuel, André Luiz, Maria Dolores), Cairbar Schutel, Divaldo Pereira Franco (Joanna de Ângelis, Victor Hugo, Manoel Philomeno de Miranda), Paulo Alves Godoy, João Nunes Maia (Shaolin, Miramez, etc.), Amália Domingo Soler, Yvonne A. Pereira, Bezerra de Menezes, entre outros.   

– Que livros espíritas você considera de leitura indispensável aos confrades iniciantes?

Um livro que muito me ajudou no passado foi “Em Torno do Mestre”, de Vinícius. Acredito que todos os romances de Emmanuel são obrigatórios, sem falar na série deixada por André Luiz. Os livros de Zilda Gama também são bons. Mas o conhecimento doutrinário exige que passemos indubitavelmente pela Codificação. Quanta instrução e quantos ensinamentos morais não tiramos em “O Evangelho segundo o Espiritismo”! 

– As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz respeito ao chamado Espiritismo laico. Para você, o Espiritismo é uma religião?

O próprio Allan Kardec deixou bem claro o aspecto religioso da doutrina espírita, que está longe de seguir a fórmula das outras doutrinas com seus dogmas e preceitos sistemáticos. O aspecto religioso basicamente está contido nos ensinos de Jesus, caminho que nos leva a Deus. Entender esse caminho é a maneira encontrada para melhor formularmos nosso processo evolutivo desta para outra vida, pois, ensina “O Livro dos Espíritos”, o Espiritismo está inteiramente fundamentado na existência da alma e na sua situação depois da morte (Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, 7 – A Doutrina Espírita e a Ciência). 

– Outro tema que suscita geralmente debates acalorados, diz respeito à obra publicada na França por J. B. Roustaing. Qual é sua apreciação dessa obra?

Quando nos encontramos bem fundamentados nas obras deixadas por Allan Kardec, podemos ler de tudo sem nos deixar atingir por qualquer inovação ou conceito extraordinário. As “novas” explicações que aparecem – como a questão do corpo fluídico de Jesus - ficam por conta de quem as divulga. Devemos sempre nos basear no Codificador para quem uma verdade para ser verdadeira deve ser confirmada – a chamada universalidade do ensino.     

– O terceiro assunto em que a prática espírita às vezes diverge está relacionado com os chamados passes padronizados. Que você pensa a respeito?

A Espiritualidade de nossa Casa nos deixou um passe padronizado que tem beneficiado uma multidão de pessoas em seus 37 anos de atividade. Nas obras de André Luiz somos surpreendidos com tratamentos de passes, dirigidos a órgãos específicos das entidades auxiliadas pela equipe socorrista. Nós mesmos durante o passe sentimos nossas mãos serem dirigidas para determinados órgãos, conforme o caso. Mas sabemos que a simples imposição de mão também beneficia, quando impulsionada por uma fé ardente e um coração amoroso. Considero a padronização do passe como o Pai Nosso na abertura dos trabalhos: a união de pensamentos e sentimentos percorrendo a mesma estrada, aplainada de antemão por Jesus como uma comunhão de auxílio. 

– Como você vê a discussão em torno do aborto? No seu modo de ver as coisas, os espíritas deveriam ser mais ousados na defesa da vida como tem feito a Igreja?

Os espíritas não têm sido inativos neste aspecto. Todo texto espírita, toda entrevista com divulgadores espíritas, toda exposição espírita posiciona-se contra o aborto e mesmo os nossos políticos já sabem de nossa posição. No ano passado eu mesma encaminhei vários e-mails para alguns senadores, pedindo vigilância no assunto. Tenho certeza que os nossos órgãos representativos não estão sem agir. Apenas a imprensa dá menos destaque às nossas opiniões. A Igreja posicionar-se contra o aborto vende mais do que o Espiritismo tocar no assunto. O que somos nós para essa imprensa? Um percentual muito baixo de leitores. 

– A eutanásia, como sabemos, é uma prática que não tem o apoio da Doutrina Espírita. Kardec e outros autores, como Joanna de Angelis, já se posicionaram sobre esse tema. Surgiu, no entanto, ultimamente a idéia de ortotanásia, defendida até mesmo por médicos espíritas. Qual a sua opinião a respeito?

Entendamos primeiro o que cada palavra defende. Eutanásia é a prática pela qual se abrevia, sem dor ou sofrimento, a vida de um enfermo incurável. Já ortotanásia, segundo a literatura médica, consiste na não utilização de métodos ou medicações para o prolongamento da vida de um paciente terminal. Ou seja, dispensa-se qualquer recurso extraordinário nesse sentido. Analisemos agora as duas ações à luz da doutrina. Ora, a vida é um dom divino e o Mestre Jesus nos ensinou que devemos pagar até o último ceitil (Mateus, 5:26), isto é, deixar cumprir em nós as leis de Deus. Por que então recuamos diante das provas, particularmente aquelas que chegam via doenças? Por que esquecemos de testemunhar nossa fé, preferindo antes abreviar um sofrimento para encontrar outro ainda maior, qualificado pelo suicídio indireto provocado pela ortotanásia e pela eutanásia? Aprendemos na doutrina que na espiritualidade, antes de começar uma nova existência corporal, o Espírito escolhe o gênero de provas pelas quais quer passar (O Livro dos Espíritos, questão 258). Portanto, o recuo da prova é falta grave e demonstração de fé bem pequena, quase inexistente.  

– O movimento espírita em nosso país lhe agrada ou falta algo nele que favoreça uma melhor divulgação da Doutrina?

Devo confessar que se não temos amplo espaço na televisão e nem nas rádios, dominamos consideravelmente a internet, pois o número de sites espíritas ou sites que divulgam mensagens espíritas e mesmo alguns fundamentos doutrinários, é realmente impressionante. Mais do que qualquer outra doutrina, eu diria. Encontramos ainda facilmente revistas e jornais discutindo pontos preciosos da doutrina, com grande qualidade de dissertação. Os livros espíritas estão para a doutrina como os doces para as crianças: são indispensáveis. Neste quesito lamento somente o excesso de títulos comprometedores para a pureza doutrinária. Já as casas espíritas, isoladamente, têm sido boas representantes nesta propagação através dos trabalhos doutrinários e sociais junto à comunidade. Como nada nunca é suficiente temos muito ainda a realizar, pois para nós os meios de conquistas são sempre bem mais difíceis. Meios humildes, simples, que um dia frutificarão como as flores no jardim. Devemos parabenizar os pioneiros de hoje que não medem esforços e tempo nesses empreendimentos. É um trabalho de muito custo, tanto humano como monetário. 

– Como você vê o nível da criminalidade e da violência que parece aumentar em todo o país e como nós, espíritas, podemos cooperar para que essa situação seja revertida?

Podemos ajudar compreendendo o momento por que passamos. A humanidade carece de fraternidade e amor. Tudo na vida nos chama, nos convida para a materialidade. O homem se esquece do amanhã e vive tão-somente o hoje, negando-se a qualquer compromisso posterior. O resultado deste comportamento está expresso em cores vivas nos noticiários das rádios e televisões e dos jornais: dramas que se sucedem, cada um mais grave que o outro. Eis que o ensino da doutrina vem embasar o homem para o seu futuro imortal. Aí se encontra a grandiosa tarefa dos centros espíritas na divulgação do homem espiritual e o seu caminhar para o Pai. Muito trabalho nos aguarda nesse sentido e vivenciar a doutrina é parte do projeto, pois a fé sem obras é morta, como já dizia Tiago. 

– A preparação do advento do mundo de regeneração em nosso planeta já deu, como sabemos, seus primeiros passos. Daqui a quantos anos você acredita que a Terra deixará de ser um mundo de provas e expiações, passando plenamente à condição de um mundo de regeneração, em que, segundo Santo Agostinho, a palavra “amor” estará escrita em todas as frontes e uma equidade perfeita regulará as relações sociais?

Ah! estaremos realizando ainda múltiplas encarnações até que isso ocorra. Do jeito que a humanidade é preguiçosa e indiferente às coisas espirituais – veja que estamos ainda despertando, falta o testemunho -, podemos contar que muitos séculos correrão neste trajeto abençoado.    

– Em face dos problemas que a sociedade terrena está enfrentando, qual deve ser a prioridade máxima dos que dirigem atualmente o movimento espírita no Brasil e no mundo?

Ensinar e vivenciar a doutrina. Temos no Mestre Jesus que o exemplo é o melhor fundamento. Temos de levar a esperança aos desesperados, o conhecimento aos deserdados e a fé aos incautos.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita