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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 33 - 2 de Dezembro de 2007

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniamva@yahoo.com.br 
Londrina, Paraná (Brasil)
 

Os pais e o benefício
da esperança
 

Qual deveria ser a atitude dos pais em relação aos seus filhos?

Ao pensar nesta pergunta, passei a escrever e deixei a inspiração balizar o seguinte impulso: “Escreva!“ Não tenho outra alternativa. Obedeço.

E eu não tinha intenção alguma de escrever sobre o papel dos pais em relação às suas crianças. Mas, de repente, veio-me à mente que as sociedades humanas projetam o melhor e o pior de si mesmas na educação dos seus filhos. Dessa maneira, não há como escapar da sensata afirmativa de Goethe: “só teremos filhos educados, quando tivermos pais educados”.

Aí a questão passou a se movimentar por conta própria à procura de respostas. Pensei na minha condição de filho-criança, o que fez levitar o conselho de Rousseau:

Não se pensa senão em conservar a criança; não basta; deve-se-lhe ensinar a conservar-se em sendo homem, a suportar os golpes da sorte, a enfrentar a opulência e a miséria, a viver, se necessário, nos gelos da Islândia ou no rochedo escaldante de Malta. Por maiores precauções que tomeis para que não morra, terá contudo que morrer. E ainda que sua morte não fosse obra de vossos cuidados, ainda assim estes seriam mal entendidos. Trata-se menos de impedi-la de morrer que de fazê-la viver. Viver não é respirar, é agir; é fazer uso de nossos órgãos, de nossos sentidos, de nossas faculdades, de todas as partes de nós mesmos que nos dão o sentimento de nossa existência. O homem que mais vive não é aquele que conta maior número de anos e sim o que mais sente a vida”. (1)

Resguardado ainda na memória de filho-criança, vem à tona a palavra “ninho”, que bem traduz a ambiência da família. Não pude, desse modo, escapar à assertiva de Emmanuel, o mentor de Francisco C. Xavier:

É impossível auxiliar o mundo, quando ainda não conseguimos ser úteis nem mesmo a uma casa pequena – aquela em que a Vontade do Pai nos situou, a título precário”. (2)

Ninho, família, educação são profundamente identificados se articulados às necessidades do filho-criança. Por isso, há razão nos antigos quando eles nos revelam uma cilada contemporânea, que teima em crer que educação se resume à instrução formal (a vida escolar, fadada ao vestibular). Ora, eles, preocupados com a formação do ser e, em conseqüência, com a conquista das virtudes, ensinam que a educação retém, essencialmente, o sentido de alimento, pois fundamental é o sabor das primeiras nutrições para a criatura que deve crescer não somente em estatura, mas também em qualidade de alma: de ser humano que tem o propósito de servir a si mesma e à sociedade.

Com isso, advém uma velha pergunta filosófica, sempre instigante e muito atual: o que torna o homem humano? Ou seja: que homem educar e para qual sociedade?  

A motivação filosófica dessas questões assinala uma trilha para uma sincera “paidéia”, que na expressão grega implica uma meta cultural como “princípio formativo”, à medida que reclama uma educação integral – física, estética, moral, política e religiosa.

Dessa maneira, como observador do filho-criança, suspeito que os pais devem preparar o terreno da criatura para que ela passe a dispor de um acervo apto a orientar a germinação (e crescimento) dos seus talentos e potências. Logo, na infância, tempo no qual o brinquedo tem serventia e os valores e sentimentos devem ser incentivados, o indivíduo precisa receber os primeiros princípios, regidos pela afetividade, para que, mais tarde, seja capaz de enfrentar, no momento do balanço de sua existência, duas perguntas importantes, referendadas pelo educador Roberto Crema: “Você foi você mesmo? O que fez com os talentos que lhe confiamos?” (3)

Desse modo, no caso contemporâneo, pai e mãe se transformam em guias e dão exemplos por meio de seus comportamentos e atitudes, o que pressupõe, necessariamente, a integração neles próprios dos princípios, valores e sentimentos que recomendam.

Ora, a atividade educativa é facilitar a cada um a possibilidade de se desenvolver a partir do foco da sua vocação, sem desconsiderar a condição humana, que deve dar impulso a uma prática exercitada pelos pais (os primeiros guias) irrigada pela esperança, pois esta última participa da natureza humana e é um tempero indispensável para a orientação de um ser que retorna ao cenário da Terra inacabado, mas predisposto a movimentar-se, pois em busca, e desse modo, esperançado.

E a vocação à qual me reporto contém a pergunta ordinária – “o que você vai ser quando crescer?”, estribada na utilidade social, mas não somente ela... A vocação, enquanto chamado do ser, canaliza, segundo os ditames do programa reencarnatório de cada indivíduo, o hábito da curiosidade histórica, do dinâmico ofício de viver e conviver, que são exigentes da alegria, da paz, do respeito pela natureza, da compaixão, da arte do “vigiai e orai”, do cântico silencioso da humildade, da tolerância, do perdão, dos sonhos que fazem voar e querer aprender sempre, pois há em todo ser humano uma determinante evolutiva – e ela orienta o passo para o encontro, um dia, da felicidade pura.

Mas, enquanto o mundo feliz não chega, penso na importância da bênção da esperança dada pelo meu pai antes do meu adormecer e a transcrevo por respeito e gratidão:

“– Meus desejos não são teus desejos e por isso te desejo boa vontade, alegria e bem. Por isto, meu filho, que Deus te abençoe e te guarde para que possa ser o que Ele confia que possa ser. Assim seja!”

Bibliografia:

(1)ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da Educação. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968, apud GADOTTI, M. História das idéias pedagógicas. São Paulo: Ática, 2006, p. 97.

(2) EMMANUEL (psicografia de Francisco C. Xavier). Pão nosso. 28 ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006, p. 249.

(3) WEIL, P., LELOUP, Jean-Yves, CREMA, Roberto. Normose: a patologia da normalidade. Campinas: Verus Editora, 2003, p.141.
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita