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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 33 - 2 de Dezembro de 2007

WELLINGTON BALBO
wellington_plasvipel@terra.com.br
Bauru, São Paulo (Brasil)

Kardec e as armas de fogo

As crianças são portadoras de singular espontaneidade e simplicidade. Vêem o mundo real, o mundo como deve ser, sem as maquiagens sociais que nós adultos enxergamos e fazemos questão de enxertar em nossa vida. Dia desses, meu filho caçula de 4 anos, perguntou:

Pai, o policial é mau?

Respondi ao garoto:

Não, filho. Ao contrário, o policial é bom, ele observa se as pessoas estão se comportando bem ou não e, assim, prestam grande auxílio a todos nós.

O garoto, confuso com a resposta, tascou outra pergunta:  

Se ele é bom, pai, por que está armado?

Fiquei refletindo... Por trás dessa curiosidade infantil encerra-se grande verdade. A vida é tão simples, e nós, quando atingimos a idade adulta, complicamos tudo. Ficamos indiferentes à dor, à tristeza e penúria do semelhante. Alguns usam as armas de fogo, outros as armas da indiferença. Não sei quais as piores, ambas são cruéis. Usamos armas para nos defender de nossos próprios irmãos. Um contra-senso! Assustados, vivemos armados ou trancafiados em nossas casas, nos escondendo das pessoas, e, não raro, tratando o semelhante como fera que deve ser enjaulada e não criatura que deve ser educada; nos afastamos dos outros e convivemos tranqüilamente ao lado da miséria social que, freqüentemente, empurra as frágeis criaturas ao crime e desatino. Por isso, caro leitor, imperioso lembrar que, as armas de fogo e as armas da indiferença agridem, ceifam vidas, impõem medo, acarretam dores, disseminam a fome...

Para se ter uma idéia da triste realidade que assola a sociedade, segundo pesquisas, na cidade de Bauru, interior de São Paulo, onde vivem aproximadamente 400 mil habitantes, 54 mil vivem abaixo da linha da pobreza, ou seja, falta-lhes o necessário do necessário. Triste constatação!

Com relação às armas de fogo, a culpa por utilizá-las não é de nossos policiais, que se vêem obrigados a empunhar malfadado revólver para o desempenho de sua digna atividade profissional. São as contingências de um mundo onde a bondade ainda não impera.

Engraçado que nosso Brasil, com fama de país solidário e fraterno, que deveria exportar bondade ao resto do mundo, lamentavelmente exporta armas de fogo. Nestes últimos anos, confeccionamos 2,3 milhões de armas de pequeno porte, exportando cerca de 1,7 milhão. Sim, caro leitor, somos ao lado de países como China, Rússia e Estados Unidos, um dos maiores produtores de armas de pequeno porte do mundo. Apenas para saciar sua curiosidade, em cinco anos construímos um arsenal de armas cinco vezes maior do que aquelas que foram recolhidas na Campanha do Desarmamento em 2004, estão lembrados? Sem contar que algumas pesquisas apontam que cerca de 80% das armas apreendidas no Estado do Rio de Janeiro são pistolas e revólveres de produção brasileira, e não metralhadoras e fuzis importados. E armas, caro leitor, estimulam o crime, a violência, a belicosidade, imprimindo a insegurança, o medo, a desconfiança.

Segundo pesquisa do sociólogo e pesquisador da Unesco, Julio Jacobo Waiselfisz, entre os anos de 1979 e 2003, morreram no Brasil diariamente 100 pessoas vitimadas pelas armas de fogo. O Brasil registrou mais vítimas por armas de fogo do que nações que vivem em intenso clima de guerra, em triste belicosidade.

Sabedor de que a vida prossegue e que a violência, causada por arma de fogo ou não, é a predominância da bestialidade sobre a espiritualidade, Kardec formulou a seguinte pergunta aos sábios da espiritualidade:

P (746) O assassinato é um crime aos olhos de Deus?

R – Sim, um grande crime; porque aquele que tira a vida de seu semelhante corta uma vida de expiação ou de missão, e aí está o mal.

Inúmeras existências abreviadas pelo desrespeito à vida, provações adiadas, expiações reprogramadas, tempo desperdiçado...

Muitos crimes poderiam ser evitados se fôssemos mais prudentes e deixássemos de lado o orgulho, que, não raro, nos transforma em homens bárbaros a pedir vingança, querendo lavar uma suposta honra com o sangue do semelhante. Em crimes hediondos, freqüentemente alguns mais exaltados pedem pena de morte, considerando que os criminosos devem ser banidos, punidos através de sumárias execuções. Isso não resolve o problema da violência, tampouco sedimenta a paz em nosso planeta. Na realidade, apenas complica a situação porquanto atira esses Espíritos revoltados para o plano invisível, aonde irão, desprovidos do corpo físico, se irmanar a mentes encarnadas e desencarnadas que guardam afinidades com seus ideais de violência, deixando o clima psíquico do planeta mais denso, temperado pelas vibrações de rancor. O Espiritismo explica que a morte não é punição, porque o Espírito continua a existir, guardando as mesmas disposições íntimas que tinha quando revestido do corpo de carne.

Quem guarda o coração com nobres sentimentos e banha a mente com o pensamento positivo em relação à vida e ao semelhante, não precisa andar armado para se proteger. A melhor proteção que podemos ter está vinculada com nossas atitudes, que se condizentes com a moral do Cristo nos agraciarão com a serenidade própria daqueles que caminham em paz, mesmo vivendo em ambiente hostil. E se ainda assim formos vítimas da famigerada violência, nos lembremos que a vida continua e é melhor ser agredido do que agredir, ser usurpado do que usurpar. Quem sofre, de alguma forma trilha o caminho do Cristo, mas quem faz sofrer está se habilitando a resgatar suas ações imprudentes em futuro de dores e dissabores.

Por isso, precisamos nos conscientizar de que devemos exportar solidariedade, fraternidade, renúncia, compreensão, utilizando as armas do amor a explodir a granada da indiferença de nosso coração, porquanto, na sociedade ideal e pacífica que todos sonhamos, as balas são de hortelã, as bombas somente de chocolate e revólver apenas aquele que borrifa água em planta.

Pensemos nisso.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita