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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 18 - 15 de Agosto de 2007

MARCELO HENRIQUE PEREIRA
cellosc@floripa.com.br
Florianópolis, Santa Catarina (Brasil)

Espiritismo e Jogos Pan-Americanos

O título deste ensaio, por si só, deve provocar uma reação de surpresa e dúvida por parte do leitor. Afinal, qual é a relação que existe entre a Doutrina Espírita e um dos maiores eventos esportivos do mundo contemporâneo, sobretudo para os países latino-americanos?

Introdutoriamente, assim, pode-se afirmar que qualquer situação humano-espiritual está ao alcance da consideração espiritista, sem que tenhamos a intenção de justificar ou referendar as atitudes humanas, mas, pelo contrário, a proposta é aproveitar as diversificadas situações da vida material, como mote para as apreciações (oportunas) dos fatos à luz do Espiritismo.

Os Jogos Pan-Americanos são uma espécie de versão simplificada dos Jogos Olímpicos (ou Olimpíadas), evento que ocorre de quatro em quatro anos, desde 1951, entre agremiações esportivas de diversas modalidades (cada vez mais amplas) que representam a bandeira e as cores dos países que dela participam (conforme critérios de acessibilidade em competições prévias – de caráter eliminatório). A realização é considerada a segunda competição poliesportiva mais importante do mundo, atrás, justamente, das Olimpíadas Por detrás da prática desportiva (que envolve pessoas que a exercem com ânimo profissional – atletas, dirigentes e árbitros) –, há, com certeza, diversos fatores, entre os quais, citamos, exemplificativamente, os de cunho geopolítico, econômico e social, que podem ser determinantes para a polarização dos interesses do público que comparece (preferencialmente) aos jogos, tanto quanto para aqueles que, mesmo situados nos lugares mais longínquos, acompanham, pelos meios de comunicação, as partidas. É a segunda vez que o Brasil sedia a competição, já que, em 1963, a cidade de São Paulo foi a escolhida.

Os jogos são, portanto, uma grande festa, marcada substancialmente pela pluralidade cultural e étnica, onde desfilam caracteres e expressões que contemplam povos, raças e gerações, numa indizível miscigenação. Guardadas as devidas proporções, tem-se que, em regra, mesmo com as dicotomias da linguagem articulada (idioma) e gráfica, as pessoas conseguem se comunicar, se entender e se respeitar. Excetuando-se, é claro, alguns seres que ainda estagiam em níveis psicológicos de perturbação e violência, pode-se afirmar, com tranqüilidade, que a acirrada competição nos gramados, calcada na disputa pela vitória, superando adversários, não se estende para as arquibancadas, pois a “ficção” que é representada pelos embates esportivos não corresponde, na vida “real”, à aniquilação de uns por parte de outros (permita-nos o leitor que nos antecipemos em dizer que, apesar da existência, no presente ou em tempos idos, de governantes tiranos, déspotas e beligerantes, aqueles que, inclusive, dizimaram ou tentam dizimar seus “opositores”, a imensa maioria dos povos prefere a convivência pacífica e harmoniosa).

Sob a ótica espírita, então, como pode ser encarado (e interpretado, mesmo que por analogia) o acontecimento em tela? Vamos, pois, aos elementos que, em nossa visão e análise, merecem destaque e digressão.

Primeiramente, o esporte (e tudo aquilo que com ele se relaciona – patrocínios, comunicação, tecnologia, alimentação, hospedagem, lazer, comércio, etc.) – configura a dedicação e o interesse (direto ou indireto) de Espíritos encarnados nas ocupações materiais da vida, o que recebe o título conceitual de trabalho. Emmanuel, num de seus oportunos escritos, certa feita, já havia afirmado: “Toda ocupação útil é trabalho”. Neste sentido, complementarmente, a vitória no competitório, representada pelas medalhas, materializa a conjugação de esforços (individuais e coletivos) para tal intento e, nesta acepção, pode-se dizer que “ganhou o mais capaz”, isto é, aquele que mais trabalhou (para tal desiderato).

A competição esportiva, por extensão, é regida por regras (rígidas) que contemplam a punição aos faltosos (arbitragem, exames de “antidoping”, suspensão e/ou exclusão de participantes), seja pela atuação (direta e imediata) dos árbitros, seja posteriormente a cada jogo, por análises e deliberações de órgãos colegiados. Aqui, uma verossímil semelhança com a sistemática da Justiça Divina, que, a partir de um sistema de compensação (ação e reação), determina a forma pela qual os seres saldam seus débitos e restituem possíveis prejuízos causados. Não é necessária, assim, a presença de um Tribunal Espiritual, pois o próprio ser é o juiz de si mesmo. A principal distinção entre as avaliações do esporte e os atos judiciais espirituais é que, no âmbito destes últimos, não existem “injustiças” nem os erros comuns ao nível humano e suas imperfeições.

Em segundo plano, o objetivo da competição é a vitória, que representa a adoção da melhor estratégia, com os recursos disponíveis, frente aos distintos desafios que constituem a competição, desde as fases iniciais, passando pelas eliminatórias, até chegar à final. Assim também o é em relação às lutas e embates do cotidiano humano-espiritual, quando cada indivíduo adota estratégias, programa-se para o futuro, reúne credenciais e qualificações para superar suas limitações e “ser o melhor”. A vitória é, assim, do ponto de vista espiritual, uma conquista, e não obra do acaso, da sorte, ou da “conspiração (a favor) dos deuses”. Se, no caso do esporte, um lance casual, uma infelicidade de algum atleta, ou um erro humano podem determinar um resultado, na vida, a equação merecimento-competência-trabalho parece ser a mais adequada para representar o conjunto da trajetória exitosa de todos os Espíritos, uns mais rapidamente do que outros, é bem verdade.

No cenário da vitória, deve ficar evidente que a ambição não assume contornos de vaidade e egoísmo, ou de prepotência e arrogância – tão comuns no esporte – mas, em verdade, devem sobressair aspectos relacionados ao desenvolvimento de virtudes como a perseverança, a dedicação, o comprometimento e a participação efetiva daqueles que desejam vencer. No plano ideal da existência espiritual, deve o ser alegrar-se com o sucesso, mas, ao contrário das manifestações materiais, a alegria do companheiro (e, até, do adversário) é compartilhada mesmo pelos “derrotados”, pois todos, indistintamente, mais dia menos dia, alcançarão os objetivos finalísticos.

Outro ponto a salientar – principalmente nos últimos tempos – é a questão do ‘‘fair play”, isto é, a solidariedade, o “jogo leal”, que principia por pequenos gestos, na competição, interrompendo-a sempre que haja um atleta contundido (machucado), para que este seja atendido, assim como, em dadas situações, os adversários se desculpem em virtude de alguma jogada mais ríspida, nos esportes em que haja contato físico. Esta deve ser, em essência, a tônica dos relacionamentos humanos, e passa a ser rotina quando o ser desperta para certas necessidades e passa a tratar o semelhante do mesmo modo como deseja ser, por ele, tratado. Isto, fundamentalmente, diferencia os seres entre si, de modo que a assunção de uma postura pró-ativa, solidária e construtiva, causa reações nos circunstantes, provocando, nestes últimos, a oportuna reflexão que impele à mudança.

Temos presente, neste peculiar, que, principiando por fazer o bem àqueles que, também, favoravelmente nos tratam – aquilo que a lição evangélica identifica como o amor aos parentes e seres mais próximos de nós – evolui para a consideração dos outros seres que nos rodeiam, até alcançar os que se comportam ou se dizem nossos inimigos: adversários de ontem ou de hoje, que estagiam conosco no aprendizado de todos os dias.

Por fim, ainda que num exercício de ufanismo (ou utopia), resta-nos considerar que o verdadeiro congraçamento entre atletas e torcedores pelos ginásios, canchas ou estádios dos Jogos Pan-Americanos, sejam representativos de uma futura atmosfera de total entendimento entre os seres que, mais despertos para as realidades espirituais, possam envidar todos os esforços no sentido da compreensão do semelhante, da harmonia entre indivíduos e povos, numa festejada fraternidade.

Quem sabe um dia, o exemplo do esporte esteja estampado no cotidiano de nossas vidas!
 

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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita