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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 14 - 18 de Julho de 2007

JOSÉ CARLOS MONTEIRO DE MOURA
jcarlosmoura@terra.com.br
Belo Horizonte, Minas Gerais (Brasil)
 

Santos e milagres

A recente canonização de Frei Galvão fez renascer, entre alguns confrades, o caráter milagreiro que, desavisadamente, insistem em atribuir ao Espiritismo, sobretudo no que se refere às chamadas curas espirituais. Tais curas, popularmente tidas como milagres, têm sido, ao longo dos tempos, a maior atração de quase todos os credos religiosos. O Espiritismo, mais do que qualquer outro segmento religioso, não escapa do problema, que nele assume aspectos de muito maior relevância, em face da mediunidade de cura, comum na maioria das Casas Espíritas. Ouve-se, constantemente, a queixa dos dirigentes quanto ao pouco interesse pelas reuniões de estudos, e que a sua  freqüência depende, na maioria das vezes, do passe que se segue ao seu encerramento e da  água fluidificada que nenhum freqüentador dispensa.

Não obstante, as sessões de tratamento e de cura ficam superlotadas, o que tem levado muitos dirigentes de boa-fé a transformar as casas espíritas em autênticos hospitais de curas impossíveis.

Não se trata de fenômeno novo. Ele acompanha o Cristianismo desde a época em que Jesus esteve na terra. A multidão que o seguia era composta de toda sorte de sofredores, em que se destacavam os leprosos, cegos, aleijados, obsidiados etc., ansiosos de se verem livres de seus males.

Para a Igreja, os milagres sempre foram privilégio de alguns não menos privilegiados de seus membros, que gozam de favores especiais junto a Deus. Ainda hoje, ela sustenta que aquele que se situa fora desse grupo não tem o direito de curar e nem sequer de amenizar o sofrimento alheio, porquanto age sempre sob a inspiração de “satanás e de outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas” (oração de São Miguel Arcanjo).

Isso, contudo, jamais impediu o aumento sempre crescente dos curadores e de sua  sofrida clientela.  O êxito no tratamento de moléstias tidas como irreversíveis pela ciência oficial sempre despertou e ainda desperta a curiosidade e o interesse do homem, que, incapaz de explicá-lo à luz de seu conhecimento, apelou e apela para o extraordinário e para o sobrenatural.    

Assim pensa a Igreja em face da questão. Para ela, esses fatos se definem como milagres porque são cientificamente inexplicáveis, nos termos dos pronunciamentos dos médicos e consultores da Congregação dos Santos. Foi esse, por exemplo, o motivo que determinou a sanção do processo de beatificação, e posterior canonização, do monsenhor Josémaria Escrivá de Balaguer, o fanático criador da perniciosa Opus Deis. A ele foi imputada a "cura cientificamente inexplicável” – nos termos do parecer dos médicos e consultores da Congregação dos Santos – de um câncer no estômago da carmelita espanhola Concepción Bollón Rubio. 

O Espiritismo não participa desse ponto de vista, por não consagrar o milagre, de acordo com o entendimento geralmente admitido pelas igrejas cristãs em geral. Sobre o tema, assim se pronuncia Kardec (“A Gênese”, cap. XIII, nº. 1): Um dos caracteres do milagre propriamente dito é o ser inexplicável, por isso mesmo que se realiza com exclusão das leis naturais. É tanto essa a idéia que se lhe associa, que, se um fato milagroso vem a encontrar explicação, se diz que já não constitui milagre, por muito espantoso que seja. O que, para a Igreja, dá valor aos milagres é, precisamente,  a origem sobrenatural deles e a impossibilidade de serem explicados. Ela se firmou tão bem sobre esse ponto, que o assimilarem-se os milagres aos fenômenos da natureza constitui para ela uma heresia, um atentado contra a fé, tanto assim que excomungou e até queimou muita gente por não ter querido crer em certos  milagres”.

O chamado milagre é, em face da imutabilidade das leis divinas, um acontecimento natural, efeito ou conseqüência dessas mesmas leis, não obstante o desconhecimento ou a ignorância que ainda as envolve no campo científico. A aliança da ciência com a religião, tarefa que o Espiritismo se acha empenhado em realizar, irá esclarecer, a seu tempo, o mistério de que se cercam as milagrosas curas que desafiam a argúcia dos sábios e prudentes da narrativa evangélica.

As curas decorrentes das sessões de tratamento espiritual, que muitas vezes fazem parte das atividades habituais de um Centro Espírita, nada mais são do que uma forma de exercício da caridade, das muitas que as diferentes instituições podem e devem realizar. Neste caso, o bom senso e a prudência são os dois remédios fundamentais para evitar que o Centro se deixe levar pelo arrastão curador, que, uma vez implantado, poderá servir de fator de desmoralização da Doutrina e do Movimento. Tanto os dirigentes como o médium curador não podem se esquecer de que somente serão atendidos pela Espiritualidade os que se fizerem merecedores desse atendimento, em face da lei de causa e efeito, traduzida por Jesus no “a cada  um será dado de acordo com o seu merecimento”.  Por outro lado, as curas não se operam quando interferem no programa de reajuste, de expiação ou de provas previamente escolhido ou compulsoriamente estabelecido para o portador da enfermidade ou da deficiência física.   

Por isso, é inteiramente incompatível com a própria natureza do Espiritismo a existência de santos e milagres em seu seio, para a lamentável frustração de muitos de seus adeptos, que se empenham, infantilmente, na santificação de André Luiz, Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Joanna de Ângelis etc. e de seus respectivos médiuns.


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita