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Entrevista
Ano 1 - N° 2 - 25 de Abril de 2007

MARCELO BORELA DE OLIVEIRA

mbo_imortal@yahoo.com.br

Londrina, Paraná (Brasil)

Dezenove questões com
Delanne e Divaldo
 
 

No dia 20 de agosto de 1965, em Paris, França, André Luiz, o conhecido autor da série “Nosso Lar”, entrevistou Gabriel Delanne, que formou ao lado de Allan Kardec e Léon Denis o trio de autores mais importantes que já escreveram sobre o Espiritismo em nosso mundo.

   Divaldo Pereira Franco

No preâmbulo da entrevista, que o leitor encontrará no livro “Entre Irmãos de Outras Terras”, psicografado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira (FEB, julho de 1966), André Luiz escreveu: “Presente Gabriel Delanne, um dos mais destacados continuadores de Allan Kardec, em nossa reunião desta noite, formulamos respeitosamente para ele as questões que passamos a enumerar...”

Foram, no total, 20 questões. A primeira tratou do trabalho que Delanne desenvolvia naquela oportunidade: “Caro amigo, estimamos colocar-nos na posição de nossos irmãos, ainda encarnados, para endereçar-lhe algumas perguntas de suma importância para eles que militam no plano físico. Prossegue em sua ação espírita de outro tempo, não obstante residindo agora além da Terra?” Delanne respondeu: ‘Sim, tanto quanto possível, dentro das minhas reduzidas possibilidades”.

As 19 questões seguintes trataram do Espiritismo e da expansão da Doutrina Espírita na França e na Europa, assuntos que, passados mais de 41 anos, resolvemos submeter à apreciação do estimado confrade Divaldo P. Franco (foto), cujo papel no ressuscitamento do Espiritismo na Europa é de todos conhecido.

Reproduzimos aqui as 19 questões tais como se encontram na obra citada, às quais Divaldo acrescentou o complemento ou o comentário que lhe pareceu necessário:   

André Luiz: Que nos diz acerca do Espiritismo, na França?

Gabriel Delanne: Não nos é lícito dizer haja alcançado o nível ideal...

Divaldo P. Franco: Após o retumbante êxito do Congresso Mundial de Espiritismo, que teve lugar em Paris no período de 2 a 5 de outubro de 2004, por ocasião do bicentenário de nascimento de Allan Kardec, o Espiritismo ensaiou na França um passo mais audacioso. Nada obstante, conforme assevera o nobre espírito Gabriel Delanne, ainda não alcançou o nível ideal… 

André: Em se tratando do berço de Allan Kardec, ser-nos-á permitido indagar a razão disso?

Delanne: Não podemos esquecer que a França nos últimos vinte lustros sofreu a carga de três grandes guerras que lhe impuseram sofrimentos e provas terríveis.

Divaldo: Na atualidade, as injunções difíceis que vive a Europa têm dificultado a expansão da Doutrina Espírita, não apenas na França, mas também em diversas outras nações, que se encontram comprometidas com o materialismo no seu tríplice aspecto: científico, filosófico e dialético. Apesar disso, verdadeiros missionários que se encontram reencarnados na França e nos demais países estão desenvolvendo, com esforços hercúleos, os programas de divulgação da Doutrina Espírita, com vistas ao futuro melhor da humanidade. 

André:  Considera que isso tenha atrasado a marcha do Espiritismo?

Delanne:  De modo algum. Legiões de companheiros da obra de Allan Kardec reencarnaram, não só na França, mas igualmente em outros países, notadamente no Brasil, para a sustentação do edifício kardequiano.

Divaldo: Desde a criação do CEI – Conselho Espírita Internacional – que as atividades doutrinárias vêm recebendo melhores cuidados, ensejando a realização de Congressos, de Encontros e de Seminários, especialmente na França e noutros países da Europa. Igualmente merece consideração o esforço desenvolvido pelos devotados companheiros que ressuscitaram a Unión Spirite Française et Francophone, que vem desenvolvendo um papel relevante na estruturação do Espiritismo no abençoado país de nascimento de Allan Kardec. 

André: Acredita que a Europa retomará a direção do movimento espírita?

Delanne: Antes de tudo, devemos considerar que a Europa assemelha-se, atualmente, a vasto campo de guerra ideológica, que está muito longe de terminar...

Divaldo: Em face das dificuldades referidas, não creio na possibilidade momentânea de a Europa, pelo menos por enquanto, assumir esta alta e significativa responsabilidade, que se encontra delegada ao Brasil. 

André:  Admite que os princípios espíritas estão caminhando lentamente no mundo?

Delanne: Não penso assim... As atividades espíritas contam pouco mais de um século, e um século é período demasiado curto em assuntos do espírito.

Divaldo: Neste momento, no qual comemoramos o Sesquicentenário de lançamento de O Livro dos Espíritos, em Paris, no dia 18 de abril de 1857, o movimento espírita europeu já é uma realidade bem diversa daqueles dias em que a excepcional entrevista foi realizada pelo querido mentor André Luiz, em razão das muitas instituições que surgiram em quase todo o continente europeu e vêm crescendo expressivamente. 

André:  Muitos amigos na Terra são de parecer que os Mensageiros da Espiritualidade Superior deveriam patrocinar mais amplas manifestações da mediunidade de efeitos físicos para benefício dos homens, como sejam materializações e vozes diretas. Que pensa a respeito?

Delanne: Creio que a mediunidade de efeitos físicos serve à convicção mas não adianta ao serviço indispensável da renovação espiritual. Os Espíritos Superiores agem acertadamente em lhe podando os surtos e as motivações, para que os homens, nossos irmãos, despertem à luz da Doutrina Espírita, entregando a consciência ao esforço do aprimoramento moral.

Divaldo: A humanidade vivencia períodos específicos para o seu desenvolvimento intelecto-moral. As materializações e outros fenômenos de grande porte foram canalizados em momento adequado, no passado, havendo conseguido o mister para o qual foram realizados. Neste momento, os efeitos dos ensinamentos morais do Espiritismo são mais importantes do que as manifestações retumbantes, considerando os sofrimentos que se abatem sobre as criaturas, necessitadas mais de diretrizes morais para o seu desenvolvimento espiritual do que de demonstrações da imortalidade, já amplamente confirmada por muitos cientistas e milhões de outros indivíduos lúcidos. 

André: Conquanto tenha essa opinião, julga que o Espiritismo precisa atender ao incremento e melhoria da mediunidade?

Delanne: Não teríamos o Evangelho sem Jesus-Cristo e não teríamos Jesus-Cristo sem o socorro aos sofredores pelos processos mediúnicos que lhe caracterizaram a presença na Terra.

Divaldo: A mediunidade aplicada ao serviço do bem, consolando e conduzindo as mentes e os sentimentos humanos na direção do amor, conforme o viveram Jesus e os Seus primeiros discípulos, é o objetivo do Espiritismo neste momento de aflições generalizadas que dominam as pessoas individualmente e as massas coletivamente. 

André: A Ciência terrestre de hoje se mostra ávida de contacto com outros mundos e, por isso, não seria interessante que os Espíritos fizessem por vários médiuns descrições da vida em outros planetas.

Delanne: Isso é útil, desde que o problema seja apreciado nas dimensões justas. Espíritos comunicantes podem descrever para os homens cidades prodigiosas e avançados sistemas sociais em planos de matéria que não aquela no estado em que é conhecida, medida e pesada na estância terrena. O homem físico, ainda mesmo de posse de mais avançada instrumentação, apenas vê ínfima parte do Universo.

Divaldo: Mesmo que os Espíritos nobres apresentassem as mais expressivas informações em torno da vida em outros mundos, a questão ficaria sempre em aberto, aguardando a confirmação dos estudiosos em torno da magna questão e das suas demonstrações de laboratório. Ademais, isto poderia desviar os espíritas do essencial objetivo da sua transformação moral, para cuidarem de informações e descobertas que ao ser humano encarnado, e somente a ele, compete realizar. 

André: A que atribuirmos semelhante restrição?

Delanne: À estrutura do olho humano, formado para suportar apenas determinada quota de observação da vida em si.

Divaldo: A dúvida sistemática sempre disposta a opor barreiras a tudo quanto não pode ser demonstrado de maneira insofismável, através dos padrões conhecidos e aceitos, criaria grandes embaraços à divulgação das informações espirituais, caso não tentasse levá-las ao ridículo…  

André: Para que região devemos, nós, a seu ver, conduzir a pesquisa científica na Terra, de vez que a conquista da paisagem material de outros planetas não adiantará muito ao progresso moral das criaturas?

Delanne: Devemos estimular os estudos em torno da matéria e da reencarnação, analisar o reino maravilhoso da mente e situar no exercício da mediunidade as obras da fraternidade, da orientação, do consolo e do alívio às múltiplas enfermidades das criaturas terrestres...

Divaldo: Considerando-se a situação deplorável em que se debate o ser humano atual rico de ciência e de tecnologia, mas vazio dos sentimentos elevados de amor, vitimado pela violência de todo porte e pelos tormentos da emoção, as pesquisas científicas na Terra, iluminadas pelo Espiritismo, devem ser canalizadas, neste momento, para a dignificação desse indivíduo e da sua transformação moral para melhor. Com os equipamentos do amor e da autoconsciência, ele será iluminado e pacificado, avançando no rumo da plenitude, sem conflitos internos nem alucinações de dominação do seu próximo e do mundo. 

André: Que mais?

Delanne: Velar pelas atividades que possam, na realidade, melhorar a individualidade por dentro...

Divaldo: A solução de qualquer problema humano encontra-se ínsita no próprio ser humano. Trabalhar em favor do autodescobrimento, conforme a resposta que os Espíritos venerandos deram a Kardec, e que se encontra na questão 919 de O Livro dos Espíritos, é a mais compatível com a necessidade da sua evolução. 

André: Onde os percalços maiores para a expansão da Doutrina Espírita?

Delanne: Em nossa opinião, os maiores embaraços para o Espiritismo procedem da atuação daqueles que reencarnam, prometendo servi-lo, seja através da mediunidade direta ou da mediunidade indireta, no campo da inspiração e da inteligência, e se transviam nas seduções da esfera física, convertendo-se em médiuns autênticos das regiões inferiores, de vez que não negam as verdades do Espiritismo, mas estão prontos a ridicularizá-las, através de escritos sarcásticos ou da arte histriônica, junto dos quais encontramos as demonstrações fenomênicas improdutivas, as histórias fantásticas, o anedotário deprimente e os filmes de terror...

Divaldo: Ademais desses médiuns que voluntariamente se deixam dominar pelas interferências da Entidades perversas, também encontramos aqueloutros que prometem servir ao Espiritismo, porém deste se servem, a fim de projetar a imagem, acreditando-se missionários e apóstolos da Nova Era, sem a superação das próprias imperfeições, sempre hábeis na crítica aos seus companheiros, enquanto, fátuos, seguem descuidados da vigilância em torno das necessidades espirituais de que são portadores. 

André: Como vê semelhantes deformações?

Delanne: Os milhões de Espíritos inferiores que cercam a Humanidade possuem seus médiuns. Impossível negar isso.

Divaldo: Acreditando-se poderosos, esses Espíritos infelizes utilizam-se das imperfeições que tipificam as criaturas humanas, interferindo na sua conduta moral, ampliando-lhes a sensibilidade perturbadora e desenvolvendo-lhes os sentimentos mesquinhos, que lhes estimulam posturas e opiniões esdrúxulas, a desserviço do ideal espírita. Ademais, essas entidades acreditando-se inimigas de Jesus-Cristo, ante a impossibilidade de obstar-lhe o sublime ministério, voltam-se contra aqueles que se encontram em atividade e que pretendem servi-lo, gerando situações desagradáveis. 

André: De que modo vencer no labirinto gigantesco em que opera a influência das sombras?

Delanne: Educando...

Divaldo: O próprio Mestre Jesus deu-nos a receita sublime: Necessário que morra o homem velho, a fim de que nasça o homem novo. E isto somente é possível pela educação, mas não a educação que se adquire através dos livros, mas aquela de natureza moral, a que tem a ver com a transformação interior para melhor, conforme os comentários do egrégio Codificador à questão 685-a, inserta em O Livro dos Espíritos. 

André: Como?

Delanne: Explicando-se, tanto nos sistemas religiosos do Ocidente, quanto nos do Oriente, que a pessoa humana em qualquer lugar e em qualquer tempo somente possui o que ela fez de si própria...

Divaldo: Autor do próprio destino, o Espírito é aquilo que de si mesmo faz. Desse modo, permitindo que o pensamento espírita lhe comande a existência, torna-se dócil ao comando do seu Guia espiritual, aplicando todo o esforço para ser sempre melhor e mais digno. 

André: Exprimindo-se desse modo, refere-se à necessidade da divulgação da Doutrina Espírita?

Delanne: Sim.

Divaldo: O Espiritismo é o mais avançado sistema educacional de que se tem notícia. Os seus conteúdos têm resistido a todas as mudanças culturais e tecnológicas que vêm atravessando os últimos 15 decênios, estando à frente das mais avançadas conquistas contemporâneas, porque tem a ver com todos os ramos das ciências, porquanto lhes estuda as causas, enquanto que estas estudam os seus efeitos. 

André: Mas, segundo o seu conceito, a divulgação terá de efetuar-se de pessoa a pessoa. Teremos entendido certo?

Delanne: Sim, de pessoa a pessoa, de consciência a consciência. A verdade a ninguém atinge através da compulsão. A verdade para a alma é semelhante à alfabetização para o cérebro. Um sábio por mais sábio não consegue aprender a ler por nós.

Divaldo: A conquista da iluminação interior é impostergável, a fim de que todo aquele que pretende trabalhar em favor do esclarecimento do seu próximo encontre-se amparado pela própria sabedoria. Por isso é que o Espiritismo não impõe os seus postulados, expondo-os a quem deseje a aquisição da felicidade. 

André: Não considerará, porém, que esse processo é moroso demais para a Humanidade?

Delanne: Uma obra-prima de arte exige, por vezes, existências e existências para o artista que persegue a condição do gênio. Como acreditar que o esclarecimento ou o aprimoramento do espírito imortal se faça tão-só por afirmações labiais de alguns dias?

Divaldo: Devemos ter em mente que o importante não é o tempo aplicado nessa realização superior, mas os efeitos permanentes que advirão do seu logro. Iniciá-lo agora, a fim de que seja concluído no momento próprio, é o dever consciente de todos nós que almejamos a paz interior e a conquista do Reino dos Céus. 

André: Que advertência nos dá para a vitória de nosso esforço modesto na seara espírita?

Delanne: Compreender que esperança é sinônimo de paciência, estudando e servindo sempre, na certeza de que, se a eternidade é a nossa divina herança, cada dia é um tesouro de recursos infinitos que não podemos desprezar.

Divaldo: O trabalho incessante em torno da própria transformação moral é dever de imediata aplicação, de modo que o nosso próximo, observando o nosso esforço, sinta-se estimulado a trabalhar-se igualmente, constatando a excelência das propostas espíritas encarregadas da libertação espiritual dos indivíduos.


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