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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 36 - 23 de Dezembro de 2007

WELLINGTON BALBO
wellington_plasvipel@terra.com.br
Bauru, São Paulo (Brasil)

Kardec e a boa educação

Em um programa de televisão, assisti à entrevista que um jurista concedeu. Afirmou o conhecedor da lei que os constantes acidentes nas estradas brasileiras que causam cerca de 100 vítimas fatais todos os dias, acarretando um prejuízo de 22 bilhões aos cofres públicos por ano, tem como agente causador a deseducação do cidadão brasileiro no trânsito. Estou de acordo, aliás, creio que todos estamos.

E ainda brincando com os canais da televisão, encontrei no mesmo dia entrevista com dois educadores que afirmavam a necessidade de se investir substancialmente na educação para o desenvolvimento econômico de nosso país. Concordo, creio que o leitor amigo também.

E ainda na televisão, em outro programa de entrevistas, assistia ao ator, autor e diretor, Juca de Oliveira, pedir uma educação ética mais rigorosa por parte de pais, educadores e formadores de opinião.

O jurista se referia à educação no trânsito, os educadores se referiam à educação provinda dos livros e o ator discursava sobre uma educação rigorosa nos padrões de moralidade.

Dentro dessas três entrevistas encaixamos Kardec, o notável pedagogo francês, que, no século XIX, mostrava a necessidade de uma educação mais abrangente, que prepara o ser humano para atuar de forma ética em toda a sociedade. Uma educação poderosa, que causa uma revolução nos costumes, porque desperta o cidadão para uma visão abrangente da vida, demonstrando que, suas atitudes ecoam pelo universo.  Em O Livro dos Espíritos, no Capítulo Lei do Trabalho, Kardec faz comentário esclarecedor: “(...) Há um elemento que não se costuma considerar, sem o qual a ciência econômica torna-se apenas uma teoria: é a educação. Não a educação intelectual, mas a educação moral; não ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar o caráter, que dá os hábitos: porque educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Quando se pensa na massa de indivíduos lançados a cada dia na torrente da população, sem princípios nem freios e entregues aos próprios instintos, devem causar espanto as conseqüências desastrosas que resultam disso? Quando essa arte for conhecida e praticada, o homem trará hábitos de ordem e de previdência para si e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos angustiado os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que uma educação bem conduzida pode curar; aí está o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos (...)”.

Como prova da atualidade do comentário de Kardec podemos recorrer aos livros de história que escrevem em suas páginas afirmando que muitos dos preconceitos que nos impedem inclusive de grandes vôos no cenário econômico são frutos de um passado de desatenção quanto aos valores da educação moral. Muitas penitenciárias construídas demonstram que as noções básicas de moral e ética ou não foram transmitidas, ou foram deturpadas. Obviamente que há indivíduos refratários a qualquer tipo de instrução, contudo, também é verdade que muitos são aqueles que se desvirtuam do caminho do bem e da verdade porque lhes faltaram  noções elementares de respeito ao próximo.

Se levamos nossos filhos à escola para que adquiram noções básicas de determinadas matérias, deveríamos também iniciá-los nas questões concernentes a educação ética e moral.

Muitos dos crimes que presenciamos hoje na sociedade devem-se à forma permissiva com que lidamos com alguns deslizes morais. Acobertamos a mentira, a corrupção, pregamos a irresponsabilidade e depois nos desesperamos com as conseqüências. Grande parte desses acidentes de trânsito que ceifam vidas e acarretam enormes prejuízos ao país, são filhos da negligência com que tratamos as questões envolvendo as bebidas alcoólicas. Há postos de gasolina nas margens das rodovias que comercializam bebidas alcoólicas. Um trio quase que imbatível para a morte: venda de bebidas, estradas e direção. O brasileiro, infelizmente, se encaixa no padrão do motorista que bebe e dirige. O que vem a ser isso senão total deseducação.

Outro caso significativo foi de jovem escritor, habilidoso com as palavras, pois tinha facilidades para construção de frases, contudo, um desastre na distribuição de idéias. Pregava a liberdade, mas de forma deturpada, dizia que admirava aqueles que cometiam o suicídio porque os considerava livres, senhores de si mesmos. Em sua opinião o suicídio era um grito de liberdade, um ato de rebeldia para com uma sociedade injusta. O lamentável é que esse escritor distribuía seus textos em prol do suicídio pela internet, o que bem sabemos, pela sua velocidade alcança criaturas em diversos rincões do mundo em tempo recorde. Imagino o prejuízo que textos desse nível podem causar quando encontram corações combalidos e mentes dispostas ao auto-extermínio. Tivesse esse jovem uma educação sedimentada nas bases que Kardec propõe e jamais utilizaria seu talento em favor de idéias macabras.

Por isso podemos afirmar que todos os problemas que envolvem nosso mundo têm sua origem na deseducação das pessoas. Os acidentes, a fome, violência, analfabetismo, injustiças, são conseqüências de um mundo onde a educação ainda engatinha. Dia desses, vi estampado em mensagem seguinte frase: “Minha educação depende da sua”. Lamentavelmente é uma prova cabal de que não somos senhores de nossos atos, ou seja, se você me trata bem retribuo o tratamento, se me trata mal também retribuo seus “carinhos”. Frase típica de pessoas mal educadas. Ideal que funcionasse da seguinte forma: “Minha educação jamais depende da sua”. Sou senhor de meus atos e nada do que você faça irá tirar a serenidade com que lido com as situações, mesmo as mais complexas. Prova de educação e equilíbrio.

Por isso, fundamental que nos atentemos para a importância de nos educarmos moralmente, de modo que acidentes, fome, violência, intolerância e tantas barbaridades que grassam no mundo não encontrem eco em nossa maneira de proceder perante a vida.

Pensemos nisso.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita