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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 37 - 6 de Janeiro de 2008

MARIA ENY ROSSETINI PAIVA
menylins@terra.com.br
Lins, São Paulo (Brasil)

Espiritualizar-se com ecologia?

René atendera a todos nos trabalhos da noite, na Casa Espírita.  Agora, reunido com jovens, dispunha-se a ouvi-los como convidado e diretor doutrinário da entidade.

− Queremos, disse Ester, incentivar as crianças a conhecer Jesus, contando-lhes as parábolas para espiritualizá-las com o Evangelho.

− Ótimo, observou René, parece-me, no entanto, que esse mesmo trabalho é feito por nossos irmãos católicos e evangélicos. Não teríamos alguma coisa diferente para oferecer-lhes?

− É claro, atalhou Amílcar, com entusiasmo. Tenho solicitado que estudemos com as crianças temas atuais à luz do Evangelho segundo a Doutrina Espírita. No entanto, parece que sempre estamos estudando o Espiritismo segundo as tradições evangélicas ou católicas. Por que não possibilitar o entendimento de temas como ecologia, segundo as leis da conservação e destruição à luz da ciência? Ou também estudar as possibilidades de cada criança ou jovem se engajar na preservação da vida das espécies, no planeta e da paz na terra?

− Ora, disse Carmelita, a evangelizadora. Se estudamos Jesus, estudamos tudo isso...

− Não entendo assim, redargüiu Amilcar. Jesus pode ser entendido de forma medieval, segundo as tradições católicas e protestantes. Isso pode ocorrer, mesmo que falemos de reencarnação e comunicação de Espíritos, ou ainda que estejamos estudando a lei de ação e reação...

René ponderou, astuto:

− Em que poderia o estudo da Ecologia auxiliar na espiritualização do ser humano?

Três rostos surpresos se voltaram para ele:

− Em nada, já concluiu Ester. Em nada. Fora da visão de transformação trazida por Jesus, pelo amor, nenhum conhecimento é importante. Tudo se perde se o homem não se transforma...  Estudando ecossistemas não vamos nos melhorar, nem auxiliar o outro a se melhorar.

− Então, Amílcar, provocou René, estudar ecologia em nada melhora o homem? O sorriso de René era experiente e sagaz.

− Ao contrário, esclareceu Amílcar. A visão ecológica, mostrando que tudo está integrado em sistemas e ecossistemas, é altamente espiritualizante. Observe as questões de O Livro dos Espíritos, que esclarecem que o princípio inteligente se desenvolve na matéria e se une a ela para “intelectualizá-la”. Depois, a importância que Kardec dá ao encadeamento de tudo da Natureza. Só podemos entender bem isso, estudando Ecologia.

− Realmente, apoiou René, acho interessante que todos vocês procurem estudar essa visão que hoje chamamos sistêmica da vida para discutirmos com mais conhecimento.

− Ótimo, Carmelita se entusiasmou. O tal do “instruí-vos” cabe bem aqui. Como discutir o problema se nem sabemos que encadeamento é esse de que nos falam os Espíritos?

Abertos ao estudo, combinaram todos de pesquisar e marcar outro encontro com René, uma quinzena depois.

Decorridos os dias estabelecidos, entre estudos, telefonemas, e-mails, os jovens e o dirigente voltaram mais preparados à temática.

O clima era totalmente diverso. Discutia-se agora a importância da visão do sistema que unificava tudo sobre a Terra e como fazer para que todos tivessem essa visão grandiosa da beleza da vida e das ligações entre os seres vivos.

Cessara a insistência de Ester em copiar velhos modelos de catecismos e escolas dominicais. Os jovens queriam encontrar formas de trabalhar projetos em que as crianças pudessem entender o encadeamento da vida. Parecia importante que através da beleza da interdependência dos seres vivos ensinassem o amor, a compaixão e o respeito por todo o planeta.

O interesse por preservar a vida, a beleza da aquisição da consciência através da evolução, a importância do relacionamento entre os seres vivos, era discutida com reverência e paixão. Planejaram o estudo de diversos ecossistemas para mostrar a lei da conservação e da destruição em ação e em equilíbrio. Verificando a grandeza da vida e do Universo, programava-se fazer a criança e o jovem concluir que a humildade é o resultado da compreensão da grandeza da vida e da Criação Divina.

− O homem, entusiasmava-se Carmelita, é apenas o elemento de vida consciente no planeta, nem mais nem menos importante do que um animal ou vegetal. Tudo é solidário no planeta. Apenas nós destoamos do conjunto, porque a consciência nos dá a liberdade que nem sempre utilizamos de modo conveniente.

− Sem dúvida, concordou René, isso tudo nos faz entender por que a miséria é vergonhosa para todos nós e por que os Espíritos nos afirmam em O Livro dos Espíritos que “em uma sociedade organizada segundo a Lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome”.

− Entendi agora, explicava Ester, a razão por que os governos vêm insistindo para que crianças com déficit mental, físico ou qualquer outro problema, convivam na mesma sala de aula com crianças ditas normais. Recebê-las não é caridade, nem piedade. Elas têm direito natural de convivência com todos. Conviver e cooperar, é lei da Natureza, sem a qual estamos lesando a vida. Nenhum de nós é melhor que o outro e todos somos necessários uns aos outros.

Amílcar sentia-se compreendido:

− Não podemos mais pensar em rochas, animais e plantas como seres independentes uns dos outros. “Tudo se encadeia na natureza, do átomo ao arcanjo.”

− Kardec antecipa essa visão quando nos fala da importância dos arrecifes de corais no processo da vida e do desenvolver do princípio inteligente na matéria.

Ester insistia em ver ecologia mesmo nas parábolas do Mestre Jesus:

− As parábolas de Jesus referem-se muito à agricultura, aos pássaros, aos animais. Com certeza, já era Ele um ativista ecológico...

− Impossível saber, por enquanto, pelo menos, René sorria divertido. Nada impede você, porém, de iluminar sua compreensão das parábolas de Jesus, com explicações do relacionamento sistêmico entre minerais, vegetais e o homem.

− O que noto, insistiu Carmelita, é que essa visão me deixou menos pretensiosa e mais humilde, diante da natureza e suas Leis.

− Como assim, indaga Ester?

− Deixei de achar que o homem é o rei da criação, o ser mais importante do planeta. Percebi que a vida em si, conforme ensinam os Espíritos nas questões relativas aos três reinos de O Livro dos Espíritos, fabrica e molda o mundo material, pela ação do princípio inteligente, dos seres mais simples aos Espíritos angélicos. Assim, o princípio divino da inteligência, ao animar a matéria, molda e adapta o próprio mundo material e o mundo espiritual ao seu processo de evoluir.  O próprio meio ambiente vai se moldando às formas criadas pelo princípio inteligente em sua luta para atingir a consciência.

− Que coisa fenomenal! A vida cria a vida e muda o ambiente, nos dois planos, espantou-se Ester.  A vida realimenta a vida aqui e no plano espiritual.

− Que coisa, não? Um mundo atua sobre o outro e ambos vão se modificando pela ação do princípio inteligente existente em tudo e da consciência existente nos Espíritos.

René esclareceu:

− Vejam a perfeição do processo divino da criação que os estudos atuais nos fazem vislumbrar. Tudo interfere em tudo. A interdependência dos seres vai modificando os próprios seres vivos e tudo isso vai aperfeiçoando e alterando o ambiente, mantendo o equilíbrio entre minerais, vegetais e animais. Nos dois planos, espiritual e material, esse equilíbrio é indispensável à existência, ao desenvolvimento do princípio inteligente.

− No entanto, propôs Carmelita, o mundo espiritual é preexistente e sua matéria sobrevive a tudo, portanto é ele que determina.

− No entanto, brincou Amílcar, apesar de ser independentes, sua correlação é incessante, segundo O Livro dos Espíritos, porque reagem  um sobre o outro.

− Duvido, Ester se espantava, que o mundo material possa reagir sobre o espiritual. Ele é o real, o verdadeiro.

− No entanto, é o que nos ensina a questão 86, de O Livro dos Espíritos, e Amílcar compulsava o livro, mostrando a questão.

− Ester, explicou René, dizer que o mundo espiritual é o real, o verdadeiro, não implica dizer que o mundo material não é real, nem verdadeiro. Não é essa a posição dos Espíritos. Há correntes espiritualistas, especialmente derivadas do orientalismo que consideram a matéria “maya” ou ilusão, da qual devemos nos libertar.

− Para nós espíritas, o mundo material é imprescindível à evolução e os dois mundos interagem, agem um sobre o outro, Carmelita interferiu.

− Sem dúvida, voltou Amílcar, os que conseguem pensar segundo nos ensinam os sistemas vivos, percebem que o princípio inteligente se une à matéria por determinação divina, criando e recriando sua forma, aperfeiçoando os corpos vivos e o próprio meio ambiente. O mundo espiritual superior, supervisiona, mantém o processo, como um professor amparando a criança em seu aprendizado.

− Entendem agora por que a Doutrina Espírita nos ensina que o princípio inteligente evolui, torna-se consciente e só então é Espírito humano? Percebem agora por que os Espíritos nos ensinam que as entidades angélicas tornam-se alma do Universo, para co-criar com Deus?

− É mesmo, concordou Carmelita. Agora entendo por que existe esse ensino no livro O Céu e o Inferno.

− Percebem, continuou Amílcar, quanto ganhamos em compreensão da Doutrina Espírita ao compreender os princípios do movimento ecológico?

− Traduzir isso para os pequeninos... Eis o nosso desafio.

− Ora, riu René, vocês não são princípios inteligentes conscientes e que atingiram a liberdade? Tentem novos caminhos, mas não se esqueçam de que crianças, como os adultos, só aprendem com vivências práticas. Chega de discursos em que o ouvinte fica passivo!
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita