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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 38 - 13 de Janeiro de 2008

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)

Arbítrio da intolerância

“Orai por mim. Orai, porque é agradável a Deus a prece que lhe é dirigida pelo perseguido em favor do perseguidor.” (Bispo de Barcelona.) 

Entre as efemérides de outubro, registra-se um dos últimos atos da medieval e impiedosa Santa Inquisição o auto-de-fé de Barcelona, último bastião da intolerância religiosa encharcado de prepotência...

Segundo informes contidos na Revue Spirite, participaram do auto: um sacerdote com os hábitos sacerdotais, com a cruz numa das mãos e uma tocha na outra; um escrivão encarregado de redigir a ata; o secretário do escrivão; um empregado superior da administração das alfândegas; três serventes da alfândega, encarregados de alimentar o fogo; um agente da alfândega representando o proprietário das obras condenadas.

Uma inumerável multidão enchia as calçadas e cobria a imensa esplanada na qual se erguia a fogueira.

Quando o fogo consumiu os trezentos volumes ou brochuras espíritas, o sacerdote e seus ajudantes se retiraram, cobertos pelas vaias e maldições de numerosos assistentes, que gritavam: “abaixo a Inquisição!”

As conseqüências desse arbítrio da intolerância foram bastante favoráveis ao Espiritismo.  Pela perseguição chama-se a atenção dos que a ignoravam para que possam conhecer o seu teor.   Graças ao zelo imprudente, toda a Espanha iria ouvir falar do Espiritismo e, desse modo, abrir-se aos seus postulados e ensinamentos.

Podem queimar-se os livros, mas não se queimam as idéias, pois, na verdade, as chamas da fogueira excitam-nas, no lugar de abafá-las.   Aliás, quando uma idéia é profunda e generosa, encontra milhares de corações prontos a absorvê-la.

Saint Dominique (Espírito), nesse propósito, nos conta:Era preciso que algo ferisse num golpe violento certos Espíritos encarnados, para que se decidissem a ocupar-se desta grande Doutrina que deve regenerar o mundo.   Nada é feito inutilmente em vossa Terra nesse sentido; e nós, que inspiramos o auto-de-fé de Barcelona, bem sabíamos que, assim agindo, contribuiríamos para um grande passo à frente.   Esse fato brutal, incrível nos tempos atuais, foi consumado a fim de atrair a atenção dos jornalistas que ficavam indiferentes ante a profunda agitação reinante nas cidades e nos Centros Espíritas.   Deixavam dizer e fazer, mas se obstinavam em não ouvir, e respondiam pelo mutismo ao desejo de propaganda dos adeptos do Espiritismo.   De boa ou má-vontade, é preciso que hoje falem:  uns constatando o histórico caso de Barcelona, outros o desmentindo, deram lugar a uma polêmica que fará a volta ao mundo e da qual só o Espiritismo aproveitará.   Eis porque hoje a retaguarda da Inquisição praticou o seu último auto-de-fé, porque assim o quisemos.”

O tempo passou, as chamas das fogueiras foram extintas e o ideal espírita alteia-se. Eis que o “Consolador” (Espiritismo) espraia-se sem fronteiras.

Podemos afirmar que a fogueira de Barcelona incendiou o rastilho que detonou universalmente as condições ensejadoras da célere propagação do Espiritismo.   Toda a Terra foi clareada pelas chamas que deveriam coibir a propagação da Luz do Conhecimento Espírita.

Notemos que o auto-de-fé transcende, em muito, o ato físico de queima dos livros espíritas.   O Pai Celestial serve-Se até mesmo da ignorância para a implantação do Reino da Verdade.    Surge, assim, a figura do Bispo de Barcelona como o instrumento utilizado para tal mister.   Ele cumpriu o seu papel na História, ainda que de forma inconsciente.   Por paradoxal que pareça, o auto-de-fé de Barcelona foi um projeto inteligente da Espiritualidade para a mais rápida propagação do Espiritismo.

O Bispo de Barcelona desencarnou no dia 9 de agosto de 1862. Kardec se dispunha a evocá-lo quando ele se manifestou espontaneamente a um dos médiuns e disse: “Não repilais nenhuma das idéias anunciadas porque um dia, um dia que durará e pesará como um século, essas idéias amontoadas gritarão como a voz do Anjo: Caim, que fizeste de teu irmão? Que fizeste de nosso poder que devia consolar e elevar a Humanidade? O homem que voluntariamente vive cego e surdo de espírito, como outros o são do corpo, sofrerá, expiará e renascerá para recomeçar o labor intelectual, que a sua preguiça e o seu orgulho o levaram a evitar; e essa voz terrível me disse: queimaste as idéias e as idéias te queimarão!”

Este contraste entre as palavras do Espírito e as do homem nada tem de surpreendente, pois há muitos indivíduos que, após a morte, pensam diversamente do que pensava na condição de encarnado, uma vez que estamos, por vontade, preso a ilusões.   Isso aconteceu com Santo Agostinho e muitas outras criaturas que, ao aportarem no Mundo Espiritual, puderam ter a visão da realidade, desembaraçada dos prejuízos mundanos.

O sentimento faccioso adia indefinidamente as mais sublimes edificações do Espírito.   Católicos, protestantes, espiritistas, judeus, muçulmanos, todos eles se movem ameaçados pelo monstro da separatividade e do sectarismo, como se o pensamento religioso traduzisse o fermento da discórdia.

Diz Emmanuel: “É muito grande o número de orientadores encarnados que se deixam arruinar pelas garras do separativismo perturbador. Espessos obstáculos impedem a visão da maioria. Querem todos que Deus lhes pertença, mas não cogitam de pertencer a Deus.”

Que o exemplo do Bispo de Barcelona lhes baste...

Atentemos às palavras de Dufêtre, Bispo de Nevers: “(...) Espiritismo! Doutrina consoladora e bendita! Felizes dos que te conhecem e tiram proveito dos salutares ensinamentos dos Espíritos do Senhor! Para esses, iluminado está o caminho...” (1) 

Fonte:

(1) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.  Rio de Janeiro: FEB, 2003, cap. X, item 18, § 2º.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita