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Especial
Ano 1 - N° 1 - 18 de Abril de 2007
 

Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo

  O Livro dos Espíritos, obra principal que marcou o surgimentos do Espiritismo moderno.

150 anos de Doutrina Espírita  

ASTOLFO OLEGÁRIO DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

“O Livro dos Espíritos”, obra principal do Espiritismo, completa nesta data – 18 de abril de 2007 - 150 anos de existência. Essa é a razão deste artigo, que publicamos trinta anos atrás na Folha de Londrina, abrindo uma série de seis longos estudos em que buscamos mostrar uma parte da história do Espiritismo e seu arcabouço filosófico.
Na Folha, os artigos ocuparam página inteira e foram publicados no período de 24 a 30 de abril de 1977, quando então se comemorava o aniversário de 120 anos d´O Livro dos Espíritos.

 ANTECEDENTES HISTÓRICOS

 Em princípios de 1857 entravam para o prelo da Livraria Dentu, no Palácio Real, em Paris, os originais da obra que seria o marco do Espiritismo moderno. Depois de vários trabalhos de revisão e melhoramentos, finalmente ela era dada à luz. A primeira edição, de grande valor histórico para os seguidores e simpatizantes da Doutrina Espírita, apareceu em formato grande, com 176 páginas e 501 perguntas, sendo o assunto distribuído em duas colunas por página, uma destinada às perguntas, outra às respostas. A matéria do livro estava dividida em três partes: “Doutrina Espírita”, “Leis Morais” e “Esperanças e Consolações”. No momento de publicá-lo, o autor ficou embaraçado em resolver como o assinaria, se com seu nome civil – Hippolyte Léon Denizard Rivail – ou se com um pseudônimo. Seu biógrafo, Henri Sausse, informa que o professor Rivail, sendo muito conhecido do mundo científico em virtude de trabalhos anteriormente publicados, e podendo com isso causar confusão e talvez até mesmo prejudicar o êxito do empreendimento, decidiu assiná-la com o nome de Allan Kardec, que ele tivera anteriormente numa encarnação como sacerdote druida, entre os celtas. Esse pseudônimo seria conservado nas publicações de outras obras espíritas e se popularizaria no mundo inteiro.

A obra alcançou um êxito surpreendente, tanto que o cronista francês G. du Chalard, num artigo publicado em 11 de junho de 1857 no “Courier de Paris”, escrevia, entre outras coisas:

‘O Livro dos Espíritos’, do Sr. Allan Kardec, é uma página nova do grande livro do infinito, e estamos convencidos de que essa página será assinalada. A todos os deserdados da Terra, a todos quantos avançam ou caem, regando com as lágrimas o pó da estrada, diremos: Lede ‘O Livro dos Espíritos’; ele vos tornará mais fortes. Também aos felizes, aos que em seu caminho só encontram as aclamações e os sorrisos da fortuna, diremos: Estudai-o, e ele vos tornará melhores”.

A primeira edição imediatamente se esgotou. A obra foi reeditada em março de 1860, revista, corrigida e bem ampliada. O livro passou a contar, então, com 1.019 perguntas e respostas, que permanecem até os nossos dias. Conquanto Allan Kardec repetisse que o mérito da obra cabia todo aos Espíritos que o ditaram, é inegável que a ele é que coube a ingente tarefa de organizar e ordenar as perguntas sobre os mais variados assuntos, que vão desde o mais simples aos mais complexos problemas do conhecimento humano. A Allan Kardec se devem ainda a distribuição didática das matérias contidas no texto, a redação dos comentários feitos às respostas dos Espíritos, geralmente expostos com clareza e concisão, a precisão com que intitulou os capítulos e os subcapítulos, as elucidações complementares, as notas e observações que encontramos seguidamente na obra, e por fim a matéria contida na “Introdução” e na “Conclusão”, que por si sós constituem o perfil do Espiritismo, sua natureza, seu objetivo e suas finalidades. 

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO 

“O Livro dos Espíritos” marca realmente o surgimento do Espiritismo moderno. Em diversos autores encontramos tal afirmação, a começar pela biografia de Allan Kardec publicada na “Revista Espírita” em maio de 1869, dois meses após a desencarnação daquele que é considerado o Codificador do Espiritismo. Transcrevemos daquela publicação os trechos a seguir:

“Durante os primeiros anos em que se tratou de fenômenos espíritas, estes constituíram antes objeto de curiosidade do que de meditações sérias. ‘O Livro dos Espíritos’ fez com que o assunto fosse considerado sob aspecto muito diverso. Abandonaram-se as mesas girantes, que tinham sido apenas um prelúdio, e começou-se a atentar na doutrina, que abrange todas as questões de interesse para a humanidade. Data do aparecimento de ‘O Livro dos Espíritos’ a fundação do Espiritismo que, até então, só contara com elementos esparsos, sem coordenação e cujo alcance nem toda gente pudera apreender. A partir daquele momento a doutrina prendeu a atenção de homens sérios e tomou rápido desenvolvimento. Em poucos anos aquelas idéias conquistaram inúmeros aderentes em todas as camadas sociais e em todos os países. Esse êxito sem precedentes decorreu sem dúvida da simpatia que tais idéias despertaram, mas também é devido, em grande parte, à clareza com que foram expostas e que é um dos característicos dos escritos de Allan Kardec”.

O próprio autor de “O Livro dos Espíritos” escreveria, dez anos após a primeira publicação: “‘O Livro dos Espíritos’ só teve consolidado o seu crédito por ser a expressão de um pensamento coletivo, geral. Em abril de 1867 completou o seu primeiro período decenal. Nesse intervalo, os princípios fundamentais, cujas bases ele assentara, foram sucessivamente completados e desenvolvidos, por virtude da progressividade do ensino dos Espíritos. Nenhum, porém, recebeu desmentido da experiência; todos, sem exceção, permaneceram de pé, mais vivazes do que nunca, enquanto que, de todas as idéias contraditórias que alguns tentaram fazer-lhe, nenhuma prevaleceu, precisamente porque, de todos os lados, era ensinado o contrário. Este o resultado característico que podemos proclamar sem vaidade, pois que jamais nos atribuímos o mérito de tal fato”. (Introdução à 1a edição de “A Gênese”, publicada em janeiro de 1868.)

Alicerce da Doutrina Espírita, a obra em apreço dá as diretrizes, o delineamento da estrutura doutrinária, o verdadeiro arcabouço filosófico dessa ciência. Esse aspecto é interessante notar, mormente para os leitores que não se aprofundaram no conhecimento dessa ciência.

Um conhecido escritor espírita, o professor J. Herculano Pires, tradutor para nossa língua da edição de “O Livro dos Espíritos” publicada pela LAKE – Livraria Allan Kardec Editora, assim se expressou no prefácio à edição comemorativa do primeiro centenário da obra, dada a lume em 18 de abril de 1957:

´O Livro dos Espíritos’ não é apenas a pedra fundamental ou o marco inicial da nova codificação, porque é o seu próprio delineamento, o seu núcleo central e ao mesmo tempo o arcabouço geral da doutrina. Examinando-o, em relação às demais obras de Kardec, que completam a codificação, verificamos que todas essas obras partem do seu conteúdo. Podemos definir as várias zonas do texto, correspondentes a cada uma delas. Assim, como na Bíblia, há o núcleo central do Pentateuco, e no Evangelho o do ensino moral do Cristo, em ‘O Livro dos Espíritos’ podemos encontrar uma parte que se refere a ele mesmo, ao seu próprio conteúdo: é o constante dos Livros I e II até o capítulo quinto. Esse núcleo representa dentro da esquematização geral da codificação, que encontramos no livro, a parte que a ele corresponde. Quanto aos demais, verificamos o seguinte:

1º) O Livro dos Médiuns, seqüência natural deste livro, que trata especialmente da parte experimental da doutrina, tem a sua fonte no Livro II, a partir do capítulo sexto até o final. Toda a matéria contida nessa parte é reorganizada e ampliada naquele livro, principalmente a referente ao capítulo nono: ‘Intervenção dos Espíritos no mundo corpóreo’.

2º) O Evangelho segundo o Espiritismo é uma decorrência natural do Livro III, em que são estudadas as leis morais, tratando-se especialmente da aplicação dos princípios da moral evangélica, bem como os problemas religiosos da adoração, da prece e da prática da caridade. Nessa parte, o leitor encontrará, inclusive, as primeiras formas de ‘Instruções dos Espíritos’, comuns àquele livro, com a transcrição de comunicações por extenso e assinadas, sobre questões evangélicas.

3º) O Céu e o Inferno decorre do Livro IV, ‘Esperanças e Consolações’, em que são estudados os problemas referentes às penas e aos gozos terrenos e futuros, inclusive com a discussão do dogma das penas eternas e a análise de outros dogmas, como o da ressurreição da carne e os do paraíso, inferno e purgatório.

4º) A Gênese, os Milagres e as Predições relaciona-se aos capítulos II, III e IV do Livro I, e capítulos IX, X e XI do Livro II, assim como a partes dos capítulos do Livro III que tratam dos problemas genésicos e da evolução física da Terra. Por seu sentido amplo, que abrange ao mesmo tempo as questões da formação e do desenvolvimento do globo terreno e as referentes a passagens evangélicas e escriturísticas, esse livro da codificação se ramifica de maneira mais difusa que os outros, na estrutura da obra-mater”. (Prefácio à edição do Centenário de “O Livro dos Espíritos, LAKE, em 18.4.1957.)

Examinada, sob uma forma muito geral, a estrutura de “O Livro dos Espíritos”, não se pode desprezar o fato de que os Espíritos ressaltam freqüentemente estar atualíssimo “O Livro dos Espíritos” em face dos conhecimentos atuais, apesar de ter sido escrito há 150 anos. O mesmo autor acima referido, J. Herculano Pires, expenderia, em 1975, as seguintes observações: “Desde 1857, quando foi publicado ‘O Livro dos Espíritos’, até hoje, nenhum dos princípios do Espiritismo foi desmentido pela Ciência ou pela Filosofia. Pelo contrário, todos eles têm sido sistematicamente confirmados por ambas. Quanto à Religião, nunca teve condições de contradizer o Espiritismo de maneira positiva, tentando assim fazê-lo de maneira autoritária ou dogmática, sempre no interesse particular dos princípios de cada seita. Hoje o avanço das Ciências e da Filosofia confirma de maneira inegável e impressionante a legitimidade da Doutrina Espírita. As descobertas mais recentes da Parapsicologia, da Física, da Biologia nada mais fazem do que comprovar a verdade dos princípios espíritas, sem que os investigadores tivessem essa intenção. Até mesmo quando pensam haver negado o Espiritismo, os investigadores, sem o saber, o estão comprovando. Isso prova a solidez da obra de Kardec”. (“A Pedra e o Joio”, Ed. Cairbar, 1ª edição, 1975, pág. 8.) 

ARCABOUÇO FILOSÓFICO DO ESPIRITISMO 

Sendo o compêndio dos ensinamentos trazidos pelos Espíritos Superiores, deveria “O Livro dos Espíritos” apresentar os fundamentos, as bases da filosofia espírita. E, sem dúvida, ele os apresenta, atentos aos seguintes pontos básicos da Doutrina Espírita:

1º) Crença na existência de Deus, apresentando-o como o Criador Supremo e a causa primária de tudo o que existe. Sem preocupação de limitar ou restringir seu conceito sobre o Criador Supremo, nem de apresentá-lo com os vícios próprios do antropomorfismo, os Espíritos O apresentam como sendo a inteligência suprema e enumeram alguns de seus atributos, a saber: eterno, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, onisciente, soberanamente justo e bom. Mas o assunto não se esgota aí, pois a obra analisa amplamente as várias correntes do pensamento filosófico que trataram do tema e discute as provas de sua existência.

2º) Ensino da existência e imortalidade da alma, definindo esta como sendo um Espírito encarnado, do qual o corpo físico não é mais do que um invólucro. Trata da natureza do homem, informando que há nele três elementos: o corpo, ou ser material semelhante ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital; a alma, ou ser imaterial, que sobrevive à morte do corpo, e finalmente o laço que une a alma ao corpo, de natureza semimaterial, que o Espiritismo denominou perispírito. Pela primeira vez a alma era examinada experimentalmente, sendo sua imortalidade não o fruto de uma teoria preconcebida, mas o resultado da própria manifestação dos seres espirituais, que, após o fenômeno da morte, vinham dar o testemunho de sua sobrevivência.

3º) Ensino da lei de reencarnação, ou doutrina da pluralidade das existências, que justificaria, segundo os Espíritos, a marcha ascensional do progresso. Todos os Espíritos se melhoram, devendo assim passar pelos diferentes graus de hierarquia espiritual. Mas esse melhoramento se verificará pela encarnação do Espírito nos mundos corporais. Essa passagem pela vida material, que a uns é imposta como uma expiação e a outros como prova ou missão, é uma espécie de depurador de que os Espíritos saem mais ou menos purificados. Deixando o corpo, a alma volta ao mundo dos Espíritos, que é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.

É interessante notar que o Espiritismo não aceita a antiqüíssima teoria da Metempsicose, divulgada pela Escola Pitagórica. O Espiritismo assevera que a encarnação dos Espíritos verifica-se sempre na espécie humana, sendo erro acreditar que a alma ou espírito possa encarnar-se num corpo animal. As diferentes existências corporais do Espírito são sempre progressivas e jamais retrógradas, dependendo a rapidez de seu progresso dos esforços que faz por chegar à perfeição. Assim sendo, as qualidades da alma são as do espírito, o que significa dizer que o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito, ao passo que o homem perverso é a encarnação de um Espírito impuro. No mesmo passo, as inclinações, as tendências, as predisposições inatas se originam do conhecimento anteriormente adquirido pelo Espírito, em precedentes encarnações.

4º) Ensino sobre a pluralidade dos mundos habitados, um corolário da multiplicidade das encarnações do Espírito, visto que os mundos também estão submetidos à lei do progresso e servem de estágios de evolução, como as escolas servem de aprendizado nas várias fases de formação do homem. Nosso planeta não seria, segundo o ensino espírita, nem o mais adiantado nem o mais atrasado dos mundos habitados que rolam pelos espaços infinitos. A Terra seria o que os Espíritos denominaram planeta de provas e expiações, onde o mal ainda predomina, mas dará lugar, muito breve, ao império do bem. Assim como foi um planeta primitivo em seus primórdios, ela será um dia um mundo feliz, graças à regeneração e melhoramento moral de seus habitantes, através das vidas sucessivas.

5º) Por fim, a lei de comunicabilidade dos Espíritos com o mundo corporal, que o Espiritismo apresenta como um de seus mais importantes aspectos, do ponto de vista da comprovação de seus ensinos.

A mediunidade, faculdade que permite ao homem servir de intermediário aos Espíritos desencarnados, é exaustivamente analisada na obra “O Livro dos Espíritos” e naquela que lhe complementa esses ensinos, “O Livro dos Médiuns”, publicada em 1861. Apresentando os variados tipos de fenômenos que podem resultar desse intercâmbio entre os dois mundos, informa a Doutrina Espírita os matizes da influência que os seres desencarnados exercem sobre todos nós, através do pensamento e da inspiração.

A mediunidade é para o Espiritismo o que o telescópio significa para a Astronomia e o microscópio para a Biologia, na comparação de Allan Kardec. Toda uma literatura espírita surgiu mediante esse processo, destacando-se as obras psicografadas no Brasil pelo médium Francisco Cândido Xavier, dentre as quais uma serviria de tema para a apreciada novela de televisão, “A Viagem”, de Ivani Ribeiro.

Tudo isso é assunto, é o tema, é a preocupação de “O Livro dos Espíritos”, que trataria também da questão moral, afirmando que a moral dos Espíritos Superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: “Fazer aos outros o que queremos que os outros nos façam”, ou seja, fazer o bem e não fazer o mal.

Nesse princípio – ensinam eles – o homem encontrará sempre a regra universal de conduta, nas grandes como nas pequeninas ações, e será justamente a aplicação dessa máxima que fará com que o reino do bem se instale um dia na Terra, conforme assinala a última questão da obra.

 

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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita