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Crítica Literária

Ano 1 - N° 24 - 28 de Setembro de 2007

MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br

Londrina, Paraná (Brasil)

Será correto escrever Espírito Vianna de Carvalho?

Não existe um motivo real para que as editoras designem
 os desencarnados de modo diferente do utilizado
pelo próprio Codificador do Espiritismo

Houve uma época, como mostram as capas de livros reproduzidas ao lado, em que as editoras espíritas seguiam na identificação da autoria das obras mediúnicas o modelo utilizado por Allan Kardec, que jamais escreveu ‘Espírito São Luís´, mas ‘Espírito de São Luís´, ‘Espírito de Santo Agostinho´, 'Espírito de Jobard' e expressões semelhantes.

Qualquer que fosse a Editora, o modelo observado era  o mesmo:

  • Espírito de Joanna de Ângelis (Editora Pensamento)

  • Espírito de André Luiz (Editora da FEB)

  • Espírito de Vianna de Carvalho (Livraria Alvorada Editora, de Salvador-BA)

  • Espírito de Emmanuel (Comunhão Espírita Cristã de Uberaba).

Depois, sem que se saiba exatamente o porquê da mudança, as editoras resolveram inovar e, por causa disso, aboliu-se a preposição “de” que unia o vocábulo ‘Espírito´ ao nome pelo qual a pessoa foi conhecida na Terra.

Dessa maneira, passou-se a ver nas capas dos livros mediúnicos nomes como ‘Espírito André Luiz´, ‘Espírito Eurípedes Barsanulfo´, ‘Espírito Joanna de Ângelis´, como se essas personalidades desencarnadas adotassem no plano espiritual exatamente esses nomes.

A estranheza causada pela mudança deve-se a estes dois motivos:

1o. Não existe razão para que se despreze o modelo kardequiano, que é, como veremos adiante, o mais lógico e o mais coerente com relação ao assunto.

2o. Os vultos mais importantes do Espiritismo, e não apenas Allan Kardec, valeram-se de modelos idênticos ao adotado pelo Codificador. Dentre eles podemos citar Léon Denis, Gabriel Delanne, Carlos Imbassahy, Cairbar Schutel e muitos outros, inclusive Francisco Cândido Xavier.

O equívoco de abolir-se a partícula “de” – Digamos que um familiar nosso tenha desencarnado. Se um vidente registrar sua presença em um recinto qualquer, como é que ele vai designá-lo? Se for nosso pai, ele dirá ‘o Espírito seu pai está aqui’, ou ‘o Espírito de seu pai está aqui’?

A resposta a essa pergunta nem precisa ser dita, porque é óbvia. Com efeito, diremos – e todos o fazem assim – ‘o Espírito de meu pai vai muito bem´, `o Espírito de mamãe está ótimo´, ‘ontem tivemos uma comunicação do Espírito de vovó´.

Imaginemos agora que, em vez de usarmos os vocábulos pai, mãe, vovó, decidimos utilizar os nomes que eles usaram na última existência, isto é, Antônio, Maria, Joana. Ninguém tem dúvida de que diríamos: ‘o Espírito de Antônio se comunicou´, ‘o Espírito de Maria é bem evoluído´ e assim por diante.

A razão deste procedimento é óbvia. Os nomes mencionados dizem respeito à pessoa encarnada e nada têm que ver com o ser desencarnado. O Espírito de Eurípedes Barsanulfo, por exemplo, utilizou outros nomes em existências anteriores, do mesmo modo que Allan Kardec foi, no passado, Jan Huss, e Emmanuel teria sido Manoel da Nóbrega. Não há, pois, um Espírito chamado Vianna de Carvalho, mas existe, sim, um Espírito de um homem que se chamou na Terra, em sua  última  encarnação,  Vianna  de Carvalho, aliás um

dos maiores oradores espíritas de todos os tempos. Simplificando a expressão, diríamos: ‘Espírito de Vianna de Carvalho´.

Essa é a verdadeira razão pela qual Allan Kardec, um especialista na língua francesa e autor de uma Gramática Francesa Clássica, escrevia – ao referir-se aos desencarnados – Espírito de São Luís (Revista Espírita de 1858, pp. 76, 155 e 271), Espírito de Mozart (Revista Espírita de 1858, p. 142), Espírito do Sr. Badet (Revista Espírita de 1858, p. 187), modelo que jamais abandonou, o que pode ser aferido com facilidade na sua obra. (Consultem-se a respeito os volumes da Revista Espírita de 1858, pp. 178, 205, 265, 315 e 330; da Revista Espírita de 1859, pp. 41, 64, 73, 134, 175, 190, 222, 249 e 405; e da Revista Espírita de 1860, pp. 28, 31, 93, 170, 199, 220 e 384.)

Diferença entre alma, Espírito e homem – Em importante estudo publicado na Revista Espírita de 1864, pp. 138 e 139, Allan Kardec estabeleceu com clareza a distinção que existe entre alma, Espírito e homem.

A alma – diz o Codificador –  é, a bem dizer, o princípio inteligente, imperceptível e indefinido como o pensamento, que não podemos conceber isolado da matéria de maneira absoluta. Embora formado de matéria sutil, o perispírito dela faz um ser definido, limitado e circunscrito à sua individualidade espiritual.

Desse modo, podemos dizer: a união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o HOMEM; a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ESPÍRITO. Nas manifestações não é, pois, a alma que se apresenta só. Ela está sempre revestida de seu envoltório fluídico. Portanto, nas aparições não é a alma que se vê, mas o perispírito que a envolve, do mesmo modo que, quando se vê um homem, vê-se o seu corpo, mas não o pensamento ou o princípio que o faz agir.

Em resumo – conclui Kardec – a alma é o ser simples, primitivo; o Espírito é o ser duplo; o homem é o ser triplo.

Apliquemos o ensinamento acima ao caso de Jésus Gonçalves, que teve, conforme sabemos, quatro conhecidas encarnações anteriores àquela em que ficou conhecido como Jésus Gonçalves. Uma delas foi o célebre cardeal Richelieu.

Como designar, desse modo, o Espírito que animou essas personalidades? 

É claro que poderemos designá-lo Espírito de Jésus Gonçalves ou Espírito do cardeal Richelieu, expressões que designam com clareza a entidade a que nos referimos, porque, em verdade, Jésus Gonçalves ou Richelieu foram nomes dados ao “homem”, um ser triplo, e não ao “Espírito”, um ser duplo, na conceituação kardequiana a que acima nos referimos.

Em outras palavras, o nome adotado pelo “homem” não pode ser simplesmente transferido ao “Espírito” que o animou na última existência, porque esse nome não diz respeito ao desencarnado, que teve outros nomes em existências anteriores, mas ao encarnado. Por isso, é um equívoco dizermos ‘Espírito Jésus Gonçalves´, como fez a Editora O Clarim ao publicar as três obras que Célia Xavier Camargo psicografou escritas pelo extraordinário poeta que nos legou o livro “Flores de Outono”. 

Os maiores vultos do Espiritismo escreviam como Kardec

Em um assunto como este que aqui tratamos bastar-nos-ia o exemplo dado pelo Codificador do Espiritismo e isto por duas boas razões:

1a. Kardec sabia como ninguém utilizar o vocabulário indispensável à compreensão da doutrina por ele codificada, fato que o levou até mesmo a criar alguns neologismos, como os vocábulos perispírito, Espiritismo, espiritista etc.

2a. O Codificador foi um educador devotado ao ensino de várias disciplinas, inclusive da língua francesa, sendo autor de uma Gramática Francesa Clássica. Não era, portanto, um autodidata ou um neófito em assuntos de linguagem.

Ocorre, porém, que os maiores vultos do Espiritismo, a exemplo de Chico Xavier, também se referiam aos Espíritos valendo-se da forma adotada por Kardec.

Eis alguns exemplos que ilustram o que afirmamos.

1. Léon Denis:

“Um outro amigo de Stead, o Sr. Chedo Mijatovich, ministro plenipotenciário da Sérvia em Londres, viu o Espírito de Stead e lhe falou por alguns instantes.” (O Além e a Sobrevivência do Ser, FEB, p. 60.)

“Na sessão seguinte, o Espírito de Eduardo, dirigindo-se à mãe, disse: ‘Não compreendeste que fui eu quem impeliu a médium a colher aquela flor e a oferecê-la a ti, em minha lembrança?” (Ibidem, p. 56.)

“Depois de tratar dos esforços empregados nesse sentido pelos Espíritos de Gurney, Hodgson e Myers, em particular, o orador acrescenta...” (Ibidem, p. 51.)

“A linguagem da médium, correta e escolhida quando desperta, tornava-se confusa, arrastada, semeada de lapsos e de expressões regionais durante o sono magnético, quando o Espírito de Sofia intervinha em nossas sessões.” (Cristianismo e Espiritismo, FEB, p. 192.)

“Era por intermédio de um deles (...) que se manifestava o Espírito do cônego Xavier Mouls, sacerdote de grande valor e acrisoladas virtudes, a quem se deve a vulgarização do magnetismo e do Espiritismo nos ‘corons´ do vale.” (Ibidem, p. 242.)

2. Gabriel Delanne:

“Seus convidados de então eram os Espíritos de Sedaine, Sévigné, Sapho, Molière, Shakespeare, e foi no meio destes que ela morreu.” (O Fenômeno Espírita, FEB, p. 55.)

“O Espírito de Bertie, que apenas acabara de abandonar o seu corpo, entra na sala, fazendo girar a maçaneta da porta.” (A Alma é Imortal, FEB, p. 126.)

“Apesar de tão minuciosas precauções, o Espírito de Katie e o da Sra. Fay se mostraram como de ordinário, o que provou a perfeita independência da aparição.” (Ibidem, p. 254.)

“A primeira letra batida lhes fez crer que conseguiriam o que desejavam; (...) era o Espírito de Lívia que batia, dizendo obrigado.” (Ibidem, p. 73.)

3. Carlos Imbassahy:

“Este fato probante, testemunhado por Crookes com relação ao Espírito de Katie King, deu-se várias vezes com Eusápia e vários foram os experimentadores que o verificaram.” (O Espiritismo à luz dos fatos, FEB, p. 211.)

“O Espírito de Spencer Stattforde revelou à médium Mme. d´Esperance a possibilidade da telefonia, isto 30 anos antes dessa prodigiosa invenção e sendo a médium ignorante em questões de física.” (À Margem do Espiritismo, FEB, p. 205.)

“Entre outras coisas impressionantes e de caráter técnico, só compreensíveis pelos aeronautas, disse mais o Espírito de Irwin, que o seu navio aéreo tinha quase batido nos telhados de Achy.” (Ibidem, p. 200.)

“Então, pela boca da médium adormecida, o Espírito da Sra. Joubert assim falou...” (Ibidem, p. 182.)

“Bem razão assistia ao Espírito do Dr. Demeure.” (A Missão de Allan Kardec, edição da Federação Espírita do Paraná, p. 61.)

4. Cairbar Schutel:

“O Espírito de São Luís deu o seguinte conselho, que muito orientará os estudantes...” (Médiuns e Mediunidade, O Clarim, p. 58.)

“O rei Saul invoca o Espírito de Samuel pela pitonisa de Endor.” (Ibidem, p. 68.)

“Foi então que apareceram os Espíritos de Moisés e Elias.” (Ibidem, p. 73.)

5. Bezerra de Menezes:

“Certa noite fui surpreendido com um chamamento vibrante do Espírito de Pamela.” (A Tragédia de Santa Maria, FEB, p. 53, obra psicografada por Yvonne A. Pereira.)

6. Humberto Mariotti:

“... tengo varios livros de poemas que me permito atribuir al Espíritu de Pablo Neruda y de otros poetas y escritores.” (Kardec, irmãs Fox e outros, de Jorge Rizzini, EME Editora, p.173.)

7. Yvonne A. Pereira:

“Numa sessão, o Espírito de Lélia forma com um sopro, aos olhos dos assistentes, um tecido leve de gaze branca...” (Devassando o Invisível, FEB, p. 45.)

“No ano de 1915, no correr de memorável sessão a que assistiram nossos pais, (...) o Espírito do Dr. Bezerra de Menezes anunciou o advento do Rádio e da Televisão...” (Ibidem, p. 177.)

8. Martins Peralva:

“Todo espírita ganharia muito se lesse, meditando, o capítulo História de um Médium, do livro ‘Novas Mensagens´, do Espírito de Humberto de Campos.” (Estudando a Mediunidade, FEB, p. 19.)

9. Suely Caldas Schubert:

“Isto nos traz à mente, uma vez mais, a referência que o Espírito de Galileu faz, em ‘A Gênese´, das questões sobre as quais deveria silenciar, apesar de já as ter aprofundado para si mesmo.” (Testemunhos de Chico Xavier, FEB, p. 377.)  

Como Chico Xavier designava os Espíritos

A forma adotada por Allan Kardec ao designar os Espíritos não era estranha a Francisco Cândido Xavier, que em várias situações, ao designar esse ou aquele Espírito, procedia do mesmo modo como o fazia o Codificador do Espiritismo.

Eis alguns exemplos comprobatórios dessa assertiva.

Em 3 de outubro de 1955, quando já havia completado 45 anos de idade, Chico escreveu, em carta dirigida ao presidente da FEB:

“Nas coleções do Aurora, de 1928 a 1932, há numerosos trabalhos do Espírito de João de Deus, cuja autoria somente pude reconhecer, mediunicamente, em 1931. Não conseguiríamos as coleções dos anos referidos para que eu pudesse fazer um reestudo e minuciosa vistoria?” (Testemunhos de Chico Xavier, de Suely Caldas Schubert, p. 332).

O modo como Chico se refere ao Espírito de João de Deus era-lhe um procedimento habitual, como demonstra este trecho do prefácio que ele próprio redigiu, em 16 de setembro de 1937, para a abertura do livro “Emmanuel”, publicado pela Editora da FEB:

“Lembro-me de que em 1931, numa de nossas reuniões habituais, vi a meu lado, pela primeira vez, o bondoso Espírito de Emmanuel.

Eu psicografava, naquela época, as produções do primeiro livro mediúnico, recebido através de minhas humildes faculdades e experimentava os sintomas de graves moléstia dos olhos” (Emanuel, prefácio, p. 11).

A mesma maneira de designar as entidades desencarnadas seria por ele ratificada em 1967 no depoimento que deu a Elias Barbosa, o qual faz parte da obra “No Mundo de Chico Xavier”, escrita pelo conhecido confrade uberabense:

“Como passou a sua mediunidade psicográfica dessa fase de indecisão para a segurança precisa?

Resposta de Chico Xavier: - Isso aconteceu em 1931, quando o Espírito de Emmanuel assumiu o comando de minhas modestas faculdades. Desde aí, tudo ficou mais claro, mais firme. Ele apareceu em minha vida mediúnica assim como alguém que viesse completar a minha visão real da vida.”
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita