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Especial

Ano 1 - N° 33 - 2 de Dezembro de 2007

 

 

A família como instrumento
de redenção espiritual

No âmbito da família vem desaguar
um volume incalculável de conseqüências
mais ou menos penosas resultantes
de desacertos anteriores
 

O casamento é compromisso espiritual previamente negociado e acertado, ainda que nem sempre aceito de bom grado pelas partes envolvidas. São muitos os que se unem na expectativa de muitos anos de turbulência e mal-entendidos, porque estão em débito com o parceiro escolhido, precisamente, para se conciliarem, se ajustarem, se pacificarem e, caso não se amem, pelo menos se respeitem e estimem.

Numa situação dessas, mais freqüente do que poderíamos

Deolindo Amorim,
autor do texto ao lado

supor, a indissolubilidade absoluta a que se refere a Codificação seria, em tais casos, uma lei antinatural. Se um dos parceiros da união, programada com o objetivo de promover uma retificação de comportamento, utiliza-se insensatamente da sua faculdade de livre escolha, optando pelo ódio e a vingança, quando poderia simplesmente recolher o que lhe é devido por um devedor disposto a pagar, seria injusto uma lei que recusasse ao seu cônjuge, alvo do tormento, o direito de recuar do compromisso acordado, modificar seus termos, ou adiar a execução, assumindo, é claro, todas as responsabilidades decorrentes de seus atos.

A lei divina não contempla a violência que um parceiro se disponha a praticar sobre o outro. Além do mais, a dívida não é apenas relativa ao indivíduo prejudicado, mas também condiz com o teor da própria lei divina desrespeitada.

Ora, no momento em que arruinamos ou assassinamos alguém, cometemos, claro, um delito pessoal da maior gravidade. É preciso lembrar, contudo, que a vítima também se encontra envolvida com a lei, que, paradoxalmente, irá exigir a reparação da falta cometida, não para vingá-la, mas para desestimular o faltoso, mostrando-lhe que cada gesto negativo cria sua matriz de reparação.  

"O divórcio é admissível em situações de
grave conflito, nas quais  a separação legal
assume a condição de mal menor
"

O Cristo foi enfático e preciso ao ligar sempre o erro à dor do resgate. “Vai e não peques mais, para que não te aconteça coisa pior”, disse Ele. Não há sofrimento inocente, nem cobrança injusta ou indevida. Assim, a própria vítima de um gesto criminoso é também um ser endividado perante a lei, por alguma razão concreta anterior, ainda que ignorada. Se, em lugar de reconciliar-se, ela se vingar, estará reabrindo sua conta com novo débito em vez de saldá-la.

A lei natural, portanto, não prescreve a indissolubilidade absoluta do casamento, como a caracterizou Kardec na sua pergunta. Conseqüentemente, a lei humana não deve ser mais rigorosa do que a lei natural, que lhe é superior; deve ser flexível, abrindo espaço para as opções individuais do livre-arbítrio.

Contudo, tal flexibilidade está longe de significar uma atitude de complacência ou de estímulo à separação dos casais em dificuldades. O divórcio é admissível em situações de grave conflito, nas quais a separação legal assume a condição de mal menor, em confronto com opções potencialmente mais graves que projetariam ameaçadoras tragédias e aflições imprevisíveis: suicídios, assassinatos e conflitos outros que destroem famílias e acarretam novos e pesados compromissos, em vez de resolver os que já participam da chamada auto-herança.

Convém, portanto, atentar para todos os aspectos da questão e não ceder precipitadamente ao primeiro impulso passional ou à solicitação do comodismo ou do egoísmo. Dificuldades de relacionamento são esperadas na grande maioria das uniões que se processam em nosso mundo ainda imperfeito. Não deve ser desprezado o importante aspecto de que o casamento foi combinado e aceito com a necessária antecipação, precisamente para neutralizar diferenças e dificuldades que persistem entre dois ou mais Espíritos.

O que a lei divina prescreve para o casamento é o amor, na sua mais ampla e abrangente conotação, no qual o sexo é apenas a expressão física de uma profunda e serena sintonia espiritual. Entretanto, estas uniões são ainda a exceção e não a regra geral. Elas se perfazem entre aqueles que, na expressão de Jesus, Deus juntou, de acordo com a imutável perfeição de suas leis. Que ninguém os separe, mesmo porque, atingida essa fase de sabedoria, entendimento e serenidade, os Espíritos se comportam segundo a vigência da lei divina, que já os uniu pelo vínculo supremo do amor. 

"O trabalho de reconciliação com Espíritos
que prejudicamos com o descontrole
de nossas paixões nunca é fácil

Em suma, recuar ante uma situação de desarmonia no casamento, de um cônjuge difícil ou de problemas aparentemente insolúveis, é gesto de fraqueza e covardia de graves implicações. Somos colocados em tais situações precisamente para resolvermos conflitos emocionais que nos barram os passos no caminho evolutivo. Estaremos recusando exatamente o remédio prescrito para curar mazelas persistentes que se arrastam, às vezes, por séculos ou milênios, pois aderidas a nossa estrutura espiritual.

A separação e o divórcio constituem, assim, atitudes que não devem ser assumidas sem a prévia e profunda análise ou uma demorada meditação que nos levem à plena consciência das responsabilidades envolvidas.

Como escreveu Paulo, com admirável lucidez e poder de síntese: “Tudo me é licito, mas nem tudo me convém”.

O Espiritismo não é doutrina do não, mas sim da responsabilidade. Viver é escolher, é optar, é decidir. E a escolha é sempre livre dentro de um leque relativamente amplo de alternativas. A semeadura, costumamos dizer, é voluntária; a colheita, por sua vez, é sempre obrigatória.

É no contexto da família que vem desaguar um volume incalculável de conseqüências mais ou menos penosas, resultantes de desacertos anteriores, de decisões tomadas ao arrepio das leis flexíveis e, ao mesmo tempo, severas, que regulam o universo ético no qual estamos inseridos.

Para que um dia possamos desfrutar o privilégio de viver em comunidades felizes e harmoniosas, aqui ou no mundo póstumo, temos de aceitar, ainda que relutantemente, as regras do jogo da vida. O trabalho de reconciliação com Espíritos que prejudicamos com o descontrole de nossas paixões nunca é fácil e, por isso, o comodismo nos empurra para o adiamento das lutas e renúncias, afastando-nos do caminho da vitória.

Como foro natural de complexos problemas humanos e núcleo inevitável das experiências retificadoras, a família, pela qual somos responsáveis, é instrumento da redenção individual e, por extensão, do equilíbrio social. Logo, não exigiria nenhuma outra razão para ser estudada com seriedade e preservada com firmeza nas suas estruturas e nos seus propósitos educativos.


O saudoso confrade Deolindo Amorim, jornalista, escritor e professor, natural da Bahia, já desencarnado, é autor de "O Espiritismo e os Problemas Humanos", de onde foi extraído o texto acima.


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita